De repente, as trincheiras abrem-se, mais uma vez, aos nossos pés. E perguntamo-nos: "Mas porquê? Eu não fiz mal a ninguém..."
Tudo parece um ataque endoidecido, de um inimigo "externo".
Um comando ataca um jornal humorista em Paris e, sem qualquer julgamento, mata 12 pessoas e fere gravemente 10 outras. O brutal assassinato, coordenado com outro comando que mata sem julgamento uma polícia e faz uma tomada de reféns num supermercado judeu em Paris, mobiliza a policia e as forças armadas. Passadas horas, as forças da ordem intervêm. Resultado: a morte sem julgamento dos 3 comandos, de 4 reféns, ficando outros 4 em estado crítico.
Justificação:
"Estamos em guerra, estamos a ser atacados". E é verdade.
Justificação: Os comandos responderiam: "Estamos em guerra, estamos a ser atacados". E é verdade. Há muito tempo. E recapitulariam o filme das intervenções ocidentais no Médio Oriente, durante muitas décadas. Até poderiam começar apenas no século XX...
com a desestabilização da Pérsia, através de um golpe de Estado financiado pelas companhias petrolíferas internacionais, colocando no poder um Xá ocidentalizado e moderno - mesmo para as mulheres. Tudo após uma política de nacionalização de recursos naturais, lançado em nome de uma política de desenvolvimento da região. Algo que influenciou a revolução islâmica em 1978 até aos nossos dias. Um golpe replicado pela intervenção militar no Iraque em 2003, sob o pretexto do ataque a Nova Iorque e da existência nunca provada de armas de destruição maciça;
com a desastabilização do Líbano, com intervenção militar por diversas vezes de forças dos países ocidentais (1958 e 1982, por exemplo), invasão israelita do sul, ficando claro o apoio a milícias de direita que, quando o seu líder foi assassinado, foram os autores dos massacres de Damour, de Sabra e Shatila, e culminando com um bombardeamento em 1984, que antecedeu a retirada ocidental e a expulsão dos palenstinos. O Líbano continuou a ser desestabilizado já no século XXI;
com as interferências no Egipto desde que quis desenvolver uma política de desenvolvimento, sem o apoio ocidental (que lhe retirara apoio à construção da barragem do Assuão), o que levou à nacionalização do Canal do Suez em 1956 e posterior intervenção militar britânica e francesa, enquanto Israel ocupava os montes Sinai;
com o financiamento ocidental a radicais islâmicos para combater soviéticos no Afeganistão, para depois perder o controlo do uso dessas armas e do seu poderio regional;
replicado esta estratégia pragmática na Síria, para combater o regime tido como peão do Irão, em nome do direito universal à democracia, em apoio a uma rebelião popular;
na faixa de Gaza
terminando com o apoio ocidental a Israel na ocupação de zonas palestinas, através da sua política de progressivos colonatos e de muros, fomentado sentimentos de impotência e frustração nas populações palestinas, de asfixia regional, sem que o Ocidente reconheça o seu Estado nas Nações Unidas;
e mais recentemente culminando com a morte sem julgamento na faixa de Gaza de mais 3 mil pessoas, nomeadamente por bombardeamento aéreo, justificado com o argumento de serem escudos humanos de forças terroristas que atacavam Israel e legitimado pelo Ocidente como legítima defesa.
O radicalismo só pode gerar radicalismo. E a guerra é algo atroz. Mata-se sem julgamento, sem necessidade de reintroduzir a pena de morte, como reivindicou Marie Le Pen, após o caso Charlie Hebdo.
Mas todas as mortes são crimes à luz dos direitos universais. Já nem falo do direito de expressão, mas do direito à Vida. Todos são crimes: o que varia é a punição ou a ausência de punição dos seus autores e dos seus autores morais, muitas vezes em nome apenas da geoestratégia ou de interesses "vitais" de alguns países.
A guerra é atroz, mas está a acontecer. Não se pode mais fechar os olhos. Não podemos enfiar a cabeça na areia e gritar que estamos em guerra com um inimigo "externo".
Conhecer o pensamento, as frustrações, as humilhações dos inimigos do Ocidente é uma tarefa essencial para desarmar este conflito, todo este radicalismo que dura há décadas em guerra no Médio Oriente e que, só nos últimos 15 anos, tem começado a aflorar o nosso lado do planeta. E que, se não se arrepiar caminho rapidamente, vai continuar e aprofundar-se. Muita gente vai morrer. No nevoeiro da guerra, apenas se mata.
E nisto, nesta guerra, estamos todos envolvidos, porque elegemos quem define as NOSSAS políticas externas.
23 comentários:
A análise que fez poderia ser feita para muitas outras "guerras", envolvendo outros, muitos e variados "inimigos". Há até quem faça análises semelhantes mas tendo por base a exclusão social, a austeridade, o capitalismo, ...
E no entanto, neste caso em particular, não foram atacados símbolos da guerra do Iraque, de Israel, da austeridade, do capitalismo, ...
Foram assassinados cartoonistas, foi atacado um jornal (que nem sequer era um jornal de referência, um jornal conotado com a direita apoiante da invasão, ...).
Não discutindo a ideia que expressa no post, não percebo a lógica da sua associação e este acto em particular (e outros de natureza semelhante como, por exemplo, o assassinato de Theo Van Gogh).
Percebi muito pouco, sobretudo não percebo o objectivo da análise ... a menos que seja perceber Aljubarrota e a ala dos namorados !!!
Não fogem à vulgata do PC. Então os terroristas de Paris (não sei se concordam com o termo) atacaram quem?
-Os opressores dos seus bisavós, trata-se de uma vingança de sangue ou de sede de justiça Universal?
-Atacaram os assassinos de Kadafy ou os que bombardeiam a Síria, mas, neste caso, que relação especial há entre os cartoonistas e a politica externa da França?
-Ou atacam a política Francesa de exploração capitalista?
Eles foram e são habitualmente muito claros! Els querem vingar as "ofensas" a Maomé!, combater os infiéis, não agem como cidadãos franceses, assim sendo, porque é que se estranha a reacção de muitos franceses?
Aliás se se deslocarem à "banlieu" encontrarão, profusamente pelas paredes, frases como "nous ne sommes pas français, nous sommes musulmans", são eles que o dizem mas vocês, paternalísticamente, interpretam "legitimamente" o queles, com invulgar, clareza expressam. Deve ser para lutar contra a invasão americana que os iraquianos se matam aos milhares diáriamente. Vocês (os do PC) são, afinal, o mais precioso instrumento da política ocidental/civilizadora conduzida no Iraque, Síria, Egipto etc etc
ah! PC não tem nada a ver com o partido português assim designado habitualmente
"Massacre na Nigéria. Boko Haram pode ter assassinado dois mil civis"
http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=26&did=174388
Onde é que esta notícia se enquadra na sua cronologia?
E qual o seu efeito nos (potenciais) terroristas?
- Aplaudem os seus irmãos do Boko Haram; OU
- Culpam os países ocidentais por não intervirem contra o Boko Haram; OU
- Caso os países ocidentais intervenham, culpam-nos por intervirem (ingerência nos assuntos internos da Nigéria)?
E já agora, partindo da sua cronologia, em qual dos factos que menciona basearia a justificação para os ataques do Boko Haram?
A demagogia tem destas coisas.
Subsidiária da manipulação ou vice-versa.
Alguém chama ao debate o Boko-Haram.
Entretanto "esquecem-se" de tudo,sistematicamente de tudo o que foi focado.
Teimam em falar em termos rácicos, em termos religiosos, escondendo a lastimável e execrável xenofobia. Esquecem-se do apoio directo e às claras ao extremismo islâmico por parte dos EUA
De
A tentativa de isolar, de certa forma nesciamente, o sucedido na revista Charlie Hebdo, um brutal massacre que motiva a repulsa se qualquer ser civilizado, com o que se passa no resto do mundo, é simlesmente desonesta.
A mitologia da geração espontânea foi destronada há muito pelo conhecimento científico.Que agora alguns tentem desenterrar aquilo que a ciência já arrumou há muito dá para ver o argumentário medievo de tais personagens
De
Repare-se neste posicionamento intelectual de alguém que diz isto:
"Há até quem faça análises semelhantes mas tendo por base a exclusão social, a austeridade, o capitalismo, ..."
Ainda não voltámos nem ao tempo da censura nem ao tempo da escola primária...ou vá lá da escola de relvas,para desta forma canhestra recusarmos o que de facto é óbvio. Não "engolimos" o primarismo de posições pretensamente simples , obliterando de facto que a exclusão social, a austeridade, o capitalismo são um caldo fermentador terrível. Ignorar o contributo dos que analisam a realidade social, ignorar os vários saberes para a compreensão dos factos é simplesmente regressar a tempos obscuros.Faz lembrar os mitos e os axiomas que os neoliberais tentam impor nos nossos dias, contrariando sistematicamente toda a realidade factual.
De facto o apontar da forma obcessiva o dedo no intuito de se ver simplesmente o dedo, tem destas coisas - o esconder objectivamente a floresta.
E é para a floresta que João Ramos de Almeida aponta.
O que como é evidente obriga a utilizar outras ferrametas que não as condicionadas pelo primarismo das motivações ideológicas escondidas ou do racismo larvar e peçonhento.
De
Portanto, com o pedido de desculpas às tentativas de se pintar a realidade com a cor monocromática de ocasião, passemos a uma abordagem mais honesta ( a palavra é mesmo esta) e mais real( a palavra é tambem mesmo esta).
Transcrevo um excelente texto de Bruno Carvalho:
"Que pensarão os sobreviventes civis de um ataque norte-americano no Paquistão? É certo que as bombas vêm de Washington mas se não houvesse talibãs talvez não existisse guerra. Não creio que o vejam assim. Não há lucidez para essas coisas quando estilhaçam a tua família pelos ares. Os culpados são os norte-americanos, ponto. O que pensarão os sobreviventes civis de um atentado islâmico em Paris? É certo que as metralhadoras foram empunhadas por homens que gritavam por Alá mas se a França não tivesse apoiado a guerra contra Kadafi e Bashar al-Assad talvez não houvesse atentados. Neste caso, repetindo o mesmo exercício, os culpados são os muçulmanos, ponto. Não, não há mesmo lucidez para perceber que as vítimas das guerras são sempre os mesmos. Os trabalhadores e os povos que enchem rios de sangue para ilustrar o extremismo religioso que alimenta o fanatismo e abre caminho ao imperialismo. Foi sempre assim.
Nos anos 80, no Afeganistão, as mulheres andavam de mini-saia, conduziam, estudavam e levavam uma vida dentro do que se pode considerar a normalidade dita ocidental. Os Estados Unidos financiaram, treinaram e armaram os talibãs e afogaram o país na Idade Média. A exaltação da religião contra as forças do progresso conduziu à desgraça que se conhece e anos mais tarde milhares de trabalhadores norte-americanos pagavam com a própria vida a tragédia das Torres Gémeas. Na Palestina, Israel - um país inventado pelo extremismo sionista - abriu caminho ao reforço de movimentos religiosos como o Hamas para evitar a direcção laica e progressista da luta pela libertação nacional daquele país".
(Cont)
(De)
"A mesma receita foi instigada uma e outra vez. Nos últimos anos, os Estados Unidos e a União Europeia financiaram, treinaram e armaram milhares de homens cujo propósito era derrubar regimes laicos ou progressistas. Fizeram-no para acabar com Muammar Kadaffi e fizeram-no, até agora sem sucesso, para derrubar Bashar al-Assad. A Líbia era o país que encabeçava os índices de qualidade de vida de todo o continente africano. Agora, no protectorado europeu e norte-americano, a selvajaria religiosa levada ao extremo enfia imigrantes negros em jaulas do velho jardim zoológico de Tripoli. Na Síria, o que há é um país absolutamente devastado, imerso numa guerra civil. O Iraque tampouco se levanta do caos em que se mantém há mais de uma década. O que acontece hoje naqueles países é responsabilidade directa dos governos norte-americano e europeus, incluindo o de Portugal.
O que se passou hoje na redacção do Charlie Hebdo, em Paris, foi um crime horrendo. Foi um atentado contra a liberdade de expressão e de imprensa. Nos próximos dias, veremos gente em todas as partes a apontar os dedos aos muçulmanos - principalmente, Marine Le Pen e a Frente Nacional - enquanto nos corredores dos bancos e das grandes empresas se conta o dinheiro do saque roubado através dos recursos naturais do Norte de África e Médio Oriente. No Estado espanhol, quando explodiram bombas nos comboios de Madrid, as vítimas eram trabalhadores. Como em Paris, como em Islamabad, como em Alepo, como em Bengazi, como em Cabul. A fúria dos povos do Estado espanhol rebentou porque perceberam que o governo de Aznar lhes mentira sobre a autoria dos atentados e porque perceberam que aquela era uma resposta a uma guerra contra outro povo."
(cont)
(De)
"Falta a lucidez de se clarificar quem, de facto, foram os autores do crime perpetrado em Paris. Quem quer que tenha sido merece ser perseguido, julgado e castigado. Mas para lá das sombras com que comentadores, politólogos, jornalistas queiram esconder a verdade mais crua devemos perceber que o imperialismo vive uma fase agressiva. Instalou o caos na vida dos povos do Norte de África, do Médio Oriente, na Ucrânia e na Venezuela. Apontar o dedo contra o extremismo islâmico sem apontar o dedo contra quem o financiou, treinou e armou é um insulto à memória dos que caem sob a barbárie da guerra.
Hoje, todos se dizem Charlie. Eu também sou. Mas devemos sê-lo todos os dias denunciando sem ceder à auto-censura quando se refere aos que nos conduzem à miséria, à exploração e à guerra. Há quem hipocritamente se diga hoje Charlie para amanhã esconder quem é que deu armas ao ISIS, à al-Qaeda e a outros grupos. Amanhã, esses, vão guardar silêncio para os crimes do extremismo religioso israelita contra o povo palestiniano. Ou vão inventar novas armas de destruição massiva para justificar matanças pelo mundo fora. Os jornais e os jornalistas que se auto-censuram - ou que manipulam de peito erguido - também são culpados do que se passou hoje na redacção do Charlie Hebdo. Todos, sem excepção, grandes grupos económicos e financeiros, incluindo os governos, partidos, jornais e mercenários em que mandam, merecem a nossa repulsa. São eles os assassinos do Charlie Hebdo. E a nós cabe-nos defender a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa e a liberdade religiosa dentro dos limites de uma sociedade laica. Mas, principalmente, cabe-nos defender a paz e um mundo de justiça social. Esses princípios são os verdadeiros inimigos do imperialismo, do fascismo e do extremismo religioso."
Bruno Carvalho
Há mais. Muito mais. Para podermos ver que este caso de facto ultrapassa muito as perguntas de retórica ideologica e racicamente empenhadas.
Já lá iremos
De
"A tentativa de isolar, de certa forma nesciamente, o sucedido na revista Charlie Hebdo, um brutal massacre que motiva a repulsa se qualquer ser civilizado, com o que se passa no resto do mundo, é simlesmente desonesta."
O problema é que a lista de acontecimentos apresentados no post que ilustram "o que se passa no resto do mundo" resulta também ela de uma selecção do autor, e portanto do seu ponto de vista (parcial). Passa-se (e passou-se) muito mais no resto do mundo do que o que o autor do post seleccionou. Daí que não inclua, por exemplo, o massacre na Nigéria pelo Boko Haram.
Mais ainda, os próprios autores do massacre (pelo menos nessa designação concordamos) e o alvo particular escolhido não remetem de forma alguma para a lista de acontecimentos apresentada. Daí a pergunta: com que fundamentos escolheu estes acontecimentos em particular e não outros? Por exemplo, o conflito Russia-Ucrânia, a subjugação do Tibete pela China, a repressão da Irmandade Muçulmana no Egipto, as diversas ditaduras do Médio Oriente, ...
Caro Anómimo,
Todas aas selecções são parciais. E é impossível estar na cabeça de quem praticou os crimes de Paris, ainda por que foram todos mortos pela polícia.
O que se conhece foi publicado no jornal Le Monde e parte das opiniões que um dos irmão expressou a conhecidos - que o contaram em tribunal em 2008 - que foi a intervenção militar dos EUA no Iraque (a de 2003 e que se prolongou) o facto que o impressionou mais e que o fez querer militar uma causa. Os dados anteriores a 2003 fazem parte de um leque - por defeito - da lista enorme de intervenções ocidentais bem fora do seu quintal e que alimentaram gerações de críticos do ocidente. Não me vai dizer que forsm actios cirúrgicos, inodores e sem peso.
Se esse irmão influenciado pela intervenção dos EUA é consequente ou não, se é radical porque sim, ou porque é habitante do banlieu, ou porque era imaturo ou instrumentalizado, interessará ainda. Oxalá os orgãos de comunicação social procurem os seus amigos e familiares, para sabermos mais. E não ficar apenas este uníssono de condenação que servirá de pretexto para - vejam lá - limitar as liberdades de todos!
Vemos que a ligação com a crise despoletada pelos EUA ( e seus aliados) no Médio Oriente não é uma fantasia.A fuga para outras questões ( nomeadamente o Tibete e a Ucrânia) é de tal forma ridícula que não vale a pena desmontar os motivos pelos quais se tenta ir por aí.
A análise dos factos,das suas causas e consequências, da rede dos factos é, já o disse,para além dum exercício de honestidade, uma questão de inteligência.
Um exemplo clássico que une a maioria dos historiadores ( essa classe que parece que é agora esconjurada por alguns sectores mais extremistas) é o considerar que as condições leoninas e a humilhação experimentada pela Alemanha no tratado de Versalhes no final da Primeira Grande Guerra terá dado algum contributo para a chegada de Hitler ao poder. Para alguns foi até um dos factores mais determinantes. Nada descupabiliza os nazis ( bem pelo contrário) mas reivindica-se a necessidade de reflectir sobre a realidade antes de.
De
A questão é de tal forma complexa que se estranha os apartes sobre as "vulgatas" e outros derivativos que esboçam um humor um tanto deslocado.
Porque para além do que aqui se discute, há muito mais que daqui deriva ou que aqui entronca.Perguntas fundamentais de como combater o terrorismo ( e não se combate este com terrorismo de estado) ou de como foi possível chegar-se a "isto" ( e como "isto" não me refiro só ao que já se disse, mas também à materialidade do próprio massacre), devem estimular o nosso sentido crítico e a nossa leitura dos factos.
Um exemplo concreto.No presente só um fundamentalista extremista, algum escriba do público a tentar subir nos quadros da empresa ou um mentecapto
ousa afirmar que o motivo da invasão do Iraque foi determinado pela existência de quaisquer armas de destruição maciça ou pela ligação à Al qaeda.
É assim confrangedor ver alguém falar nas mortes que ocorrem entre os iraquianos, isentando o papel determinante dos EUA e seus aliados na destruição daquele país e no regresso deste à barbárie sob a bombarda do império em busca de petróleo
Não, não é só desonestidade.É algo bem pior do que isso.E são alguns dos americanos a utilizar palavras fortes para designar os tipos que se enrolam nestas histórias da carochinha.
De
Outro exemplo.
João Ramos de Almeida foca de passagem um pormenor curioso. O facto que todos os envolvidos terem como destino a morte.
Claro que tal acontece muitas vezes.Mas estranha-se a falta de empenho em tentar-se saber mais sobre a rede que está por detrás destes assassinos, apanhando-os com vida.
Faz lembrar o escândalo que constituiu o caso bin laden e a sua execução quase que a lembrar o eliminar uma testemunha incómoda.
Sejamos frontais.Não alinho por enquanto com leituras conspirativas. Mas estou,como todos devemos estar, atento aos acontecimentos e às discrepâncias das narrativas únicas.
Chamemos então ao debate alguem que sabe mais do que se passa lá dentro que todos nós juntos, que comentamos aqui.Alguém que teve a coragem e que
assumiu os custos da denúncia dum pesadelo,esse mesmo, Julian Assange.
Terá que ser em espanhol,porque a fidelidade dos nossos média é por demais boçal e néscia:
Según el fundador de WikiLeaks, Julian Assange, el evidente fracaso en el caso 'Charlie Hebdo' obliga a plantear serias preguntas. La primera de ellas es si los servicios franceses protegieron a los hermanos Kouachi "como parte del aventurismo francés en Siria, Libia y otros lugares, como un conducto para canalizar dinero, armas y militantes hacia África y Oriente Medio". Si realmente los protegieron, ¿lo hicieron porque eran informantes, voluntarios o involuntarios?, ¿los protegieron para poder arrestarlos segundos antes del ataque, en una operación al gusto de los medios de comunicación?, reflexiona el fundador de WikiLeaks.
"¿Por qué era tan débil la seguridad del edificio de 'Charlie Hebdo'? ¿Cómo pudieron conseguir conocidos yihadistas armas semiautomáticas en Francia? Y, sobre todo, ¿por qué se ha tolerado el enloquecido aventurismo sunita de Francia en Siria, Libia y otras partes de África a pesar de la desestabilización inevitable, radicalización y consecuencias que inevitablemente conlleva?", termina Assange su artículo.
De
Mas continua:
"Además, Assange ha respondido a Max Hastings, de 'The Daily Mail', que lo acusó a él y a Edward Snowden de ser responsables de la matanza en París al "haber debilitado la seguridad".
"El secretismo genera corrupción, pero también engendra incompetencia, y los servicios secretos franceses no son una excepción a esta regla. En esta ocasión el Estado de seguridad francés ha tratado de presentar a los asesinos como supervillanos con el fin de ocultar su propia incompetencia", subraya Assange, citado por WikiLeaks.
"La tragedia de París es otro ejemplo de que lo que hace falta es vigilancia específica competente, no vigilancia masiva", afirma Assange. Recuerda que los atacantes eran yihadistas bien conocidos; a pesar de que ambos hermanos figuraban en listas de terroristas, se comunicaron cientos de veces mediante teléfonos convencionales antes y durante los ataques, y las oficinas de Charlie Hebdo habían recibido muchas amenazas de muerte.
"La adicción a la vigilancia masiva no es gratuita. En Francia ha costado cualificados recursos humanos y financieros, impidiendo seguir objetivos específicos obvios, como la parte delantera del edificio de 'Charlie Hebdo' y personas que salían de la cárcel con una condena por terrorismo en una mano y numerosos contactos yihadistas en el otro", resume Assange".
Exemplar lição de como colocar questões que nenhum dos nossos media de referencia focou.
De
(Antes de continuar com este inesgotável tema,duas palavras sobre o Boko~Haram:
"While the atrocities committed by Boko Haram are being used to justify an R2P “humanitarian” intervention in Nigeria, it is worth noting that covert financial support as well as military training has been channeled to Boko Haram by two of America’s staunchest allies: Saudi Arabia and the UK.
Boko Haram receives funding from different groups from Saudi Arabia and the UK, specifically from the Al-Muntada Trust Fund, headquartered in the United Kingdom and Saudi Arabia’s Islamic World Society ..
Moreover Boko Haram has ties to two Al-Qaeda affiliated organizations namely Al QWaeda in the Islamic Maghreb (AQIM) and the Libyan Islamic Fighting Group (LIFG), both of whicha were supported covertly by Western intelligence and NATO (during the war on Libya).
What is the hidden agenda of this diabolical covert operation directed against Nigeria?
Weaken and destabilize Nigeria as a Nation State of 160 million people, trigger sectarian divisions and then come to the rescue of Nigeria under a humanitarian military banner.
O artigo está aqui:
http://www.globalresearch.ca/covert-ops-in-nigeria-fertile-ground-for-us-sponsored-balkanization/30259
Infelizmente há mais )
De
Caro João Ramos de Almeida,
Obrigado por me responder.
Antes de mais deixe-me dizer-lhe que eu reconheço (está à vista de todos) a lista de desastres intervencionistas recentes de alguns países ocidentais, nomeadamente e à cabeça, dos EUA.
E é para mim verosímil (é o máximo que posso afirmar com o meu conhecimento limitado sobre a complexidade desses acontecimentos) que esses acontecimentos criem ressentimentos extremistas anti-ocidentais. E que esses sentimentos contribuam para facilitar o recrutamento e a "doutrinação" de jovens muçulmanos.
Mas não nos podemos esquecer que neste caso em particular, o alvo foi um jornal que publicou caricaturas do profeta Maomé. E portanto, se me parece verosímil que o recrutamento tenha por base esse ressentimento (e esses acontecimentos), já não compreendo tão facilmente a sua relação com este acto em particular.
Para terminar. Estou convencido que no essencial concordamos com a análise. Só que eu, confesso, como "ocidental", também já começo a ficar "ressentido" com a sistemática e sempre parcial análise das causas do terrorismo de inspiração islâmica.
Porque é que o conflito Russia-Tchechénia não gera ressentimentos no mundo Muçulmano (radical)?
Porque é que as ditaduras em determinados países do Médio Oriente não são referidas?
Porque é que os conflitos entre "facções" do islamismo (Xiitas, Sunitas, ...) não geram ressentimentos?
Porque não recuar até ao século século VIII (?) na listagem de acontecimentos que geram ressentimento quando há reivindicações de restaurar o Al-Andalus?
O conhecimento da realidade histórica permitiria responder a algumas destas perguntas.
Da realidade história e da realidade económica, já que muito dos antagonismos religiosos são acicatados por estes interesses...e aqui o petróleo tem um papel fundamental.
Afinal o conflito russía - ucrânia transformou-se no conflito rússia- tchechenia. Já é um avanço. Claro que se sabe que a tchechenia faz parte da federação russa. O seu reconhecimento ,apesar de incentivado pela Arábia saudita e pelos EUA,não tem tido aceitação internacional.Já o mesmo não se pode dizer do apoio aos terroristas tchechenos por parte das ditaduras do golfo entre as quais os sauditas.
Para que seja relembrado a Arábia Saudita e o seu apoio aos movimentos terroristas extremistas, este também passou por este território.A tal ponto que Putin, após o atentado terrorista de Beslan (o resultado foi a morte de 334 civis, sendo 186 deles crianças e centenas de feridos)ameaçou publicamente o governo saudita de retaliação militar, caso um novo atentado daquele tipo ocorresse em território russo.
Tudo isto é História.E claro que há ressentimentos.Mutiplos e variados
Mas verdade seja dita "a sistemática e sempre parcial análise das causas do terrorismo de inspiração islâmica" decorre sistematicamente do lado de Le Pen ( não quero dizer que o anónimo se identifique com tal gentalha), dos que acoitam tais ideias, dos que reproduzem estas historietas nos media, dos que com mais ou menos coloração assumem de forma mais ou menos clara alguma xenofobia face aos outros. A prova está até nos múltiplos comentários ( nos media e não só)surgidos a propósito do charlie Hebdo, que mal ocultam ou um ignorância espantosa ou um racismo larvar, ou , o mais comum,uma mistura explosiva de ambos.
Porque esta estoria do "terrorismo de inspiração islâmica tem muito que se lhe diga.Já lá vamos
De
Os dois estados mais fundamentalistas na região do médio oriente são a Arábia Saudita e Israel.O carácter xenófobo deste último teve carta de alforria oficial, com o pedido à conversão de tal estado em estado judeu.Claro que esta classificação pode gerar discordâncias, mas avancemos.
São precisamente estes estados que são os aliados principais dos EUA. Cuja política oficial e oficiosa protege e apoia directa ou indirectamente os comportamentos fundamentalistas de tais estados.
Não vale a pena falar agora no Jornal ultra-ortodoxo judeu que apagou Merkel ( e todas as mulheres da marcha), já que isso é apenas um pormenor picaresco no meio do fundamentalismo rácico de israel.
Falemos no caso da Arábia Saudita já que falamos em países islâmicos. O seu papel no 11 de Setembro e os "negócios " de bush com a casa real saudita mostram as teias que unem católicos e islâmicos,teias muito mais fortes que qualquer crença em qualquer deus ou alá
Vamos às provas? Mais uma vez em espanhol porque estas notícias são sistematicamente censuradas pela dita imprensa livre:
"Un grupo bipartidista de congresistas estadounidenses se ha unido a los familiares de las víctimas del 11-S para redoblar esfuerzos y desclasificar las 28 páginas de una investigación conjunta del Congreso sobre el mayor ataque terrorista contra Estados Unidos.
"Ya no es ningún secreto que las veintiocho páginas del informe apuntan con el dedo acusador al Gobierno de Arabia Saudí como actor principal de los ataques terroristas", dijo el exsenador demócrata por Florida Bob Graham. El presidente George W. Bush censuró 28 páginas de este informe, según informa 'ABC News'.
El informe en cuestión se denomina 'Investigación conjunta sobre las actividades de inteligencia antes y después de los ataques terroristas de septiembre de 2001', y fue realizado por comités de la Cámara y el Senado de EE.UU. en diciembre de 2002.
"En prácticamente todos los pasos del proceso judicial, cuando el Gobierno de Estados Unidos fue llamado a tomar una posición, esta fue una posición adversa a los intereses de los ciudadanos de Estados Unidos que buscan la justicia, y de protección a un Gobierno que, a mi juicio, es el máximo responsable de aquella red de apoyo" a los terroristas, dijo Graham, refiriéndose a Arabia Saudita."
Esta notícia não é de há dez anos.Esta notícia é de há dois dias.
De
Claro que o papão que nos querem enfiar sobre o al-andalus cai às mil maravilhas num país ( em países) sitiados pela troika,pelas políticas austeritárias, pelas políticas económicas que nos têem feito retroceder tantos anos.
Um papão serve para muita coisa.Veja-se o papel que o papão judeu teve na ascensão do nazismo lá pela década de trinta do século passado.
Mas citemos outro autor, Jorge Beinstein:
"Como era de prever, o ataque contra o Charlie Hebdó desencadeou uma onde mediática global de condenação ao "terrorismo islâmico". Sente-se um certo fedor de "11 de Setembro à francesa" . Como também era de prever, a direita ocidental capitaliza essa onda procurando orientá-la para uma combinação de islamofobia e autoritarismo, de justificação da cruzada colonial contra a periferia muçulmana e ao mesmo tempo de impulso no ocidente à discriminação interna contra as minorias de imigrantes árabes, turcos e outras"
O mínimo que se pode dizer é que o caso Charlie Hebdo ingressou velozmente no pântano da confusão. Os dois supostos atacantes foram liquidados dois dias depois dos ataque, ainda não se sabe bem como foram tão facilmente identificados numas poucas horas – salvo se aceitarmos a incrível versão policial de que um deles esqueceu o seu documento de identidade no automóvel utilizado no atentado. Paul Craig Roberts, ex-subsecretário do Tesouro dos Estados Unidos, assinala ( com ironia)que "a polícia encontrou o cartão de identidade de Said Kouachi na cena do tiroteio (próximo da sede do Charlie Hebdo). Soa familiar? Recordem que as autoridades (estado-unidenses) afirmaram haver encontrado o passaporte intacto de um dos supostos sequestradores do 11 de Setembro entre as ruínas das torres gémeas.
Não haverá julgamento, os irmãos Kouachi não desmentirão nem confessarão nada. Por outro lado, em diferentes meios jornalísticos surge a informação de que estes irmãos franceses filhos de imigrantes argelinos teriam sido recrutados há algum tempo pelo aparelho de inteligência francês que os encaminhou para o jihadismo na sua luta contra o governo sírio. Surge inclusive o nome do agente recrutador, um tal David Drugeon, assinalado desde há tempos como um personagem de alto nível do aparelho de inteligência francês – que naturalmente desmentiu a referida informação, reiterada antes e depois do desmentido por meios de comunicação estado-unidenses e europeus .
E como se isto fosse pouco, um dia depois do "atentado", de modo muito marginal, deu-se a conhecer o estranho suicídio de Helric Fredou, comissão subdirector da Polícia Judiciária de Limoges que trabalhava no caso Charlie Hebdo"
(Cont)
De
Transcrevo a parte final de tal artigo de Jorge Beinstein:
"Para além da questão de saber se o ataque contra o Charlie Hebdo foi uma operação montada pelo aparelho de inteligência francês, só ou em cooperação com a CIA ou outra estrutura, ou então uma acção de um grupo islâmico manipulado pelo aparelho francês ou inclusive independente e hostil ao ocidente, o certo é que uns ou outros consideraram-no um objectivo concreto da guerra globalizada em curso.
Seguindo a "hipótese 11 de Setembro" (auto-atentado), tratar-se-ia de mobilizar na cruzada imperial uma Europa esmagada pela recessão. Poderíamos fazer coincidir o acontecimento o anúncio de que a União Europeia vai entrando numa etapa de deflação que ameaça ser prolongada e está completamente submetida à estratégia global dos Estados Unidos. Isso significa que as elites dominantes precisam criar rapidamente factores de coesão social funcionais a suas aventuras militares e financeiras. O demónio islâmico pode bem justificá-lo, para fazer aceitar ou obrigar a aceitar guerras externas combinadas com repressões e empobrecimentos internos.
A quota de barbárie introduzida com o golpe de estado na Ucrânia e a tentativa posterior de depuração étnica no Sudeste desse país acompanharia a ascensão generalizada do fascismo na Europa, desde a Ucrânia e os países bálticos, até chegar à Frente Nacional em França e ao movimento Pegida na Alemanha, passando pelo Amanhecer Dourado da Grécia. O que prefigura a conformação de um fascismo muito extenso no espaço europeu a coincidir com a previsível ascensão do Partido Republicano nos Estados Unidos. Neste cenário a intensificação de actos de barbárie imperial na periferia estaria a convergir com a internalização de formas significativas de barbárie no centro imperial.
Seguindo a hipótese oposta ( o do movimento islâmico hostil ao ocidente) estaríamos na presença do início da caotização do centro imperial do mundo. O desenvolvimento da sua "Guerra de quarta geração" contra a periferia começaria a ter um efeito boomerang sobre o protagonista ocidental. O provocador ocidental do caos começa por sua vez a ser caotizado por um desenvolvimento que começa a escapar ao seu controle e que gera deslocações na sua retaguarda. A crise económica, suas derivações financeiras, ecológicas, sociais e militares iriam submergindo o espaço euro-norteamericano numa espiral descendente irreversível.
Em ambos os casos, a imponente civilização ocidental, seus pretensos "valores universais", estariam a evaporar-se – deixando a descoberto a sua barbárie profunda."
O original está aqui:
http://anncol.eu/index.php/opinion/jorge-beinstein-argentina/9067-el-regreso-del-fascismo-a-proposito-de-charlie-hebdo
Podemos não concordar com tudo ou só em parte. Mas mostra à evidência a pobreza indigente das análises dos nossos pretensos experts
De
Caro Anónimo,
Ainda sobre as razões profundas do crime em Paris. Não é sintomático que Amedi tenha escolhido um supermercado judeu? Ele próprio se disse solidário com os palestianos! (http://www.bfmtv.com/societe/comment-bfmtv-a-pu-s-entretenir-avec-les-terroristes-856692.html)
E depois não se deve contextualizar o crime?
Historicamente é difícil estabelecer, de facto, um ponto de início dos conflitos. Creio que se pode simplificar a questão ao tempo de duas, no máximo três gerações. Ou seja, o tempo dos actores, o tempo dos mentores e dos mentores dos mentores. Mais do que isso talvez seja demasiado. Digo eu.
Quanto aos ressentimentos, creia-me que o problema é mesmo nosso, ocidental: quer na parte de leão dos problemas, quer na limitada compreensão que temos dos pormenores daquelas regiões.
Quanto a outros anónimos, creio que haveria vantagem em pensar em tabuleiros paralelos. Um imediato sobre as razões dos criminosos, com uma causa, outro sobre a eventualidade de uma provocação (como se questiona Assange). Por exemplo:
1) por que "vendeu" a polícia aos jornalistas que os dois irmãos tinham saído a disparar da gráfica, quando as imagens e sons mostram o inverso?
2) por que não se vêem reportagens sobre a entrega dos corpos à família dos irmãos abatidos? Onde estão os seus corpos?
3) por que foi que os dois irmãos não explodiram o Charlie Hebdo? Não encontraram explosivos?
4) que armas tinham? Inicialmente disseram que eram AK-47, depois um cliente da gráfico disse que eram fusis FAMAS, usadas pelo exército francês.
5) por que fizeram um trajecto tão complicado, auto-denunciando-se numa bomba de gasolina, acabando por parar e se dirigir calmamente a uma gráfica, onde deram indicações a um cliente da gráfica que os denunciou à polícia? Foi pelo estardalhaço mediático?
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