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Paulo Pedroso, Contudo, move-se... o RSI aos 18 anos
Com a infindável cara de pau a que já nos habituou, e a propósito de um relatório da OCDE, Passos Coelho referiu recentemente que «Portugal conseguiu abrandar os efeitos da crise na população mais desfavorecida», assim reivindicando, para si, os méritos pela redução da taxa de pobreza registada entre 2007 e 2011. Ou seja, durante os governos de José Sócrates.
É claro que se quisesse falar do passado que lhe pertence, o actual primeiro ministro seria forçado a chegar a conclusões radicalmente distintas. Entre 2011 e 2013, os portugueses em risco de pobreza e exclusão aumentam em quase 300 mil, passando de 24,4 para 27,4% da população residente(*), enquanto o número de beneficiários de RSI sofre uma quebra próxima de 90 mil no mesmo período. O que significa, portanto, que é cada vez menor a percentagem de pessoas em risco de pobreza e exclusão abrangida pela medida: de 12,3% em 2011 passa-se para cerca de 8% em 2013 (ou seja, o número de portugueses em situação de pobreza e exclusão - e que não encontra apoio no RSI - sofre um acréscimo, entre 2011 e 2013, de cerca de 370 mil).
Isto anda, como é óbvio, tudo ligado. A asfixia financeira e o desmantelamento paulatino e deliberado dos sistemas públicos de acção social (do RSI ao Complemento Solidário para Idosos, entre outras medidas e prestações), amplificado pelo contexto de desemprego galopante, de perda acentuada de rendimentos e de aumento das desigualdades, não faria esperar uma evolução diferente da que se verificou, com Passos e Portas no poder.
Ao que acresce, sublinhe-se, o total fracasso da «mudança de paradigma» levada a cabo pelo actual governo ao nível dos mecanismos de protecção social. Isto é, a transfega obscena de recursos e responsabilidades dos sistemas públicos para as IPSS e demais organizações da dita «sociedade civil» (o tal «Estado paralelo» de que fala, certeiramente, Pedro Adão e Silva), com um manifesto défice ao nível do escrutínio e das garantias de cumprimento dos mais elementares príncipios da política social pública (igualdade no acesso, cobertura territorial e não discricionariedade nem casuística, entre outros). E para lá, evidentemente, de a adopção de medidas avulsas ser incapaz de constituir uma verdadeira estratégia de combate à pobreza e à exclusão.
(*) O indicador «população residente em risco de pobreza ou exclusão social» (INE) - que combina dois indicadores construídos com base no rendimento (a taxa de risco de pobreza após transferências sociais e a intensidade laboral per capita muito reduzida) com um indicador relativo à taxa de privação material severa - refere-se a «indivíduos em risco de pobreza e/ou em situação de privação material severa e/ou a viver em agregados com intensidade laboral per capita muito reduzida».