«O responsável máximo da fundação do Pingo Doce, um think tank inteligente do neoliberalismo, declarou, ao jornal i, que os juízes do Tribunal Constitucional tinham mentalidade de funcionários públicos. (...) Para certa gente, servir a população é um crime. Todos os serviços públicos e o Estado social são vistos como privilégios de madraços e coisas que em última instância estão a impedir algum negócio chorudo de um amigo privado. No fundo o Sr. Garoupa tem alguma razão: neste país há duas atitudes mais pronunciadas, uma espécie de ideal de tipo weberiano, que resumiriam as atitudes em disputa: por um lado, temos a maioria da população, que tem "mentalidade de funcionário público", por outro lado, temos os governantes, as fundações, que justificam o nosso sistema, e as elites económicas, que têm mentalidade de banqueiro. (...) Mentalidade de banqueiro é aquela que acha natural que os lucros da especulação sejam para os accionistas e os prejuízos dessa nobre actividade sejam pagos pelo contribuinte. Foi o que funcionou até agora. Nós pagamos os BPN, os BCP, as parcerias público-privadas e os swaps especulativos com os nossos ordenados, impostos e reformas. (...) Aqui em Portugal quem denuncia a pouca-vergonha pode acabar na cadeia, aqueles que na realidade enforcam o país e roubam a sua população ainda ganham medalhas de comendadores.»
Nuno Ramos de Almeida, Portugal enforcado
«De orçamento em orçamento, Passos (...) fez por ignorar a jurisprudência do Tribunal Constitucional (TC). Todos os chumbos foram os esperados e, no que não foram, a causa de algum espanto foi os acórdãos pecarem por defeito na penalização do executivo. A mensagem infantil e derrotada à partida – um alemão explicaria bem isto ao Governo – de que o TC inviabiliza a ação de quem governa foi acolhida com a inteligência que sobra ao povo e que falta ao Governo: é este último e não o TC que inviabiliza uma governação nos limites da legalidade. Mais: é o Governo que quer movimentar-se fora da lei. Assente em declarações terroristas como a da necessidade de “escrutinar melhor os juízes” que, imagine-se, não cumpriram com as expetativas de quem os escolheu, provavelmente assente numa lógica de avença, a verdade da mensagem é só uma: aconteça o que acontecer, a política do Governo será sempre cortar salários e pensões. (...) Por isso, quando agora o Governo pede a Cavaco para suscitar a fiscalização preventiva de diplomas para se saber das orientações do TC apelidadas de “políticas”, o Governo assume que não quer governar de acordo com a CRP, fingindo que não sabe (...) e envolve, naturalmente com acordo prévio, o PR. Fica então aquele órgão de soberania sediado em Belém destinado a requerer a fiscalização preventiva de diplomas, não por ter a convicção de que os mesmos sejam inconstitucionais, mas para colaborar com o Governo na sua convicção de que o peso do incumprimento, o peso da violação do direito e da separação de poderes, deve ser colocado no TC.»
Isabel Moreira, O presidente que veicula a confissão governamental
«Cavaco Silva recebeu na quarta-feira o seu homólogo alemão, Joachim Gauck, para lhe dizer que o país aprendeu "a lição". Ao dominador alemão, que nos veio lembrar do "favor" feito ao país, responde o dominado, com obediência masoquista: "Aprendemos a lição". (...) É o orgulho do governante colonizado que, confundindo humildade com humilhação, volta ao discurso dos pobres mas honrados, ou, na verdade, honrados porque pobres. (...) Vale a pena recapitular o que terá sido a década anterior à crise, a da tal "lição", [durante a qual] (...) a dívida pública portuguesa em percentagem do PIB foi inferior à alemã e muito inferior à média europeia. Os salários, esses sempre foram inferiores a qualquer média (...). Benefícios sociais em percentagem do PIB? Em 2000 eram 18%. Na zona euro? 25%. E na Alemanha? 28%. (...) As despesas em educação, na década de 2000, permaneceram estáveis, as da saúde aumentaram um ponto percentual no PIB - um dos ritmos de crescimento mais baixos da Europa. O tão propalado Estado gordo que serviu de justificação à austeridade era, feitas as contas, um Estado de dimensões pequenas, porventura até demasiado pequenas para o atraso do país em qualificações, serviços públicos e investimento no setor produtivo. (...) A crise que vivemos tem, portanto, outras raízes. Dizem os registos mais recentes que, em 2008, se deu a maior hecatombe financeira de que há memória desde 1929. Sabe-se também, de fonte segura, que a culpa se deveu à especulação que surfou livremente a desregulamentação que os moralistas de hoje advogaram no passado. (...) Então para quê tanto moralismo, senhor Presidente?! Para quê, então, esta visão do empobrecimento de um país e de um povo como expiação coletiva de uma suposta "culpa" social?»
Mariana Mortágua, Lições há muitas, professor Cavaco
11 comentários:
Fazer da aliança de chicos-espertos na política e na banca, vigente no governo Sócrates a definção da mentalidade do 'banqueiro' é bem o sinal do desnorte ideológico.
Se o Estado forte convive bem com o banqueiro, o Estado partidocrático requer a Banca na mão de bancários arrivistas, que uns e outros destroem capital sem rebuço, assim as migalhas do desastre caiam no bolso certo.
Há então «o peso do incumprimento, o peso da violação do direito e da separação de poderes» a «ser colocado no TC»?
Quando se esperava que a acção do TC em defesa da Constituição fosse a sua glória, vêm agora chamar-lhe peso?
Algum motivo terão...
«Nós pagamos os BPN, os BCP, as parcerias público-privadas e os swaps especulativos com os nossos ordenados, impostos e reformas. (...) Aqui em Portugal quem denuncia a pouca-vergonha pode acabar na cadeia, aqueles que na realidade enforcam o país e roubam a sua população ainda ganham medalhas de comendadores.»
Donde, há muita coisa a mudar:
Ouve-se muitas vezes dizer que "a violência gera violência", que "a violência nunca consegue nada", ou que "se se usar a violência para nos defendermos daqueles que nos agridem, ficamos ao nível deles". Todas estas afirmações baseiam-se na noção errada de que toda a violência é igual. A violência pode funcionar tanto para subjugar como para libertar:
* Um pai que pegue num taco para dispersar à paulada um grupo de rufias que está a espancar o seu filho, está a utilizar a violência de uma forma justa;
* Uma mulher que crave uma lima de unhas na barriga de um energúmeno que a está a tentar violar, está a utilizar a violência de uma forma justa;
* Um homem que abate a tiro um assassino que lhe entrou em casa e lhe degolou a mulher, está a utilizar a violência de uma forma justa;
* Um polícia que dispara contra um homicida prestes a abater um pacato cidadão, está a utilizar a violência de uma forma justa;
* Os habitantes de um bairro nova-iorquino que se juntam para aniquilar um bando mafioso (que nunca é apanhado porque tem no bolso os políticos, os juízes e os polícias locais), estão a utilizar a violência de uma forma justa;
* Um povo que usa a força dos músculos e das armas (já que sonegado de todas as entidades que que o deveriam defender), contra a Máfia do Dinheiro acolitada por políticos corruptos, legisladores venais e comentadores a soldo, cujos roubos financeiros descomunais destroem famílias, empresas e a economia de um país inteiro, esse povo está a utilizar a violência de uma forma justa.
Num país em que os políticos, legisladores e comentadores mediáticos estão na sua esmagadora maioria a soldo do Grande Dinheiro, só existe uma solução para resolver a «Crise»... Somos 10 milhões contra algumas centenas de sanguessugas...
Persiste um versão abstrusa de um certo cientismo político que impõe explicações naturais para todos os desastres procurando evitar as especulações sobre a acção política.
Nada como a manipulação estatística para lhe dar boa aparência!
Três bons excertos que o Ladrões nos trazem. Gostei especialmente do de Nuno Ramos de Almeida. Já agora com uma contribuição justa e oportuna do Diogo.
Quanto ao sr Jose percebe-se algum desnorte pela intranquilidade como recebe os três fragmentos citados.
Vejamos: O convívio do estado forte com os banqueiros é uma referência directa ao convívio do estado fascista portugês com os banqueiros, os verdadeiros donos de Portugal?
A aliança entre os banqueiros e os "políticos" vigentes no governo Sócrates é para esconder também o conluio e a promiscuidade entre o capital e o poder político do PSD e do PP? O caso do BPN, um banco ligado até ao tutano ao PSD, com membros do governo do dito, com metade dos bosses da direcção do referido partido atolados ate ao pescoço na dita aliança? Um tal dias loureiro nomeado para conselheiro de estado e "guardado" pelo mesmo cavaco no cargo até ao limite do suportável serão estórias a esconder da forma quase que obscena como aqui é ensaiado?
De
"Quando se esperava que a acção do TC em defesa da Constituição fosse a sua glória"...
Glória ?
Onde o sr jose vê glória no palavreado introsivo e grosseiro dos donos do passos e do portas face à nossa realidade constitucional?
Onde o coitado verá "glória" no comportamento quase criminoso de quem chantageia juizes e viola os mais elementares princípios democráticos?
As exclamações ofensivas para o TC da parte da coorte neoliberal são transformadas pelo tal senhor jose em odes de glória e de jubilo? Ou o que assitimos é precisamente o contrário, tendo as fontes amplificadoras do poder o poderoso papel de transmitir a mensagem que jose quer aqui transmitir?
O "peso do incumprimento, o peso da violação do direito e da separação dos poderes"sobre o TC é o que o governo, a sua trupe, os media fidelizados e os seus "rapazes" andam a fazer.
Roça o pornográfico negar tal facto.
Jose algum motivo terá para assim se comportar
De
Quanto ao último comentário do sr jose perdoe-se mas é duma tristeza confrangedora. E ao mesmo tempo duma clareza cristalina.
Vejamos.Os dados objectivos, irrefutáveis, claros, concretos são transformados em "manipulação estatística".
Ora isto é grave.Acusar outros de mentirem e de manipularem é manifesta má fé. É revoltante e não tem nível político. Mas sobretudo revelam um perfil cívico.
Desafia-se o sr jose a desenvolver o tema. Em negar os números. Em apresentar os dados correctos, corrigidos, rectificados dos que são apresentados por Mariana Mortágoa.
A realidade que sobra é esta. Perante os dados objectivos e a frieza dos números os "neoliberais" e seus parceiros, os troikistas e os manipuladores da "economia" ao estilo de albuquerques e gaspares fogem à desfilada e refugiuam-se na vacuidade do slogan e na afirmação gratuita.
Um dos grandes méritos do Ladrões é responder à teoria neoliberal pesporrenta com dados concretos e números precisos. Que desmontam completamente e fazem ruir por terra o edifício mal amanhado e podre dos que nos governam.
O que resta são estas afirmações patéticas sobre a versão abstrusa de um certo cientismo político".
Confrangedoras e ao messmo tempo tão claras ...
De
Sejamos concretos, objectivos e claros.
Manipulação estatística é isto:
EMPREGADO: todo aquele que tenha «efectuado um trabalho de pelo menos uma hora (!!!), mediante o pagamento de uma remuneração ou com vista a um beneficio ou ganho familiar em dinheiro ou géneros».
In «Estatísticas do Emprego» divulgadas trimestralmente pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE).
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Por favor expliquem-me, muito, muito, muito devagar, 1 hora???...
http://ocastendo.blogs.sapo.pt/expliquem-me-muito-muito-muito-1755025
Nada como a manipulação estatística da trupe criminosa que nos governa para dar uma boa aparência a.
Vergonhoso.
De
Acabei de consultar o documento metodológico do inquérito ao emprego e confirmo, é mesmo esse o conceito utilizado.
Há um padrão mínimo para o contraditório, como, por exemplo:
- interrogar-se sobre possíveis significados ignorando o que é óbvio.
- não alterar o sujeito mantendo os atributos.
- dizendo que há casos outros sem contraditar o caso alegado.
Ser prolixo, pode ser só lixo...
A ignorância do que é óbvio passsrá certamente pelo fechar de olhos e de ouvidos a notícias como o sistemático bruá-bruá governamental no lançar o ónus da sua incapacidade de governar (de acordo com a lei) sobre o TC?
Interroga-se sobre alguma crispação do sr jose perante o debate.Não , nao cometeremos a deselegância de aventar a hipótese de se poder tratar só de lixo( Sintomático, não?)
Mas ficamos na dúvida se tal se deveu ao enunciado das manigâncias do poder político de direita com a banca, se ao evocar o santo nome de cavaco e do seu apêndice dias loureiro ou se tal incomodidade do sr jose teve origim no desafio de confirmar a sua afirmação desbragada e de certa forma insultuosa de "manipulação estatística" por parte de Mariana Mortágua.
O que fica é este silêncio confrangedor perante as questões reais levantadas
E a fuga,mais uma vez, sem honra nem glória, perante dados concretos, reais, objectivos e frios.
Acontece. Mais uma vez
De
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