segunda-feira, 24 de junho de 2013

Elos fortes e fracos

Uma pergunta que ficou por fazer há uns tempos atrás, mas que retomo em semana de greve geral nacional: por que é que a mobilização europeia do passado 1 de Junho revelou ser tão mobilizadora como as eleições europeias habitualmente o são, ficando-se pelo simbolismo de um gesto de alguns milhares? As pessoas estão cansadas de manifestações e resignadas à sua sorte? Muitas estarão, outras nem por isso. Para além da fraqueza organizacional, da sucessão de manifestações e da ausência de resultados, acho que um dos problemas específicos das mobilizações convocadas à escala europeia é que servem para tornar mais saliente a pesada realidade de estruturas que parecem inamovíveis quando confrontadas a essa escala. O outro problema é que a convocação de uma manifestação europeia não pode obedecer tão facilmente a uma análise concreta, de resto sempre falível, da situação concreta e da disponibilidade concreta para a mobilização ali onde estão as tradições enraizadas de protesto e os alvos que as pessoas sentem que podem atingir num contexto europeu de resto marcado pela crescente heterogeneidade socioeconómica. Além disso, nesta correlação de forças, fixada estruturalmente em tratados e instituições retintamente neoliberais, as reivindicações europeístas que sustentariam programaticamente a mobilização numa escala feita para não gerar mobilização assemelham-se perigosamente aos desejos de paz no mundo dos concursos de beleza. Que fazer? Fazer o que a CGTP e a UGT se preparam para fazer esta semana, num contexto muito difícil para a convocação de uma greve geral, ou não fosse o desemprego o grande mecanismo disciplinar: mobilizar na escala onde se pode mobilizar com mais força, dado que também foi aí que as classes populares obtiveram, e aposto que será aí que obterão, vitórias, uma escala que continua a ser nacional, até porque a morte do Estado-nação é manifestamente exagerada, como sabemos, da Islândia à Argentina. De resto, é importante informar sobre as mobilizações de outros povos, noutros países, conseguir um módico de articulação realista à escala internacional, em especial entre países que partilham a mesma situação de tutela externa e esperar, tal como noutras primaveras neste século e em outros, que o efeito de contágio se dê nas periferias europeias como que por uma mão invisível. É a tal astúcia da razão inter-nacionalista em tempos de euroimperialismo, de desenvolvimento desigual e de elos fracos pelos quais se pode começar a romper toda uma estrutura de dominação.

3 comentários:

Anónimo disse...

Atenção que a greve geral não é para a semana, é já nesta 5ª feira!

João Rodrigues disse...

Obrigado. Já corrigido. É o que dá ter escrito ontem o texto.

Anónimo disse...

o que seria, então, do 1º de maio.