terça-feira, 18 de junho de 2013

A austeridade faz mal à saúde

Observatório revela dados que provam impacto da crise na saúde, ou seja, o impacto negativo da política de austeridade na saúde: das cada vez maiores barreiras pecuniárias no acesso aos serviços de saúde às depressões que aumentam. Temos prestado alguma atenção neste blogue à investigação sobre os determinantes sociais da saúde. Temos cada vez mais evidência empírica para dizer que as utopias de mercado, a austeridade e a injustiça social, fazem muito mal ao corpo e à mente, sem separações artificiais. É claro que, como este livro indica, a crise económica não tem um impacto mecânico na saúde. As respostas de política pública que são dadas nesse contexto, a vontade e capacidade que as sociedades têm de combater a crise, mantendo ou reforçando os dispositivos socioeconómicos, na área dos serviços públicos de saúde e não só, é que são decisivas: o contraste entre a catástrofe grega e a saudável resiliência islandesa é clarificador. É caso para dizer então que a austeridade e a tutela externa matam.

As ideias dominantes entre as submissas elites portuguesas, hoje reafirmadas por Cavaco, também não fazem nada bem. Numa iniciativa da Caritas, que infelizmente deu para o peditório de um empreendedorismo cada vez mais perverso, Cavaco aproveitou para, ao lado de Carlos Costa do Banco que não é de Portugal, mostrar o programa desta gente ao serviço da troika: “criou-se uma cultura de protecionismo social protagonizado pelo Estado, desresponsabilizando de algum modo os cidadãos e menosprezando os valores da cultura cívica, da participação, do voluntariado e do espírito de solidariedade.” Estes protegidos acham sempre que vale tudo para destruir o Estado social, a protecção que pode valer à maioria em áreas fundamentais. Acontece que sabemos que o tal proteccionismo social é o que mais favorece a saúde dos individuos e das comunidades, a sua possibilidade de acção colectiva democrática e cidadã. Os grandes dramas tendem a ocorrer em Estados que não dispõem precisamente de atributos essenciais de soberania democrática, que abdicaram de instrumentos de política para proteger os cidadãos e para pilotar as economias para fora da crise; Estados que permitem assim que se atrofiem as capacidades colectivas de que dependem dimensões decisivas do florescimento individual, onde se inclui a possibilidade de ter uma vida saudável. Também neste contexto, Portugal vê-se cada vez mais grego.

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