quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
Editoriais
Se é um oligarca e sempre desejou ter uma ilha grega, a sua oportunidade pode ter chegado.
Brevíssimo excerto do editorial do The Guardian sobre as decisões da última cimeira. Contrastem a clareza, o realismo, deste editorial com o do Público de hoje, um jornal cujos editoriais não fazem geralmente jus ao trabalho informativo dos seus jornalistas económicos que não estão na bolha de Bruxelas. Um editorial que exprime o impasse de quem tem sido complacente com a destrutiva tutela externa das periferias, que ainda é apodada de “solidariedade” europeia, um editorial sem respeito por esta palavra e pela sua lógica. Excertos representativos: “A zona euro seguiu o caminho da solidariedade com a Grécia, mas o preço que impôs é muito alto (…) Assim sendo o que é que o futuro reserva aos gregos? Mais austeridade, mais sacrifícios e, provavelmente mais resgates (…) um futuro de pobreza e de estagnação para a Grécia”. Pelo meio ainda se diz que há dúvidas sobre a “capacidade política dos gregos em aplicar o acordo”. “Acordo” que se sabe ser inviável, claro, até porque se reconhece que a redução das taxas de juro e do montante em dívida não tornam a dívida grega sustentável. Sustentabilidade é coisa que não existe numa economia em queda livre, graças às políticas prescritas pela troika, a toda elas. A dívida acabará por ser, em percentagem do PIB, equivalente à que era antes do dito acordo muito em breve, mas com duas diferenças: será detida por credores públicos, na sua esmagadora maioria, e a lei que a enquadra será inglesa, o que significa, entre outras coisas, que a dívida não poderá ser redenominada em nova moeda por decisão soberana, que os credores têm mais garantias em caso de disputa. Enfim, uma estranha forma de solidariedade, uma estranha forma que o Público tem de alinhar com a inane sabedoria convencional portuguesa, a que agora tem um pé na austeridade, que já sabe ser depressiva, finalmente, e outro pé no seu contrário. As palavras são importantes.
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3 comentários:
As palavras "suaves" estão hoje muito em voga, parece já não ser importante retratar a realidade de forma precisa, a delicadeza da dialéctica é confundida com a sensibilidade do interlocutor, o discurso moderado confere propriedade a quem tem pouco ou nada para dizer, só uma sociedade medíocre aceita pacificamente a lógica dos enganos e das inverdades...
"A dívida acabará por ser, em percentagem do PIB, equivalente à que era antes do dito acordo muito em breve, mas com duas diferenças: será detida por credores públicos, na sua esmagadora maioria, e a lei que a enquadra será inglesa, o que significa, entre outras coisas, que a dívida não poderá ser redenominada em nova moeda por decisão soberana" -> então e o conceito de dívida odiosa deixa de poder ser aplicado no futuro caso haja uma auditoria à dívida? Cumprimentos, FD.
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