Para quem se interessa pelo debate em torno do cheque ensino e dos modelos educativos assentes na concorrência entre escolas, o excelente post de Hugo Mendes no Jugular, «o "milagre sueco" não aconteceu», é de leitura imprescindível. Nele constam o gráfico que aqui se apresenta, relativo à evolução dos resultados escolares de Portugal e da Suécia na avaliação PISA (clicar para ampliar, embora as linhas de evolução sejam perceptíveis a olho nu) e a referência à recomendação de prudência de Per Thulberg, director geral da Agência Nacional Sueca para a Educação, dirigida sobretudo a quem toma fervorosamente esta iniciativa das free schools como o exemplo a seguir.
Respondia assim Thulberg a Michael Gove (actual ministro da Educação inglês que, em 2008, considerava que a Suécia apontava para o futuro desejável da política educativa em terras de sua majestade): «esta concorrência entre escolas, que foi uma das razões para introduzir as novas escolas, não conduziu a melhores resultados. A lição que retiramos é a de não ser fácil encontrar o caminho que assegure a melhoria contínua da educação. Os alunos destas novas escolas têm, em geral, melhores resultados, mas isso tem que ver com os pais e o contexto familiar. Eles provêm de famílias com elevados níveis de escolaridade». Na verdade, acrescenta Thulberg, «os alunos ingleses encontram-se melhor posicionados que os alunos suecos nas áreas da Matemática e do conhecimento científico».
Entre nós, seria bom que - numa próxima aparição em debates públicos - os defensores militantes do cheque ensino (como José Manuel Fernandes, Helena Matos, Henrique Monteiro e João Carlos Espada, entre outros) não mais pudessem perorar impunemente sobre os milagrosos efeitos da política de concorrência entre escolas - referindo-se ao caso da Suécia como um exemplo a seguir - sem serem confrontados com os factos que o Hugo Mendes assinala no seu post.
Aliás, vale a pena relacionar o mais recente texto de João Carlos Espada sobre este assunto (no Público de segunda-feira) com o artigo delirante da semana anterior («Impostos e criação de riqueza»), em que JCE tenta reescrever a história económica da segunda metade do século XX, rasurando por completo qualquer referência ao papel do Estado Providência e das políticas sociais públicas no esbatimento das desigualdades e no aumento generalizado dos níveis de bem-estar. Para Espada, «a riqueza da Europa e do Ocidente - que ainda hoje merece admiração no resto do mundo - não foi produto da redistribuição da riqueza dos ricos para os pobres através dos impostos. Foi produto da criação de riqueza num ambiente de liberdade económica, em regra associada a baixos impostos, justiça célere, e, sobretudo, à ausência de barreiras à entrada de novos competidores». O modelo social europeu, portanto, não existe nem nunca existiu. Notável, não é?
Voltaremos brevemente a este texto, em que a social-democracia é apagada da história europeia recente à boa moda estalinista. Por agora, vale a pena tomar nota de uma outra passagem do post de Hugo Mendes. Quando assinala que «não teremos aprendido nenhuma lição do que se passa na Suécia sem perceber que o seu modelo de educação está encastrado num país que tem dos níveis mais baixos de desigualdade socioeconómica e de pobreza infantil do mundo, que tem uma invejável rede de educação pré-escolar pública, e cujos adultos - isto é, os pais dos alunos de hoje, que foram formados no tal terrível modelo "socialista" do passado - colocavam a Suécia no topo dos rankings internacionais dos estudos sobre literacia de adultos na década de 1990 e no início desta».
Ring a bell, Professor Espada?
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2 comentários:
Deixe lá Nuno. Não "stresse" demasiado por causa deste pessoal. Vale mais a pena ler outras coisas:
http://www.ingentaconnect.com/content/brill/hm/2011/00000019/00000002/art00005
Eu que não sou especialista em economia por tudo o que tenho lido e tenho visto e sentido na pele, posso dizer que o tal JCE não é grande "espada" em economia.
Será bom isso sim a defender quem lhe paga para emitir as opiniões estapafurdias mas como economista( que eu não sei bem o que é isso depois de ver as misérias por eles causada em quase todo o mundo) não vale um chavo.
Bom economista é, por ex, quem tem de governar a vida com a miséria do ordenado minimo nacional e chega ao fim do mês com um euro que seja no bolso.
Agora pessoas como esse tal João Carlos Espada, Vitores Gasparaes, Bragas de Macedo e outros da comandita, sabem lá o que isso de economia.
Sabem, isso sim, defender os interesses de quem lhes paga, e bem, e manipular tudo e todos para tal efeito.
Vergonhoso, pura e simplesmente.
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