quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Pode um povo ser condenado pelas loucuras do seu soberano? (uma carta do continente para o povo da Madeira)


O soberano da Madeira conseguiu pôr muitos continentais e se calhar muitos açorianos a pensar como a Srª Merkel: os madeirenses devem ser postos a pão e água para pagar a dívida. Antes disso a Srª Merkel já tinha conseguido convencer os alemães de que os gregos, os irlandeses e os portugueses deviam ser postos a pão e água.

Há qualquer coisa de profundamente errado com a ideia de um povo dever ser condenado pelas loucuras do seu soberano, mesmo quando este soberano é eleito pelo povo.

O soberano português estava louco, como todos sabemos agora, quando quis o Euro nestas condições e soltou o ‘porreiro pá’ na assinatura do Tratado de Lisboa. Entramos depois disso, por isso e não só, em acentuada derrapagem e estagnação. Devemos todos expiar essa loucura do soberano como se fosse um pecado nosso?

Foi errado condenar o povo alemão a pão e água no final da primeira guerra mundial e errado seria tê-lo feito depois da segunda. É errado querer arrasar a Grécia, Portugal e a Irlanda. Da mesma forma é errado querer fazer pagar os madeirenses.

Porquê? Em primeiro lugar porque é completamente inútil. Prender o endividado não o ajuda a pagar a dívida. Não é bom nem para os credores. Em segundo lugar, porque é imoral: é uma condenação colectiva. Se não vêm o meu ponto, pergunto: e os que estavam contra o Euro e o Tratado de Lisboa, também devem pagar? E os madeirenses que resistiram a Jardim, sofrendo muitas vezes as consequências? E a criança que não vota, para não falar já na que vai nascer amanhã?

E se calhar o PSD ganha outra vez na Madeira, como ganhou em todo o país apesar de também ter participado nas loucuras… Pois é, mas isso significa que é preciso impedir o PSD de repetir a experiência na Madeira, ganhe ou não ganhe as eleições.

É preciso sobretudo auditar ao centavo as contas para determinar de que forma, além das obras, foram gastos os recursos. Parece-me que ninguém, incluindo a parte do povo da Madeira disposta a votar de novo no PSD, sabe da missa a metade.

11 comentários:

menvp disse...

Democracia verdadeira, já!

Leia-se: DIREITO AO VETO de quem paga (vulgo contribuinte):
- blog fim-da-cidadania-infantil.
{um ex: a nacionalização do negócio 'madoffiano' BPN nunca se realizaria: seria vetada pelo contribuinte!}

Rogério G.V. Pereira disse...

Subscrevo

jvcosta disse...

Muito bem. Eu estive para escrever uma coisa no mesmo sentido no Moleskine, até porque tenho questionado em vários "posts" o que é a responsabilidade e a "razão" de uma maioria, em democracia (a propósito dos 80% que votaram na troika interna).

Mas parei, lembrando-me de que é indubitável que a esmagadora maioria dos alemães apoiavam o nazismo. Isto dos povos virtuosos, sempre enganados pelos demagogos, precisa de ser bem visto.

jvcosta disse...

Continuando. Com o sentido do bom ponderar as coisas que referi, não alinho incondicionalmente com o post de Daniel Oliveira no Arrastão, mas acho que merece ser pensado.

Já agora, coisa menor, é Merkel e não Merkle.

Anónimo disse...

Penso que só com o aprofundar de questões como a que o José M. Castro Caldas coloca se pode construir algo realmente importante.
Tão pertinente quanto o elevar do nível do debate é a possibilidade de todos participarem nele e também por isso gostaria de saudar todos os "ladrões" pela objectividade com que insistem em tratar as "casualidades"dos nossos dias.

Senhor JVC não me custa imaginar a ignorância dos povos que apoiam tais atrocidades alias até acho que muitas vezes apenas se trata de uma rasteira da sua própria forma de pensar, é extremamente fácil nos deixarmos ofuscar pela clareza do poder.

Maquiavel disse...

Em ditadura, concordo plenamente que as loucuras do soberano näo devem ser pagos pelo povo.

Mas em democracia? AÍ PÁRA!
Entäo quem há-de pagar? Paga o justo pelo pecador, é essa a vossa premissa?

Deixemo-nos de tretas, meus amigos. A maioria do povo da Madeira apoia incondicionalmente o AJJ, logo tem que acarretar com TODAS as consequências dos seus actos, sufragados constantemente. Näo é só eleger o AJJ para ter túneis e estradas e mais o raio, e depois a factura que paguem os coiröes do Contenénte, de Lisboa a Helsínquia. Democracia é *responsabilidade*, e está na hora dos portugueses TODOS (madeirenses incluídos) perceberem.

...

JVC, os alemäes que se opunham ao nazismo eram presos e mortos... a maioria era, como sempre, carneirada que desde que houvesse um naco de päo na mesa tanto se lhes dava quem era o paträo. Como de resto no Portugal salazarento.

Povos virtuosos enganados pelos demagogos? É porque näo säo virtuosos, ou entäo percebiam o engano da demagogia. E näo me venham com Finlândias, que 80% do eleitorado NÃO votou nos populistas. Daí se vê que säo um povo virtuoso.

Fusível Ativo disse...

A dívida da Madeira tem sido uma forma do governo do Continente conseguir fazer com que as suas enormes dívidas pareçam pequenas. Parece que se esqueceram que estamos todos no mesmo buraco, independentemente da parte do território em que estivermos.

menvp disse...

Votar em políticos não é passar um 'cheque em branco'!!!
O Presidente da República pode vetar uma lei... sem querer derrubar o governo!!!
Os contribuintes devem poder vetar uma despesa com a qual não concordam... sem querer derrubar o governo!!!

Pelo DIREITO AO VETO de quem paga (vulgo contribuinte):
- blog fim-da-cidadania-infantil.

Manuel disse...

Fusível activo:
«A dívida da Madeira tem sido uma forma do governo do Continente conseguir fazer com que as suas enormes dívidas pareçam pequenas.»
Mas qual é a maior dívida? A da Madeira ou a do Continente?
Não em números absolutos, não se pode comparar o incomparável, 10, 5 milhões de pessoas e 89 mil Km2 de território com 257 mil pessoas e 782 Km2 respectivamente.
Ontem AJJ disse na entrevista que a divida pública da Madeira é um pouco superior a 5 mil milhões. Vamos admitir que é esse valor (embora a sua credibilidade seja mais do que duvidosa).
A Madeira tem 40 vezes menos população e 115 vezes menos território. Estes são os dois parâmetros mais importantes a considerar: gasta-se dinheiro com as pessoas e fazem-se obras num território (estradas, pontes, viadutos, portos, aeroportos, pavilhões desportivos, etc.)
Multiplique 5 mil milhões apenas por 40 e esqueça os 115.
Dá 200 mil milhões.
A dívida pública global de Portugal (incluindo a da Madeira) é de 120 mil milhões.
Agora diga qual das duas é a maior.
Se não concordar, desmonte o erro dos meus números e argumente com os seus, mas não desconverse nem insulte em defesa de AJJ (como é timbre desta personagem tragicómica, p. ex. quando nos chama cubanos).

Fusível Ativo disse...

Eu sei que é uma dívida absurda, mas está a ofuscar outros graves problemas que temos. Se a dívida da Madeira não existisse estávamos menos mal, não estávamos sãos e salvos.

Maquiavel disse...

A Madeira tem a dimensäo populacional da Isländia, tem um clima muito, mas muito melhor, muito mais recursos naturais, e está muito mais perto do continente europeu (mas ainda mais do africano).

Veja-se a economia dos dois... o PIB/capita e poder de compra e a dívida pública dos dois...

E POR AÍ FORA!