[L]embrou os resultados eleitorais de 5 Junho - o facto de 80% dos votos e 85% dos deputados apoiarem o memorando de entendimento - e citou uma sondagem do German Marshall Fund, na qual os portugueses surgem como os que mais apoiam cortes na despesa pública. 'Um elemento central do programa’ de ajustamento', sublinhou (…) O ministro não disse, contudo, que, segundo a mesma sondagem, os portugueses são também dos mais pessimistas sobre o impacto do euro na economia, estando entre os que se sentem ‘pessoalmente’ mais afectados pela crise. O momento de realização da sondagem também faz temer pela sustentabilidade do apoio nacional ao programa de ajustamento.
Vale a pena ler a análise de uma das dimensões cruciais da economia política da austeridade, por Rui Peres Jorge. O Ministro das Finanças é um crente nos programas do chamado Consenso de Washington, feito de privatização, desregulamentação e redução dos direitos laborais e sociais, que é um dos exemplos de economia zumbi: fracassou totalmente nas áreas do “Sul Global” onde foi aplicado e foi aí enterrado por governos progressistas, apenas para renascer em Bruxelas-Frankfurt e ser aplicado nas periferias europeias por governos subalternos. Fracassou porque gerou polarização social, destruiu capacidade económica, aumentando o desemprego, e sabotou as capacidades dos Estados. Olhem para a Argentina antes de Kirchner, por exemplo. De resto, estes programas ditos de ajustamento são tão anti-populares nos seus efeitos que tendem a gerar, mais tarde ou mais cedo, contra-movimentos realistas de protecção contra a devastação socioeconómica gerada. Só nas utopias de crentes como Gaspar é que esta destruição pode ser regeneradora. Por isso é que não se pode “temer” o colapso do apoio ao programa da troika, infeliz expressão, mas antes desejá-lo, fomentá-lo e acelerá-lo, o que também se faz pela apresentação de alternativas globais consistentes. Muitos cidadãos estão a começar a descobrir que foram enganados pela retórica das “gorduras”. Será que a educação, a saúde, a segurança social e outros serviços públicos são gorduras? A ligação entre este impopular euro, que nunca funcionou para nós, e a austeridade recessiva também ficará cada vez mais clara, bem como as duas saídas consistentes e que têm de ser politicamente articuladas: federalismo democrático ou fim do euro.
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4 comentários:
como se 80% dos tais eleitores quando votaram soubessem o que estava no memo da troika ou que psd, ps e cds tivessem tido explicitamente que eram os candidatos da subida de impostos ou dos transportes públicos, etc.
Este não é um comentário directo ao post em questão. Contudo, tendo em conta a linha de pensamento deste blog parece-me importante fazer menção à notícia "pouco" relevante difundida há momentos pela RTP.
Ao que consta a multinacional Roland Berger encontrou a solução para a dívida grega. Tal "feito" consistiria na constituição de uma holding composta pelos activos públicos que vão ser privatizados, a qual seria posteriormente comprada por uma instituição europeia. E qual seria essa instituição? O explosivo (para usar a denominação de Yanis Varoufakis) fundo europeu de estabilização financeira.
O título do estudo é também ele sugestivo: "Eureka".
A "solução" parece então passar por um leilão internacional onde seja possível adquirir património grego por tuta e meia. Criar-se-iam assim as condições necessárias para que a Grécia se tornasse um laboratório para o desenvolvimento das mais diversas experiências neoliberais.
É importante que se diga que a Roland Berger é uma multinacional alemã com um plano ideológico bastante bem delineado com a qual os governos europeus gastam milhões em serviços de consultoria.
O que me parece importante ressalvar é que empresas como a Roland Berger não vendem apenas serviços de consultoria aos governos europeus, vendem sobretudo ferramentas ideológicas que estes muitas vezes usam sem qualquer análise crítica prévia.
Supor que Gaspar ou Coelho procedem de boa fé, é de uma ingenuidade incompreensível.
Estes dois indivíduos são esmerados funcionários bancários, e tanto mais comissões ganham quanto mais miséria espalharem nos países que lhes deram cargos de poder.
Se os 80% dos eleitores näo sabiam o que estava no memo da troika TIVESSEM-SE INFORMADO!
Agora, tarde piaste, flho. É hora de que os eleitores se capacitem de que as suas acçöes têm consequências.
E além disso, há uma coisa de que ninguém pode acusar o PPC: ele disse com todas as letras que iria "muito mais além do memorando da troika".
Estavam à espera de quê? Ai e tal os políticos fazem sempre o contrário do que prometem? Agora AMANHEM-SE, o que me chateia deveras é ter de comer por tabela, eu que faço parte dos 20% anti-Troikas!
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