quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Monstro?

Olhem para o gráfico (via Palmira F. Silva). Portugal (azul) está abaixo da média da OCDE (vermelho) em termos de percentagem de funcionários públicos na população activa. Já os países escandinavos – Noruega, Finlândia, Suécia, Dinamarca – têm de ser o inferno na terra porque o “Estado gordo” é sempre mau e a sua redução é sempre boa, segundo o “pensamento” infantil que ainda domina o país. Nós estamos cada vez melhor: abaixo da média e com reduções de funcionários sem parar. Enfim, aconselho a leitura deste artigo de Vicenç Navarro: defende-se precisamente que a histórica fraqueza do Estado social nos países periféricos é uma das razões para as suas dificuldades.

13 comentários:

António Carlos disse...

Não é possível analisar estes dados sem considerar a dimensão que as estruturas do "Estado paralelo" assumem em cada um destes países. Por exemplo, será que os trabalhadores dos hospitais EPE são aqui contabilizados? Duvido.

António Carlos disse...

O que este gráfico prova, segundo João Rodrigues, é que se queremos ser como a Noruega, Finlândia, Suécia, Dinamarca temos de aumentar o número de funcionários públicos.

Acresce (de outros posts) que a austeridade não é saída para a crise, pelo que estes novos funcionários (e os que já existem) devem ser aumentados para dinamizar o consumo e, consequentemente, a economia.

Finalmente, há que recuperar o Manifesto pelas Obras Públicas (voltar a colocá-lo na agenda política pela mão do ex-Secretário de Estado e agora deputado Paulo Campos parece-me uma boa ideia) e o Estado tem de investir em infra-estruturas.

Falta alguma coisa? Não me lembro de nada, a não ser o pormenor insignificante de não termos os recursos financeiros necessários para o fazer. Mas que isso não sja impedimento: como diria Mário Soares, "o dinheiro há-de aparecer".

Jorge Bateira disse...

António Carlos

Está enganado. Se sairmos do euro podemos de imediato lançar um grande programa de investimento público escolhendo os projectos com maior efeito multiplicador sobre o emprego.
E um estado soberano, com moeda própria, nunca vai à falência porque pode (enquanto estiver longe do pleno emprego) emitir moeda através do banco central.

Lamento, mas tenho de lhe dizer que precisa de estudar um pouco de Moderna Teoria Monetária.

Shyznogud disse...

Pequena correcção, é via Palmira Silva e não Hugo Mendes.

João Rodrigues disse...

Obrigado Shyznogud. Corrigido.

Anónimo disse...

Se basta imprimir moeda, como eh que iriamos a falencia em 1979 e 1983 se n fosse o acordo com o fmi? Eh q gostava de saber como eh q compramos bens ao exterior se a nossa moeda (a tal q eh so imprimir) vale zero?

PS: umas aulas de introdução a economia tb n lhe faziam mal, n...

Anónimo disse...

A solução da emissão de moeda é muito giro se acharmos que o mundo se resume a portugal ou se acharmos que somos autosuficientes. Como não somos, essa medida só arruinava a competitividade e qq possibilidade de equilíbrio na balança comercial portuguesa e haveria tanto escudo que já não valeria qse nada no mercado. Há muita gente a precisar de estudar

Maquiavel disse...

Pois é, Bateira, isso é tudo muito bonito, mas também gera inflaçäo (e näo pouca) se näo se subirem exponencialmente as taxas de juro. Estou a ver que deve ir juntamente com o António estudar Teoria Monetária...

... sem falar na inflaçäo externa dos factores de produçäo, por exemplo o pitrol, por via da desvalorizaçäo monetária. Ah pois é.

Anónimo disse...

Caro António Carlos,

"Falta alguma coisa? (...) Não me lembro de nada, a não ser o pormenor insignificante de não termos os recursos financeiros necessários para o fazer"

falta, claro: falta um imposto sobre a riqueza, um imposto sobre as transacções bancária e uma legislação e um sistema de justiça q permita as verdadeiras "gorduras do estado" - q é como quem diz, os jardins, os submarinos, os bpns, as ppps, as "falências" - não se repitam e com q os seus responsáveis punidos.

e, claro, falta perceber q por dinamização da economia por forma a promover a criação de emprego não se entende investimento em obras públicas do tipo marinas, rotundas, pontes e imobiliário hoteleiro megalómano em áreas protegidas, licenciação de campos de golfe, construção de estádios de futebol etc etc.

ou seja e resumindo, é preciso uma política económica e de desenvolvimento em tudo contrária à q o ps, psd e cds vêm seguindo nos últimos 20 anos.

F.

Carlos Gomes disse...

Bem, depois desta discussão circular o melhor seria voltarmos ao Estado Novo. Onde toda a gente ralhava e ninguém tinha razão.

António Carlos disse...

Caro Jorge Bateira,

não tem de me pedir desculpa por me aconselhar a estudar um pouco de Moderna Teoria Monetária. Sou engenheiro e não conheço a Moderna Teoria Monetária.
Dito isto, compreendo que não queira "perder tempo" a esclarecer algumas questões relativamente à sua resposta, nomeadamente:

- Num post anterior citou Nouriel Roubini quando este afirmou "o PIB real denominado em euros diminuirá progressivamente num total de 30%, quer a Grécia saia ou não da Zona Euro".
- E o que aconteceria à dívida externa, desapareceria?
- Em caso de incumprimento, e sem o apoio da zona euro, como vamos convencer (no curto prazo) os financiadores que acabaram de sofrer uma perda financeira a voltar a financiar-nos?
- Sem financiamento externo, e uma moeda própria desvalorizada como vamos financiar o défice comercial externo? Ou diminuímos drasticamente as importações?
- Sem financiamento externo como vamos financiar de imediato um grande programa de investimento público?

Finalmente. Temos um historial de 37 anos de investimentos públicos em democracia cujo resultado em termos de efeito multiplicados de emprego está à vista. Onde é que vamos descobrir os novos políticos e técnicos capazes de escolher os projectos com maior efeito multiplicador sobre o emprego? Contratamos na Noruega?

Luís Lavoura disse...

Veja um post de hoje no blogue A Douta Ignorância. Mostra que, embora o número de funcionários públicos seja inferior à média, o peso dos salários dos funcionário públicos é superior à média.

Luís Lavoura disse...

A proposta do Jorge Bateira, num comentário anterior, de pôr o Banco Central a emitir moeda em grande quantidade para pagar investimentos públicos geradores de emprego, é uma enormidade.
Tal proposta, pela insegurança que transmitiria ao valor do dinheiro, causaria inflação e destruiria o valor das poupanças privadas e da economia privada. Basicamente, essa impressão livre de dinheiro pelo Banco Central corresponderia a uma nacionalização de toda a economia, dado que só o Estado teria grande quantidade de dinheiro e que a inflação corroeria toda a economia privada.
Isso não seria mau de todo num país auto-suficiente ou com possibilidades de o ser. Num país, como Portugal, fortemente dependente de importações (de bens alimentares e energéticos), esta proposta de nacionalização da economia teria consequências devastadoras. O país morreria à fome e ao frio, por não ter uma economia privada que gerasse exportações capazes de angariar as necessárias divisas.