terça-feira, 20 de setembro de 2011

Dicionário actualizado

«Falhar não é opção, falhar não existe no dicionário do governo», assegurava no início de Agosto o ministro Álvaro Santos Pereira, numa genuina profissão de fé na via austeritária. Mas hoje, na entrevista à RTP, Passos Coelho revela, em duas passagens, estar consciente de que trilha o caminho que conduz ao abismo: quando admite que, daqui a quatro anos, as contas podem estar equilibradas mas a economia de rastos; e quando reconhece a possibilidade de vir a ser necessário um reforço da «ajuda» financeira externa.

A palavra «falhar» começou portanto, oficialmente, a fazer parte do dicionário do governo, ocupando talvez o espaço até aqui reservado à promessa de «conciliar austeridade com crescimento económico». Aliás, a entrevista sintetiza-se em cinquenta minutos de equilíbrio orçamental, a despesas e receitas, a cortes e impostos, sem lugar para uma referência digna à «estratégia do governo para o emprego e o relançamento da economia», outra expressão que - definitivamente - não consta do seu dicionário.

6 comentários:

Nuno disse...

Nem uma vez se falou de emprego...

L. Rodrigues disse...

Gostaria de saber o que é que um primeiro ministro que admite que vai deixar a economia de rastos pensa que está a fazer pelo país.

Nuno disse...

@L. Rodrigues

Pensa que pode salvar a economia aniquilando a sociedade, sem entender que são intrínsecas.

Entramos numa fase em que a maioria julga que a economia não é uma ferramenta para assegurar a prosperidade humana no longo prazo mas algo com um valor em si mesmo, que pode ser pago com qualquer preço.

João Carlos Graça disse...

Deixe-os lá "falhar", Nuno...
O principal é que o "debate" não permaneça centrado em torno de um poder que diz que "consegue" e uma pseudo-oposição que acha que aquele é um "loser", sendo que ela (a tal "oposição") é sempre suposto ter mais "cojones" (embora isso ocorra de forma "alternada", claro...)
Sem esse género de "debates" passamos bem, garanto-lhe.

Nuno disse...

@Joao Carlos Graça

O PM é um grande "winner", encabeça um programa que recebeu 85% dos votos expressos.

O "loser", como se costuma dizer, é o mexilhão do povo, mesmo apostando largamente em "winners".

Parte da oposição não pode mostrar "cojones" porque subscreveu o mesmo programa de governo, logo, por definição, não pode ser oposição mas sim uma claque silenciosa.

A outra oposição encalhou, uns num grupo que em vez de se renovar só encolhe, e com ele o eleitorado e outros estão mais ralados com as suas décadas de história em vez das suas décadas de futuro.

Vejo à partida o "debate" inquinado por este encalhamento generalizado.

A esperança? São os 45% que não expressaram o voto- desconfiam dos "políticos", não têm fidelidades expressas nem hábitos de participação. Mas estão a ser apertados como os outros e são imprevisíveis.

Anónimo disse...

Sinceramente, acho este blogue pouco objectivo na análise dos problemas. O programa do FMI implica duas fases: uma primeira fase de ajustamento orçamental e uma segunda fase de desvalorização fiscal. Como não temos moeda própria, a segunda fase terá de ser feita através da descida da TSU/subida de IVA sem efeitos negativos no consumo, mas com efeitos positivos nas exportações. Esta segunda fase do FMI tem de ser feita e ajuda o relançamento da economia, mas não chega por si só. Adicionalmente, é necessário reformas estruturais: como flexibilização laboral, entre outras coisas.

A questão que aqui deveria ser debatida é sobre como levar a cabo a segunda fase do FMI. A austeridade infelizmente é necessária num país que não tem dinheiro, isto é óbvio (seguido da desvalorização fiscal e relançamento da economia).

Para leitores que se queiram infomar mais, leiam:
http://www.sedes.pt/blog/?p=3861