segunda-feira, 16 de junho de 2014

Um jornal para grandes transformações

O processo acelerado de eurofagia neoliberal, que no futuro deverá fazer os historiadores questionarem o uso que temos dado a palavras como «europeístas» e «eurocépticos» (quais destroem a possibilidade de um projecto europeu?), pode ter vários desfechos. Sociedades e territórios cada vez mais polarizados entre ricos e pobres, em que a liberdade é apenas apanágio das mercadorias e do capital, e em que os cidadãos são carne para canhão – talvez não em guerras no terreno militar, mas numa guerra económica sem quartel –, não pode ser uma possibilidade para quem entende que os vínculos que nos ligam uns aos outros têm de servir para a emancipação individual e colectiva de cada ser humano, de cada comunidade.

Sandra Monteiro, Eurofagia.

As eleições europeias de Maio de 2014 mostraram a rejeição crescente que as políticas aplicadas no Velho Continente inspiram. Qual foi a resposta de Bruxelas a esta condenação popular? Apressar a conclusão de um acordo negociado em segredo com Washington, o Grande Mercado Transatlântico (GMT). A resposta seria paradoxal se privatizações e comércio livre não fossem os dois credos habituais da União Europeia.

Serge Halimi, Os poderosos redesenham o mundo.

Do Le Monde diplomatique - edição portuguesa deste mês consta um extenso dossiê, que inclui um artigo do Nuno Teles, sobre o último esforço para construir e abrir, a golpes de política pós-democrática, mercados no Atlântico, protegendo assim os interesses dos mais fortes. Nem de propósito, foram hoje revelados documentos confidenciais que indicam o que está em causa no planeado acordo de comércio entre a UE e os EUA: desregulamentação e privatização.É urgente mandar  o GMT para o mesmo sítio para onde se enviou o AMI. Também já é tempo dos que ainda mantêm ilusões sobre a possibilidade de a UE vir a constituir-se como baluarte de protecção face à globalização acordarem para a realidade: a UE é o outro nome da globalização neoliberal no continente.

De resto, e em mais um excelente contributo, desta vez sobre as novas estratégias para o desmantelamento dos sistemas públicos de pensões, Maria Clara Murteira não deixa de assinalar o papel negativo da UE também neste campo. O mal chamado modelo social europeu, dado que há vários modelos, foi construído a partir dos Estados, ali onde a democracia pôde ser mais intensa. A UE, em si mesma, tem inscrita na sua matriz um forte viés neoliberal. De quanto mais evidência é que precisam? O contra-movimento, a dar-se, dar-se-á a partir de impulsos nacionais e populares, de preferência articulados, contra a utopia do grande mercado, um outro nome desta UE.

11 comentários:

Anónimo disse...

"Com efeito, aprova-se em grande segredo um acordo de comércio livre com os Estados Unidos que fará com que os Estados sejam processados pelas multinacionais, em milhares ou milhões de euros, sempre que, por exemplo, as disposições laborais, sociais, ambientais ou sanitárias públicas prejudiquem os lucros que elas pensam ter direito a arrecadar"

O QUÊ? É verdade?

Jose disse...

«...numa guerra económica sem quartel...»
A questão é saber se algum dia foi diferente!
A questão é saber se a globalização é o menos perigoso ambiente em que tal guerra pode ser travada.

Anónimo disse...

Perfeitamente verdade caro anónimo das 23 e 11.
"O euro, os mercados financeiros, os tratados da UE, são verdadeiras camisas-de-forças para o progresso e a democracia para Portugal, mas também para os outros povos da UE."
E o silêncio atroador em torno deste "negócio" conduz-nos para onde?
Para o sítio onde eles nos querem.
Ignorantes, calados e obedientes.
Para que o "negócio" continue ad eternum.

Entretanto há quem tente sistematicamente atirar areia para os olhos dos demais. A tese de que as coisas são assim e sempre foram assim ganha novo palavreado com " a questão é se algum dia foi diferente" nm convite quase que obsceno à desistência e à rendição. Outras formulações para os velhos e batidos "pobres sempre os houve e haverá"

E de facto basta olhar à nossa volta e perceber que a "guerra sem quartel já começou há muito". Sob a capa de muitos pretextos e de muitos engodos.Sob o paleio de tantos a pregarem as virtudes da austeridade , enquanto se assiste à delapidação das riquezes dos povos e à concentraçao do capital.
De facto "os vínculos que nos ligam uns aos outros têm de servir para a emancipação individual e colectiva de cada ser humano, de cada comunidade"

"Em termos de economia política podemos dizer que uma lei fundamental, válida para todos os sistemas económicos, é a da correspondência entre as relações de produção e o desenvolvimento das forças produtivas. Esta lei traduz-se em capitalismo pela maximização do lucro e em socialismo pela maximização das necessidades sociais".

A miséria e a submissão aos mercados não é uma inevitabilidade
como nos querem sistematicamente convencer.De forma quase que obscena

De

Anónimo disse...

Porque é que sem globalização, tem que haver uma guerra? Qual a lógica desse argumento caro José?

Luís Lavoura disse...

em que a liberdade é apenas apanágio das mercadorias e do capital

Com cada vez mais portugueses a emigrar, esta frase parece-me disparatada.

Aleixo disse...

O cerne do problema, está na falácia que se consolidou na democracia representativa.

Por variadas conveniências e razões,
os "cozinheiros" instalados e com acesso á feitura da ementa,
persistem no servir do mesmo prato como inevitabilidade,

socorrendo-se dos condimentos (q.b.) para evitar...
"levantamento de rancho".

É assim, que a meia dúzia de srs. feudais, pôe a canga aos servos.


Bases... ?!
Povo...?!
Referendo...?!

Democracia Directa!

Que heresia

pvnam disse...

A elite da finança e das corporações está apostada em destruir a Nações.
Eles querem destruir as soberanias… dividir/dissolver as Identidades para reinar… tudo para criarem uma "massa amorfa" de gente inerte, pobre e escravizada e assim melhor estabelecerem a Nova Ordem Mundial: uma nova ordem a seguir ao caos – uma ORDEM MERCENÁRIA (um Neofeudalismo)... ou seja, a 'Ordem Natural' que emerge de um 'barril de pólvora' {leia-se, o caos organizado pela superclasse (alta finança - capital global)}.

Todos diferentes, todos iguais!...
-> Isto é: TODAS as identidades Autóctones devem possuir o Direito de ter o SEU espaço no planeta!...
{nota: Inclusive as de 'baixo rendimento demográfico' (reprodutivo)!... Inclusive as economicamente pouco rentáveis!...}
-> Uma NAÇÃO é uma comunidade duma mesma matriz racial onde existe partilha laços de sangue, com um património etno-cultural comum.
-> Uma PÁTRIA é a realização de uma Nação num espaço.
Leia-se:
--->>> Os 'globalization-lovers' que fiquem na sua... desde que respeitem os Direitos dos outros... e vice-versa!



P.S.
Separatismo-50-50

P.S.2.
DEMOCRACIA SEMI-DIRECTA:
- possibilita a existência de um processo ágil de tomada de decisões... e... permite que o contribuinte não passe um 'cheque em branco' aos políticos.
[ver blog Fim-da-Cidadania-Infantil]
Nota: Vantagens da Democracia Semi-Directa 'Fim-da-Cidadania-Infantil' em relação à Democracia Directa:
1- em caso de necessidade (depois haverá uma análise dos fundamentos) o Executivo Governamental poderá tomar decisões rápidas;
2- o contribuinte não será atafulhado com casos de 'custo-bagatela'.

Jose disse...

Enfim estou de acordo com DE
«Esta lei traduz-se em capitalismo pela maximização do lucro e em socialismo pela maximização das necessidades sociais»
Tanto faz ir para a guerra para maximizar lucros como para maximizar as necessidades sociais - a ganância de muitos vale bem a ganância de poucos!

Xa2 disse...

TTIP: comércio desregulado é o fim da democracia e do ambiente
... ... (-por Xa2, Luminaria.blogs.sapo.pt , 17/6/2014)

Un tratado depredador (da economia, da qualidade, da sociedade, ...) (X.Caño T. – ATTAC Madrid)

En Bruselas se negocia un Tratado de Libre Comercio e Inversión entre Estados Unidos y la Unión Europea. Hasta hace poco, en secreto. En realidad, una patente de corso (/pirataria) para grandes empresas y corporaciones, gran banca y fondos de inversión (investimento). El sueño de Al Capone: conseguir beneficios sin norma, regla ni control. Son muchos los daños y males que sufriría la ciudadanía con ese Tratado, pero citamos :

. extensión del "fracking"(técnica de exploração de petróleo e gás altamente nociva para o ambiente) y

. resolución ("arbitral"/"justiça" privada) de controversias entre inversores y estados;

. expansão de produtos/ alimentos transgénicos (geneticamente modificados);

. monopolização de sementes, patentes e património da Humanidade;

. abaixamento dos padrões e controlo de qualidade e segurança nos alimentos (mais hormonas, esteróides e ...), medicamentos, químicos, armas, nuclear;

. desprotecção do ambiente e das reservas (REN, RAN, águas, ar, praias, ...) e recursos naturais;

. desprotecção da produção local, das PMEs, da investigação e indústrias nascentes, ... ;

. ... e o inferiorizar/desvalorizar da cultura, da democracia, da soberania, do Estado e do interesse público em geral (face aos privados, às multinacionais anónimas, aos investidores/especuladores, oligarcas, autocracias e máfias).


MARCADORES: acordos, ambiente, attac, capitalismo selvagem, comércio, concessões, democracia, desgoverno, desregulação, economia, estado social, estado-capturado, globalização, lucros, neoliberal, omc, parlamento europeu, privatização, tratado, ttip, união europeia, usa

Anónimo disse...

Por favor, alguém diga ao sr jose se era possível responder ao que lhe perguntam de forma directa em vez de disparar para o lado.

A guerra e o fascismo são muitas vezes a saída para o grande capital aumentar o seu domínio e os seus mercados-

O querer colocar lado a aldo a ganância dos seus amigos troikistas e bushistas com as necessidades sociais e de dignidade da imensa maioria dos povos roça quase a obscenidade.

De

Anónimo disse...

É preciso urgentemente acabar coma UE. Ao contrário do que se diz por aí a Eu não passa de um veiculo de dominação dos povos pelo grande capital.
Com este tratado de que ninguém fala ( onde é que estão os tais órgãos de comunicação social ditos de referência.?)é cristalina a intenção das multinacionais e o grande capital subjugar ainda mais os povos.
Se nada for feito e rapidamente, quando os povos se aperceberem da desgraça que lhes vai cair em cima será mais difícil sair da escravidão a que estes bandidos nos querem sujeitar.