domingo, 22 de junho de 2014

Agregar para que fique tudo na mesma?

“hoje as pessoas querem discutir, é preciso dar outra activação à cidadania.” “a questão é a de saber como o PS consegue colocar-se como a força capaz de agregar.”

“em termos de governação não poderemos romper com o que está, o António [Costa] tem noção e tem demonstrado na sua actuação que sabe e defende a continuidade.”


As frases acima são, segundo o Público, de Porfírio Silva, militante do PS que está a trabalhar na moção de António Costa para as primárias daquele partido.

Parece que há quem acredite que o problema de Portugal é a falta de discussão. A mim parece que o país está confrontado com outro tipo de problemas: uma dívida externa exorbitante, um desemprego de longa duração sem solução à vista, um dos maiores níveis de desigualdade do mundo civilizado, a sujeição a regras orçamentais definidas a nível europeu que agravam os problemas referidos, uma estrutura produtiva que tem revelado dificuldade em singrar num contexto de uma moeda forte, a determinação das lideranças europeias em excluir soluções para a crise europeia que não passem pela imposição de um modelo económico e social na periferia da zona euro assente nos baixos salários e no desmantelamento da protecção social e dos serviços públicos.

Precisamos de discutir e juntar forças, certamente. Andamos muitos a trabalhar nisso há algum tempo. Mas não para que fique tudo na mesma.

12 comentários:

Anónimo disse...

Debates no terreno, acessíveis à compreensão de todos, são necessários e urgentes.

Anónimo disse...

Relativamente ao que se passa dentro do PS, não me interessa ou interessa pouco. Os partidos políticos causam-me vómito. Mais uma encenação?, uma maratona a dois?... O tempo responderá! O que interessa é conhecer e discutir a real situação do País e alternativas possíveis. Coloca-se a questão: como esclarecer, debater... chegar ao povo?

Anónimo disse...

Com o PS, seja do Costa seja do Seguro, de que estavas à espera?
Iluda-se quem quiser, mas depois não se venham queixar.

Porfirio Silva disse...

Caro Ricardo Paes Mamede,

Se fosse noutro blogue, ou se fosse outro autor, talvez nem me desse ao trabalho de responder. Neste caso, entendo dizer o seguinte.

(1) As frases citadas são retiradas de um trabalho jornalístico sobre os perfis (psico-políticos) de Seguro e Costa, para o qual fiz umas declarações avulsas ao telefone. Não, não constam de nenhum texto político ou debate de fundo. Assim sendo, se calhar tiras demasiado de tão pouco.

(2) O teu comentário "Parece que há quem acredite que o problema de Portugal é a falta de discussão", que parece ser sobre a minha frase
"hoje as pessoas querem discutir, é preciso dar outra activação à cidadania" - significa o quê? Significa que desprezas a importância (negativa) de hoje estar reduzida ao mínimo a margem de manobra da participação cidadã? O absoluto desprezo do governo por instâncias tão diferentes como as universidades ou os sindicatos tem representado um estreitamento feroz da democracia efectiva, fora da "democracia institucionalizada". Acho isso perigoso e acho que tem de ser mudado. Pelos vistos, tu não achas o mesmo.

(3) Aparentemente também te choca a minha frase "a questão é a de saber como o PS consegue colocar-se como a força capaz de agregar”. Pois eu julgo que essa é uma questão essencial no que há a fazer. A resposta da sociedade portuguesa ao "estado a que isto chegou" não vai resultar de uma qualquer mente brilhante que conhece o segredo da máquina do mundo (mesmo que essa mente brilhante seja de um pensador da economia que eu aprecio muito), terá de resultar da capacidade de conjugar produtivamente várias formas de pensar e vários "programas" que até agora concordam mais ou menos naquilo que não querem mas ainda não começaram a discutir como pode fazer-se diferente. O que é notável é que tu (aparentemente) aches isto dispiciendo. Eu acho-o essencial, porque a democracia não é uma discussão académica, é uma comunidade política em movimento.

(4) Já a frase "em termos de governação não poderemos romper com o que está, o António [Costa] tem noção e tem demonstrado na sua actuação que sabe e defende a continuidade" pode parece que se refere ao actual governo, mas não é o caso. Culpa minha ou da peça jornalística, pode não ser evidente que esta frase diz respeito às propostas de Seguro para a governação e às propostas de Costa para a governação (já disse acima qual era o âmbito da peça), significando assim que muito do que Seguro disse contra esta governação e sobre o que há-de ser outra governação de Portugal... nem está errado e pode ter continuidade. Chega? Não chega! É por isso que estou onde estou. Se achasse que chega apoiava Seguro. Contudo, sim, há muitas linhas de continuidade entre o passado do PS e o futuro do PS. Mas isso não é, como tu dizes, "para que tudo fique na mesma".

(5) Aliás, aqui e agora, o melhor contributo "para que tudo fique na mesma" será alinhar na onda de que a diferença entre Seguro e Costa é apenas uma questão de pessoa(s).

Ricardo Paes Mamede disse...

Caro Profírio Silva,

agradeço a atenção que deste ao meu texto. Estamos, naturalmente, de acordo quanto à importância da participação cívica e da agregação das forças que buscam uma saída para o beco em que nos encontramos enquanto país. Não sendo eu militante do PS, veria com muito agrado um maior empenhamento deste e de outros partidos nas direcções atrás referidas.

O aspecto central do meu texto, como percebes bem, não é esse. "Romper com o que está" "em termos de governação" é aquilo que nos deve preocupar a todos. A vontade para discutir e para agregar deve ter sempre bem presente esse propósito. É só isso - e não é pouco.

Porfirio Silva disse...

Certo, Ricardo, concordo inteiramente com a necessidade de romper com o que está em termos de governação. Espero que estejamos entendidos que não podes tirar de uma frase obscura uma declaração minha contra isso. É que, se a frase é obscura (a culpa será minha), o que tenho escrito ao longo dos anos sobre isso não é nada obscuro. Digo eu.

O Puma disse...

Ao quisto chegou

José M. Sousa disse...

Pois, pois, romper com a governação. Quanto à substância do que diz Ricardo Paes Mamede, isso aí é outra conversa.

Anónimo disse...

"Romper com o que está".
É isso aí

E o soberbo "Il gattopardo" a presidir ao post..

Chapeau

De

Jose disse...


"Romper com o que está" "em termos de governação"; 'conjugar produtivamente ... mas ainda não começaram a discutir como pode fazer-se diferente'.

Eis a esquerda no seu melhor: romper é preciso; construir, ver-se-à depois de ganhar eleições; que o poder é o único agregador que se conhece para a enorme variedade de treta que se reclama de esquerda!

Anónimo disse...

Alguém anda profundamente enganado quando diz que "ainda não começaram a discutir como pode fazer-se diferente'.
Não se sabe se tal engano "ledo e cego" resulta desta última condição ou de algo kmais profundo e menos respeitável.

Não é preciso estar muito atento para perceber que tal afirmação é uma rotunda aldrabice.Mas que fazer? O apontar sistemático para via de sentido único origina por vezes estas notas um pouco anedoticas.

O mais do resto são as "tretas" habituais. Se há quem defenda a subnissão rasteira às condições em que vivemos ( e agora não vou escalpelizar os eventuais motivos para tal atitude) há quem tenha uma postura completamente diferente.Porque essa história da alma de escravo não é para toda a gente.Porque de facto se não fosse assim, ainda seriam os esclavagistas a mandar.

De

Anónimo disse...

Porfírio Silva argumenta logo de entrada com o democrático "Você sabe com quem está a falar?", ao explicar que só responde por o interlocutor ser quem é e no blogue que é.

Mas onde bate mesmo no fundo é no ponto 5. Então, não nos quer fazer convencer que existe algo de substancialmente difererente e melhorado para o autarca lisboeta na questão entre Costa e Seguro?

Costa já vimos o que vale, um político rodeado dos Coelhos, dos Vitorinos, dos Lellos, dos Amados, dos Correias de Campos, dos Canas, os de sempre da situação oportunista do PS. Um político autoritário rodeado de gente da Direita e dos interesses.

Mal por mal, prefiro o panhonha.