segunda-feira, 22 de abril de 2013
Gregos
Olhem para a evolução do salário mínimo na Grécia, tomando o ano de 1984 por referência (índice 100): a desvalorização interna faz com que os trabalhadores gregos mais pobres recuem dezenas de anos e com que os trabalhadores gregos, em geral, tenham conhecido, em média, um corte de 11,1% dos seus salários nominais desde 2008. Juntem-lhe os cortes brutais na despesa pública, com o despedimento de dezenas de milhares de trabalhadores a ser uma das faces de cortes acumulados de mais de 20% desde 2010. O investimento total, vá lá perceber-se isto, caiu para menos de metade e o desemprego passou de 12,5%, em 2010, para os actuais 27%. A troika e a teoria económica convencional estão de parabéns. A troika, entretanto, quer aumentar ainda mais os despedimentos no sector público, passando de um objectivo inicial de cento e cinquenta mil para cento e oitenta mil. Sempre a aprender. Lembrem-se destes dados quando alguém ainda afirmar que a Grécia até tem evitado as políticas da troika. Lembrem-se destes dados quando alguém voltar a repetir que a “Europa” é a melhor garantia dos Estados sociais. A União Europeia, em geral, e o euro, em particular, contêm no presente contexto os mais poderosos arranjos institucionais de demolição de tudo o que as classes subalternas conquistaram na escala nacional, onde está a democracia. É por aí, aliás, que as rupturas com estes arranjos começarão.
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3 comentários:
Caro João
Face a tudo isto e muito mais, aquilo que espanta é que a esquerda (com o que me refiro à esquerda mesmo, isto é, o conjunto dos partidos à esquerda do PS) não proclame a saída do Euro e as correspondentes desvalorização, default, nacionalização da banca e controles de capitais como objectivo imediato e central.
A catástrofe em curso, a guerra em curso levada a cabo pelas elites europeias, e pelas suas ramificações/metástases "compradoras" indígenas, contra a democracia.
Em vez disso, não. O Bloco, em particular, recomenda não que resistamos ao ocupante e que procuremos ver-nos livres dele quanto antes, mas que ralhemos e gritemos muito com ele, e que procuremos usar palavras de ordem muito duras e muito "críticas", que o atinjam em cheio "no coração e na mente"...
O problema, João, em suma, é a esquerda portuguesa (do que excluo o PS, claro, partido assumidamente "Roma connosco"), e em particular o Bloco, ser infelizmente mesmo um caso digno de A Vida de Brian.
A triste verdade é que estamos mesmo fritos...
Pois...
Deixando os números para quem os domina...
É inquestionável, o momento civilizacional que vivemos:
Afinal, quem manda?!
A realidade demonstra que a
- supostamente incontornável - democracia representativa em vigor,
não passa de uma esperteza saloia,
para capturar os centros de decisão!
Cada vez que a consulta popular é referida, é vê-los
"fugir... como o Diabo da Cruz!"
O que eles gostam, é de dar a palavra á sociedade civil...
...para eleger o líder do partido!!!
...usar as novas tecnologias, para falar para o seu umbigo! (...no facebook!!!)
...etc!etc!
Usar as novas tecnologias para...
D E C I D I R .
...tá bem...tá!
...a conversa é sempre a mesma:
"...então agora, cada vez que houvesse decisão, tínhamos de consultar?!
...parava tudo!
...eles sabem lá o que é melhor
...nem formação têm!
...etc!...etc!"
O POVO,
terá de ser quem mais
ORDENA.
Tudo certo até aos últimos períodos. A democracia não está na escala nacional nem em qualquer outra escala mais do que noutra qualquer. A democracia está onde um arranjo institucional decorrente de um acordo social sobre o seu funcionamento permite que ela exista. E, depois disso, ainda depende de que tipo de democracia estamos a falar.
Mais do que a escala internacional, a falta de democracia na UE depende desde logo de discursos, como o deste texto, que não referem qual a maioria no parlamento europeu. Podemos afirmar, até, que mais que uma maioria, um governo e um presidente não explicam tudo, em Portugal. A estes três, teremos que juntar a maioria no parlamento europeu e o comando da comissão europeia - de que depende a orientação do BCE e etc; ou, pelo menos, a forma como se autoriza que este se torne um elemento político activo, se me faço entender.
Depois, que a UE esteja mal formulada e tenha sido construída de cima para baixo em nada difere dos arranjos institucionais que os vários países foram construindo isoladamente. E estes foram e vão sendo alterados, para o bem e para o mal. Nada impede, por princípio, que na UE o mesmo não ocorra, para o bem e para o mal.
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