terça-feira, 18 de novembro de 2008

Obamanomics: proteccionismos há muitos

A ficção do comércio livre, segundo a qual os Estados não devem poder moldar ou influenciar o padrão de especialização e de desenvolvimento económico, é um dos produtos intelectuais que os EUA exportam com mais determinação para o resto do mundo. E, no entanto, como lembra Ha-Joon Chang, em oportuno artigo no Financial Times, os EUA são a pátria do proteccionismo.

O apoio previsível do governo norte-americano à indústria automóvel em dificuldades faz parte da tradição da política industrial deste país. Como defende Chang, um apoio temporário bem desenhado e com condições pode facilitar a reestruturação, modernização e viabilização económica deste sector, evitando um processo de destruição industrial e de emprego que sairia muito mais caro. Paul Krugman, cujos modelos de comércio internacional permitem justificar acções de protecção, mas que sempre foi céptico em relação às suas possibilidades práticas, parece agora, com o bom pretexto da crise, apoiar a iniciativa democrata. A crise vai obrigar a muito mais.

Chang assinala um dos padrões a que já aqui tínhamos feito referência: em democracias, um Estado Social forte parece ser um substituto, pelo menos parcial, do proteccionismo comercial directo. De qualquer forma, a política industrial inteligente e o Estado Social são altamente complementares. Como mostra a história dos países desenvolvidos.

12 comentários:

MFerrer disse...

Sobre a existência de Estados Sociais fortes...
Depois de um almocinho MFLeite afirmou hoje:
Defendendo a ideia de que não se deve tentar fazer reformas contra as classes profissionais, Manuela Ferreira Leite declarou: "Eu não acredito em reformas, quando se está em democracia..."."Quando não se está em democracia é outra conversa, eu digo como é que é e faz-se", observou em seguida a presidente do PSD, acrescentando: "E até não sei se a certa altura não é bom haver seis meses sem democracia, mete-se tudo na ordem e depois então venha a democracia"."Agora em democracia efectivamente não se pode hostilizar uma classe profissional para de seguida ter a opinião pública contra essa classe profissional e então depois entrar a reformar -- porque nessa altura estão eles todos contra. Não é possível fazer uma reforma da justiça sem os juízes, fazer uma reforma da saúde sem os médicos", completou Manuela Ferreira Leite.» [da Lusa)
MFerrer

Filipe Melo Sousa disse...

Proteccionismo como política social? Quais seriam as consequências sociais de tais medidas? Se eu boicotasse os produtos chineses, haveria menos fábricas a abrir, atenuava-se o êxodo rural na China, e mantinha-se mais chineses na miséria camponesa do interior, a comer meia tijela de arroz por dia, e a cultivar terra com a enxada 14h por dia. Em vez disso agora na cidade podem trabalhar apenas 10h, e comer duas tijelas de arroz com ovos, peixe, carne, ver tv, comprar roupa varias vezes ao ano, e meter os filhos na escola em vez de os meter nas terras também.

E eu como consumidor sou suposto comprar um produto mais caro para induzir isto? Viva mas é a mão invisível!

Wyrm disse...

"E eu como consumidor sou suposto comprar um produto mais caro para induzir isto"

Pensava que só os pobres rentistas é que se abasteciam de produtos chineses.

Rico ou membro da elite que se preze compra sempre europeu ou americano.

Caramba que o nosso aristocrata objectivista residente é bem pindérico.

Filipe Melo Sousa disse...

Não despreze os produtos chineses, pois estes são de grande qualidade. Esse juízo de valor é desculpa de mau perdedor.

L. Rodrigues disse...

Acho piada o critério Pavloviano das intervenções do FMS... "Proteccionismo?" cá está ele! "Impostos"? pumba! "Mais Estado!" Zás

E depois, claro, nunca fala sobre o conteúdo do post, limita-se a copiar da cartilha o que há a dizer sobre os assuntos do seu ponto de independentemente da relevância, face aos argumentos e contexto, do referido post.
Ainda falavam da cassette do Cunhal...

Wyrm disse...

Filipe,

Toda essa sua cartilha apenas se tornou possível porque os ee.uu, no tempo em que a ayn rand para lá emigrou, era a economia ocidental mais fechada. Os produtos europeus eram taxados na alfandega a 35% ou mais. E refiro-me a TODOS os produtos. Se algo era importado, toca do estado fazer uma lei qualquer e conceder uns subsídios para que esse produto passasse a ser fabricado dentro de fronteiras. 70 anos depois, os ee.uu assobiam para o lado e pretendem impor a países em vias de desenvolvimento a receita que eles próprios não seguiram até atingir a hegemonia (para a qual contribuiu o facto da europa ter sido destruida 2 vezes em menos de 50 anos).

O proteccionismo está bem e recomenda-se, se com ele uma nação conseguir criar as suas próprias fontes de riqueza e desenvolver uma indústria sólida e sustentável.

De resto acho perfeitamente ridicula a sua apologia da china e o seu capitalismo de estado. Vê as imagens dos neons em beijing ou xangai, lê sobre macau e hong-king e por um passe de magia, passa a falar tão bem da china, um país que limita como nenhum outro a liberdade dos seus cidadãos.

Quanto a ser "mau perdedor", sou mau perdedor em quê? Os produtos chineses são de baixa qualidade porque é o que se obtem quando os trabalhadores pouco mais sabem que ler o livro vermelho e assinar o nome. Mesmo o hardware que vem de marcas chinesas, e aqui estou a jogar em casa, costuma ser abaixo do par. Safam-se sim as marcas europeias, americanas e coreanas que apenas utilizam a mão-de-obra chinesa para fazer tarefas que uma pedra com olhos conseguiria.

Enfim, por acaso hoje é um dia calmo e eu até tenho tempo para escrever um pouco. Por isso só lhe faço um pedido. Acabe lá com as respostas asininas do "isso é inveja" ou "desculpas de mau perdedor". Ou quer debater ou não quer. E se não quer debater quer o quê? Trocar insultos?

Decida-se, homem!

Wyrm disse...

E, já agora:

http://news.bbc.co.uk/2/hi/asia-pacific/7735205.stm

Como dis o meu irmão mais novo: VAI BUSCAR!

Wyrm disse...

Como é provável que, a haver resposta, ela vai para a ortografia, é claro que se escreve diz.

Filipe Melo Sousa disse...

Interessante essa abordagem proteccionista como meio de criação de riqueza. Seja portanto coerente e aplique a lógica nacional a nível local. Depreendo que a partir de agora, e de acordo com a sua lógica, os mais necessitados apenas têm que se coibir de fazer negócio com a sociedade. O acto de comércio é uma lose-lose situation em todo e qualquer caso? Pronto, se acredita assim seja. O que é maravilhoso no capitalismo é que você é livre de não fazer trocas ou acumular capital. Você é livre homem. Afinal não precisa da sociedade para nada. Eu também da minha parte considero-o perfeitamente dispensável. Leve consigo a horda de parasitas que precisam dos meus impostos para viver. Bon voyage.

Anónimo disse...

Outro exemplo interessante de proteccionismo é o das despesas militares, via indirecta seguida na América para subsidiar empresas de ponta...

Wyrm disse...

Boa resposta Filipe.
Totalmente vazia de sentido e conteúdo.
Escrever para não ficar quieto.
Compara alhos com bugalhos como a politica macro-economica de uma nação com a economia de uma localidade.
Bravo.
O Filipe de facto adiciona valor ao debate.

Filipe Melo Sousa disse...

Se depender de mim, a si não lhe adiciono nada. Para isso tem de me coagir de forma cobarde pela força de uma arma. Aliás, é desse modo que funciona a sociedade que considera justa...