sábado, 28 de junho de 2008

Rectificação de um erro

Num post que fiz neste blogue acusei injustamente o PS de não se ter oposto ao projecto de directiva da UE sobre a duração máxima do tempo de trabalho por semana tal como fez, por exemplo, a Espanha/PSOE. Venho por isso reconhecer o erro e lamentá-lo.

Na mesma linha, escrevi no Público de 23/6/2008: “Uma notícia recente do PÚBLICO (11/6/08) relatava que foi aprovado pela UE um projecto de directiva que prevê que o horário de trabalho semanal se possa estender até às 65 horas. Tal opção foi descrita como “a Europa dos patrões” (Manuel António Pina, JN, 11/6/08), “o regresso ao século XIX” (PSOE) e a criação de “uma sociedade de escravos” (Dom Januário T. Ferreira, Expresso, 21/6/08). Segundo a notícia, apenas Espanha, Grécia, Hungria, Chipre e Bélgica declararam firme oposição à directiva, no sentido de que não venha a ser aprovada pelo PE. Perante o silêncio do governo, fica a ideia de que uma boa dose de europeísmo crítico só faria bem ao PS.”

Porém, o assessor de imprensa do Ministério do Trabalho e da Solidariedade (MTS), José Pedro Pinto, bem como alguns leitores deste blogue (e o meu amigo Pedro Adão e Silva), advertiram-me que errei.

Escreveu-me José Pedro Pinto (num email): "Fala o Dr. André Freire do "facto" de Portugal, via Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, ter acompanhado a proposta da Presidência em exercício da União Europeia que pretende alterar a directiva do tempo de trabalho. Ora, dispensando-me eu de detalhar que as alterações propostas (que ainda têm que ser aprovadas pelo Parlamento Europeu) apenas se referem ao chamado opt-out, mecanismo apenas accionado na UE pelo Reino Unido, e não ao tempo de trabalho semanal (48 horas na UE, 40 horas em Portugal), apenas quero informá-lo que Portugal se posicionou contra esta proposta de directiva (exactamente a mesma posição adoptada pelo Governo espanhol)."

Reconheço o meu erro e lamento-o.

Porém, tal deveu-se a uma notícia do Público que não vi desmentida pelo Ministério do Trabalho e da Solidariedade.

Dizia o Público de 11/6/08, página 38: “A confederação europeia de sindicatos (ETUC) reagiu com uma posição oposta, considerando «inaceitável» a decisão. Esta posição é partilhada pela Espanha, Bélgica, Grécia, Hungria e Chipre, os cinco países que criticaram veementemente os termos do acordo, face ao qual se abstiveram. Os cinco pretendem agora convencer o Parlamento Europeu, co-legislador com os governos, a alterar a decisão num sentido mais favorável aos trabalhadores.”

Ora, o meu artigo é perfeitamente consistente com a notícia. (excepto na inferência interpretativa que fiz, “Perante o silêncio do governo, fica a ideia de que uma boa dose de europeísmo crítico só faria bem ao PS.”, que é isso mesmo: uma inferência interpretativa, uma inferência a partir de um facto; mas o facto relatado, que é o que o MTS identifica como errado, está consistente com a notícia, até mesmo o suposto “silêncio do governo”)

A notícia foi desmentida efectivamente (no Público) e escapou-me?

Sinceramente, não vi.

Se foi, há um lapso meu e só meu porque isso me escapou.

Mas se não foi, então eu apenas fui induzido em erro por uma notícia (de um jornal de referência a que dou inteira credibilidade) que não vi desmentida.

Neste caso, dir-me-ão que eu poderia ter feito mais pesquisa para validar a notícia, mas creio que também compreenderão facilmente que a feitura de um artigo de jornal não implica, a maior parte das vezes, que vamos fazer validação de notícias saídas em jornais de referência (sobretudo quando não as vimos desmentidas).

Dir-me-ão, também, que eu poderia ter contextualizado a notícia. Poderia, sim, mas estou certo que compreenderão também que não o fiz porque esse não era o assunto central da crónica.

É que, se o MTS não clarificou/desmentiu o teor da notícia, e ela de facto induz em erro, então talvez devesse tê-lo feito (se, como parece, e bem, dá bastante importância ao assunto).

Finalmente, enquanto cidadão português, fico muito contente em saber que “Portugal se posicionou contra esta proposta de directiva (exactamente a mesma posição adoptada pelo Governo espanhol)”, mas não é isso que qualquer leitor infere da referida notícia.

4 comentários:

Rui Moreira disse...

"Se não temo o erro é porque estou sempre disposto a corrigi-lo"
Bento de Jesus Caraça

Anónimo disse...

André Freire,
O assessor do ministro pode fazer todos os desementidos. É pena é ter torcido a verdade. O governo não votou contra, limitou-se a não votar a favor (foram provavelmente fumar na altura)... E, ao contrário de Espanha e de outros países não fez nenhum comunicado a tomar uma posição contra a directiva. Quis ficar bem com Deus e bem com o diabo. Por isso mesmo, desmentiram a tua crónica, mas não negaram a notícia do Público que é factualmente verdadeira.

Abraço,
Nuno Ramos de Almeida

Luís disse...

Tudo o mais, eu também li no próprio dia essa notícia do Público e, confrontada com o que vinha nas edições do Financial Times ou do Diário Económico que também consultei, ela é primeiro que tudo relevadora de um mau serviço de informação.

A notícia é toda ela incompleta, generalizadora dos factos e, atrevo-me a dizer, tendenciosa: puro "Bruxelas dixit"; o avesso da prática de um jornalismo (crítico?) objectivo e imparcial.

Parece-me que merecia mais uma reprimenda do Director do Jornal ou, isso sim, do esmerado Provedor do Leitor que um desmentido: lá não há nada que seja mentira, mas ao contrário, só lá há meias verdades!

Mas mais do que isso, o assunto devia ter merecido uma maior cobertura nos dias a seguir, mais não fosse que para esclarecer a notícia anterior, o que julgo que não aconteceu. O que aliás foi um comportamento transversal à generalidade doa comunicação: porque as notícias que passavam, lembro-me da que deu no Telejornal, além de parca, deixava a ideia que as 65 horas eram mesmo para aplicar em Portugal; isto só posso interpretar como wishful thinking do jornalismo português!!!

Pergunto, o que seria, se algo dessa gravidade tivesse mesmo sido acordado para a generalidade da União Europeia: poucos se pareciam ralar; irreal (ou ensaio geral?). Mas, enfim, não foi nada, foi só um susto, foi apenas o "trabalhismo a trabalhar".

Anónimo disse...

Nuno Ramos de Almeida,

Não é verdade que o governo não tenha tomado posição.
Ver aqui:
http://www.portugal.gov.pt/Portal/PT/Governos/Governos_Constitucionais/GC17/Ministerios/MTSS/Comunicacao/Notas_de_Imprensa/20080611_MTSS_Com_Directiva_Tempo_Trabalho.htm

E também um esclarecimento: quando o assessor diz que «se posicionou contra» quer dizer que se absteve. Tal como os outros 6 países.