quinta-feira, 5 de junho de 2008

Obamanomics?

Agora que Barack Obama é o candidato do Partido Democrata, vale mesmo a pena ler esta recensão na New York Review of Books a um livro de economia comportamental e de políticas públicas. Algumas das propostas de Obama parecem ser influenciadas por uma corrente que está a revolucionar a economia ortodoxa. Tudo começou com um conjunto de críticas incisivas à ficção do homem económico racional. Construir uma «arquitectura da escolha» que permita a tomada de decisões individuais e colectivas mais informadas e adequadas é umas das ambições. É ambíguo do ponto de vista político, mas muito interessante. Hei-de escrever mais sobre este tema.

4 comentários:

L. Rodrigues disse...

Falamos do Paternalismo Libertário? É muito interessante o efeito que as palavras têm na recepção e percepção das ideias.
Há quem fique desde logo todo arrepiado com algumas. Paternalismo é uma delas, claro. Acho que os liberais intransigentes devem ficar com hérnias só de ouvir a expressão.
Só por causa disso vou repetir: Paternalismo Libertário.

Pedro Viana disse...

Este post menciona algo extremamente interessante e que vai ao âmago do que precisa de ser hoje discutido na Esquerda: como e quanto deve o Estado intervir na sociedade, nomeadamente a nível económico? Deve o Estado dar mais ênfase a medidas negativas, proibindo/regulando, ou positivas, dando incentivos à mudança de comportamentos? Keynesian vs. behavioral economics? Deve o Estado (ostensivamente) controlar ou (subtilmente) incentivar? Pessoalmente acho que a resposta é ambos. No entanto, acho que a tradição históricamente dominante na Esquerda tem-se preocupado mais em controlar do que em incentivar. Para além da questão de defesa do princípio da maximização da (real) liberdade de escolha, que deve ser parte do ideal da Esquerda (por oposição à defesa da liberdade da escolha do Eu, mesmo que em prejuízo de outros, da Direita), acho que respostas essencialmente proibicionistas não são sustentáveis a longo-prazo, nem eficientes na mudança necessária de comportamentos. As pessoas mudam mais facilmente de comportamento se se convencerem de que o que fazem é no seu interesse.

Um extracto do primeiro link:

"Libertarian paternalism is a relatively weak, soft, and nonintrusive type of paternalism because choices are not blocked, fenced off, or significantly burdened. If people want to smoke cigarettes, to eat a lot of candy, to choose an unsuitable health care plan, or to fail to save for retirement, libertarian paternalists will not force them to do otherwise—or even make things hard for them. Still, the approach we recommend does count as paternalistic, because private and public choice architects are not merely trying to track or to implement people's anticipated choices. Rather, they are self-consciously attempting to move people in directions that will make their lives better. They nudge.

A nudge, as we will use the term, is any aspect of the choice architecture that alters people's behavior in a predictable way without forbidding any options or significantly changing their economic incentives. To count as a mere nudge, the intervention must be easy and cheap to avoid. Nudges are not mandates. Putting the fruit at eye level counts as a nudge. Banning junk food does not."

Não acho de todo que apenas "nudges" sejam suficientes, mas muitas vezes acabam por ser bem mais eficientes na resposta individual e societal que se pretende ilicitar. O que é preciso é inteligência na sua definição e uso, o que necessita duma compreensão aprofundada da teia de relações sócio-económica que permeia uma sociedade. Não consigo imaginar desafio mais interessante para economistas e sociólogos do que construir medidas deste tipo ;)

Anónimo disse...

Um belo postal, caro João - afirmação esta, perfeitamente escusada, dados os extensos comentários anteriores e os elogios que comportam, não fosse também eu fazer questão de dar uma nota positiva, para que não prevaleça a impressão decorrente de comentários anteriores mais criticamente negativos.

O assunto é de facto muito oportuno e interessante. Estive a ler (ainda em diagonal, confesso) os documentos lincados e fiquei com vontade de aprofundar o assunto.
Uma 1ª opinião. Fico um pouco céptico relativamente aos resultados práticos deste modelo. Confesso que não gosto muito de engenharias sociais porque podem ser muito mal utilizadas - e, como é sabido, se podem sê-lo, virão a sê-lo, mais cedo ou mais tarde. Se juntarmos à teoria (bem intencionada, certamente) da "influênciação" positiva aos recentes avanços das técnicas de neuro-marketing, o resultado pode ser uma brutal anti-utopia das piores.
Numa altura em que o terceiro mundo explode em termos económicos, copiando os modelos de desenvolvimento ocidentais, baseados no uso intensivo (deveria dizer abusivo) de energia, matérias primas e ambiente, insustentáveis mesmo a médio prazo, seria muito mais seguro e preferível que o desenvolvimento económico passasse pela aplicação de teorias como a da "tecnologia intermédia" do Schumacher.
Acho que já me alonguei outra vez...
Fico na expectativa de mais informações aqui sobre este tema.

CCz disse...

Não sou economista, não conheço o suficiente da História das Ideias em Economia, mas gosto de ler coisas que me ajudem a perceber melhor a micro-economia, que é a área onde actuo.
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Quanto à referência que indica "Behavioural economics:
seven principles for policy-makers", não a acha muito semelhante a correntes que na sua linguagem seriam catalogadas de direita?
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Sei que é perigoso, porque redutor, etiquetar ideias. Contudo, quase que consigo aplicar cada um dos princípios da brochura, a capítulos de um livro que se farta de citar Milton Friedman: "The Social Atom - Why the Rich Get Richer, Cheaters Get Caught, and Your Neighbor usually looks like you"
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Princípio 1 versus Capítulo 5 "The Imitating Atom"
Princípio 2 versus Capítulo 1 "Think Patterns, Not People"
Princípio 3 versus Capítulo 6 "The Cooperative Atom"
Princípio 5 versus Capítulo 3 "Our Thinking Instincts" onde o autor refere o "loss aversion instinct"
Princípio 5 versus Capítulo 8 "Conspiracies and numbers" mas é verdadeiramente todo o livro.
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"First, it turns out that sometimes we just cannot be rational, no matter how hard we try. Second, even when we can be rational, most of us, as a rule, aren't. And third - that's generally okay, because we have other ways to make decisions that are just as good, and often better."