terça-feira, 10 de junho de 2008

Energias Renováveis e Política Industrial

Um dos efeitos positivos da actual crise petrolífera é o incentivo que é dado à aposta nas energias renováveis. A investigação neste campo ainda está longe de fornecer alternativas robustas a uma economia dependente dos combustíveis fósseis, apostando-se simultaneamente em várias direcções (energia eólica, solar, biocombustíveis). Um dos campos mais interessantes, embora embrionário, é o da energia das ondas. A The Economist desta semana traz um interessante artigo sobre esta forma de energia, cuja investigação foi iniciada com a crise petrolífera dos anos setenta e suspensa, segundo a revista, devido ao lobby nuclear. O tema interessa de sobremaneira a Portugal, já que o nosso país, graças às suas condições naturais favoráveis, é o palco do primeiro campo de exploração comercial da energia das ondas, situado ao largo da Póvoa de Varzim. Esta experiência pioneira, desenvolvida por uma empresa escocesa, não está a correr como previsto. As condições climáticas e subsequente influência na superfície do mar não foram as inicialmente previstas, sendo os valores relativos às características da agitação marítima, nesta zona, superiores ao esperado. Tendo em conta que o dimensionamento do sistema PELAMIS foi feito para determinadas condições de agitação marítima que não se verificaram neste caso, o aproveitamento energético não foi óptimo.

Estes primeiros revezes mostram a importância que o Estado poderá ter na dinamização deste sector. Tal dinamização não parece fazer parte da estratégia do Governo, cuja presença e investimento são tímidos. Por exemplo, é notório que os recentes revezes se devem ao estudo pouco aprofundado na caracterização da agitação marítima na orla costeira portuguesa e respectiva interacção do mar – estrutura.

Só o Estado pode investir os recursos necessários, em colaboração estratégica com actores privados e universidades nacionais, no desenvolvimento, assumidamente arriscado, desta tecnologia de ponta. A prazo, o nosso país poderá beneficiar, graças às brutais e crescentes economias de escala do sector, de rendas tecnológicas vitais na, altamente concorrencial, economia internacional. Foi o que aconteceu na Dinamarca, nos anos oitenta, com a tecnologia eólica. Na altura este país e os EUA apresentavam-se como os dois grandes concorrentes desta tecnologia nascente. Graças à concertação, promovida pelo Estado dinamarquês, de empresas públicas, privadas e das universidades, este conseguiu uma clara vantagem face ao EUA, onde cada empresa trabalhava sozinha, beneficiando somente de apoios financeiros públicos. Hoje, são as empresas dinamarquesas as grandes ganhadoras da recente explosão da procura de energia eólica...

Obrigado à Maria João pela ajuda técnica.

2 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
NC disse...

«Só o Estado pode investir os recursos necessários»

Porque "só" o Estado? Porquê este atestado de menoridade ao sector privado? Porque não existe um mercado de energia digno desse nome?