sábado, 7 de junho de 2008

Dissonância cognitiva, sindicatos e bem comum

O ministro Vieira da Silva é um dos mais penosos exemplos do que aconteceu à esquerda do PS que se comprometeu a fundo com as orientações do «socialismo moderno» socrático. Estão num plano inclinado que os leva a ser parte activa da neoliberalização gradual do país. E já se sabe que a dissonância cognitiva pode gerar, neste e noutros contextos, uma modificação dos princípios que devem guiar as políticas. Talvez isto explique a abismal diferença entre o que Vieira da Silva, militante do PS, disse sobre a reforma Bagão Félix da legislação laboral e o que Vieira da Silva, ministro de Sócrates, diz e faz hoje no governo. Felizmente, a hierarquia da nossa conservadora Igreja Católica decidiu acompanhar os católicos progressistas e acordar para os temas socioeconómicos que contam. Ainda bem porque a sua doutrina social tem importantes contributos críticos a dar e porque a Igreja ainda é uma força política com peso na sociedade portuguesa. Vieira da Silva foi justamente confrontado com as criticas de muitos católicos atentos numa sessão organizada pela Associação Católica do Porto: «Nas intervenções da plateia, a oposição às propostas de Vieira da Silva foi unânime entre os católicos, e ouviram-se críticas ao favorecimento dos patrões, que ‘querem facilidades’ para despedir os trabalhadores» (esquerda). O Bispo do Porto D. Manuel Clemente afirmou sensatamente que «as organizações sindicais, perseguindo o seu fim específico ao serviço do bem comum, são um factor construtivo de ordem social e solidariedade, portanto um elemento indispensável da vida social (. . .) Sem pressão sindical poderia acontecer que a administração pública se esquecesse do seu papel» (Público). Observações muito oportunas perante um ministro de um governo autista e apostado em retomar a ideia de que é preciso partir a espinha ao movimento sindical. Apesar disso, e revelando uma aguda compreensão do que está em causa, muitos trabalhadores não desistem da acção colectiva organizada. Foram 200 000 em Lisboa. Nunca a defesa do bem comum passou tanto pela rua.

1 comentário:

José Manuel Dias disse...

Acaso conhece a palavra "globalização"? Fiquei com dúvidas...