quinta-feira, 19 de junho de 2008

A inflação não é um problema monetário (I)

A semana passada foi animada pelas declarações de Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve norte-americano, onde este, assinalando que o pior da crise financeira talvez já tenha sido evitado, se mostrou agora preocupado pela galopante taxa de inflação norte-americana. Aparentemente, Bernanke espera influenciar as expectativas dos agentes económicos e assim tentar estancar a desvalorização do dólar, que, ao tornar as importações mais caras, contribui para o aumento generalizado de preços. Porém, o seu congénere europeu Jean Claude Trichet, dois dias depois, foi mais longe e anunciou uma iminente subida (mais uma) das taxas de juro. O que não nos deve surpreender sabida que é a obsessão do BCE com a estabilidade dos preços.

Se, como estamos fartos de saber, a actual inflação se deve sobretudo ao aumento dos preços do petróleo e bens alimentares, porque é que são os bancos centrais a tratar do problema? A explicação reside em Milton Friedman e na sua teoria monetarista, ainda muito influentes nas actuais opções políticas das autoridades monetárias. Para os monetaristas a inflação é sempre um fenómeno monetário, consequência de um excesso de moeda a circular na economia em relação ao seu produto. A culpa é, pois, sempre das autoridades monetárias, nunca do mercado)... Assim, com uma subida da taxa de juro o BCE estará a tornar o crédito mais difícil. Com menos gente a recorrer a empréstimos, a massa monetária diminuirá e a inflação ficará controlada.

No entanto, sabemos que uma subida da taxa de juro reduzirá as pressões inflacionistas, não tanto através de um qualquer ajustamento da moeda em circulação, mas sobretudo devido ao estímulo recessivo que transmite à economia (os famosos canais de transmissão monetária keynesianos). A moeda não é neutra. Com taxas de juro mais elevadas, o investimento e o consumo tornar-se-ão mais caros, reduzindo a procura na economia. Estamos assim perante uma recessão induzida pela política monetarista do BCE.


1 comentário:

Anónimo disse...

O problema do BCE é que ele apenas se preocupa com a inflação. A solução passa por alterar os estatutos do BCE para que este dê igual importância à inflação e ao crescimento económico, tal como faz aFED. Para além disso, o BCE deveria preocupar-se com a inflação core, que exclui os preços dos combustíveis.
Também é legítimo pensar que um aumento da taxa de juro neste momento só irá agravar o risco de estagflação: inflação e estagnação económica, que nos anos 70 foi tão prejudicial para a economia europeia. E uma política restritiva não irá resolver o problema de fundo, que é a alta dos preços das matérias-primas.