terça-feira, 3 de junho de 2008

O preço do casino

George Soros, o famoso especulador, filantropo e autor de um interessante livro sobre a actual crise do fundamentalismo de mercado, chama hoje a atenção para o facto da especulação, realizada pelos grandes fundos de investimento nos mercados de futuros das matérias-primas (petróleo) ou dos bens alimentares, estar a impulsionar os preços de forma exagerada e a gerar perigosas bolhas. Soros defende igualmente que estes mercados não são «uma classe de activos legítima para os investidores institucionais» (Financial Times). Ao contrário do romance de mercado que corre na blogoesfera lusa, a especulação sem freios, realizada por instituições que concentram grandes massas de capital, é hoje um poderoso elemento de volatilidade e de desestabilização das economias. Externalidades negativas a corrigir. Nada que John Maynard Keynes não tenha assinalado há mais de setenta anos: «Os especuladores são inofensivos se forem bolhas numa corrente empresarial incessante. Mas as coisas tornam-se preocupantes quando a empresa se transforma em bolhas num turbilhão de especulação. Quando o desenvolvimento do capital de um país se converte num subproduto das actividades de um casino, é provável que o trabalho esteja a ser mal feito».

15 comentários:

José M. Sousa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
F. Penim Redondo disse...

Quem ainda não percebeu que já não está no tempo em que Marx dizia "um casaco é um casaco" não vai longe.

Há muito que o capitalismo vive das metamercadorias, que não são mais do que expectativas acerca de objectos que muitas vezes nem sequer existem, ou não existem ainda. Não se trata de qualquer aberração mas de uma evolução imparável.

É contra este capitalismo que importa hoje lutar mas com armas actualizadas.

Anónimo disse...

...'este capitalismo'... mas há outro? com esse outro já se pode 'conviver'?

Anónimo disse...

Antigamente havia outro...

Luís disse...

1. Pois olhe que o Marx nunca disse que um "casaoo era um um casaco"; nem que "dinheiro era dinheiro". Pelo contrário, "dinheiro" é em última instância "casaco". Se aceita o conceito marxista de mercadoria, "metamercadoria" seria uma contradição nos seus próprios termos: lavar o chão é tão mercadoria como uma cadeira, como o Windows XP ou um serviço de consultadoria.

2. A única arma actualizada possível será, assim, e nos limites do sistema, a luta generalizada contra a mercadorização todo-abrangente.

3. Os objectos que fala existem sempre, nem que existam apenas como ficção do sistema (valor instantâneo num sistema electrónico de negociação). O que importa são as suas repercussões: o valor ficicionado do preço do petróleo não deixa de ter impactos no preço daquilo que precisa para comer ou do modo como se desloca no quotidiano.

4. Um contato derivado não é uma coisa má em si mesma. A especulação em derivados é uma coisa que existe desde sempre; é aliás responsável por 98% dos contratos negociados. Tudo bem; ainda estaríamos dentro da hipótese de mercados eficientes (random walks).

5. Mas o que acontece quando a evidência se desfaz? Quando nos aproximamos perigosamente do ponto de ruputura? Will the system hold? Se fosse pessoa ilustrada, teria que lhe expor o Modelo Generalizado dos Desequilíbrios Económico-financeiros Acumulados..

Anónimo disse...

O problema não são os especuladores convencionais (esses ganham quer com as subidas quer com as descidas dos preços), mas sim um novo tipo de "especulador" (que nem sei se se deva chamar assim) que são os Fundos indexados, que só compram, não vendem. Esta pressão compradora é que faz disparar o preço.

Aliás podem ver mais informação aqui:
http://hsgac.senate.gov/public/_files/052008Masters.pdf

Estima-se que que a procura de petróleo por estes fundos iguala ou quase iguala a procura pela China da mesma commodity!

Alem disso existem mais uma série de outros detalhes importantes uma vez que não possuem limite de posições, visto serem catalogados como commercials e não como especuladores.

Alguns exemplos dos fundos que estou a falar são os Fundos soberanos, o Fundo de Pensões dos funcionários públicos Californianos, ou o maior fundo de pensões dos EUA.

Anónimo disse...

Este capitalismo é o melhor sistema que existiu até hoje.. é como aquela frase do Churchill sobre a Democracia..

Para além do modelo socialista, qual é a proposta deste blog?

Luís disse...

Ao Sr. Pedro Gomes

1. Pois reconheço que uma estratégia desse tipo possa estar a ser erigida. O que me intriga, então, é para onde é q as perdas estão a ir parar, porque o mercado de futuros é um mercado de soma nula.
A especulação em derivados tanto pode ganhar com a subida como com a descida de cotação, é verdade; mas sempre que há um ganho, há também uma perda. Quando um fundo constitui um posição longa (expectativa de ganhar com a subida) alguém teve que adquirir uma posição curta (inverso): com a variação da cotação efectivam-se ganhos ao mesmo tempo que perdas. O q parece que também acontece é que estão a negociar contratos para maturidades muito longas (5 anos), o que protela o reconhecimento total dos ganhos e perdas (embora com a subida de cotação, para aquele que tem a posição curta, haja "chamadas de margem" - cobertura do prejuízo potencial): haveria assim condições para que se formasse uma bolha especulativa, com a chegada ao mercado de novos fundos em posição compradora a guiar os as cotações numa deriva ascendente.

2. Mantenho é que uma estratégia dessas não pode ser mantida por muito mais tempo. O momento da verdade não pode ser adiado indefinidamente. Porque se o contrato de futuros é uma cotação derivada, o preço actual (.. ou daqui a 5 anos) do activo subjacente é que é suposto comandar as cotações. A não ser que os mercados de futuros tenham virado o mundo ao contrário: isso até pode ser possível no mercado do crude onde há uma oferta relativamente estagnada, mas no mercado alimentares não podemos dizer o mesmo..

3. Sendo assim, só pode estar para breve uma regressão espetacular, tão espetacular como foi a recente ascensão. A não ser que o preço se mantenha alto por outras pouco esclarecidas razões... e a especulação apenas apanhou uma boleia.

F. Penim Redondo disse...

Para o João Marco:

"Um casaco não se troca por um casaco, um valor de uso não se troca por esse mesmo valor de uso"

Karl Marx, O Capital,Edições Avante, Livro 1º, Tomo 1, 1ª Secção,Cap. 1, página 53.

Luís disse...

1. Essa citação eventualmente dá-me mais razão a mim do que a si. Pois afinal um casaco, enquanto valor de uso, não se troca por outro casaco, enquanto valor de uso; se eventualmente eles fossem de côr ou corte diferente e a troca satistizesse os desejos(coincuidentes) dos dois intervenientes.

2. O que rejeito em absoluto é a sua referência a uma meta-mercadoria, como se os intangíveis não caissem na conceito marxista de mercadoria. O que Marx reclama como sua descoberta, e na sua maioria a tradição marxista segue, é a subversão, pela lógica do capital, do valor de uso das mercadorias pelo seu valor de troca: as mercadorias produzidas deixam de ter como objectivo primeiro a satisfação das necessidades humanas objectivas e passam a existir como suporte de um processo de valorização do capital: a sua citação faz parte do desenvolvimento desse raciocínio.

F. Penim Redondo disse...

Caro João Marco

Marx define a mercadoria na primeira secção, do Tomo I, do Livro Primeiro de O Capital (1867):

1. “A mercadoria é, antes de mais, um objecto exterior, uma coisa, que, por meio das suas propriedades, satisfaz necessidades humanas de qualquer espécie. A natureza dessas necessidades, quer surjam, p. ex., do estômago ou da fantasia, em nada modifica a questão.” (Edições Avante 1990, pag. 45).

Nesta parte da definição admite-se que as necessidades humanas tanto podem resultar de processos básicos “automáticos” (por ex. necessidade de alimentação) como de mecanismos mentais complexos.

A utilização da palavra fantasia em contraponto ao estômago, mesmo que não tenha sido intencional, pode indiciar que Marx desvalorizava as necessidades “intelectuais” comparativamente com as necessidades “físicas”.


2. “A utilidade de uma coisa fá-la um valor de uso...Condicionada pelas propriedades do corpo da mercadoria, ela (a utilidade) não existe sem ele...Este seu carácter não depende do facto de a apropriação das suas propriedades de uso custar ao homem muito ou pouco trabalho” (Edições Avante 1990, pag. 46)

Portanto a utilidade é carácter da coisa pelas propriedades do seu corpo e independente da quantidade de trabalho humano necessária para a obter.

A utilidade ou existe ou não existe (nesse caso a coisa é inútil) e não é aflorada sequer a hipótese de uma coisa ser mais ou menos útil.

Também não é posta a hipótese de uma coisa ser útil para uns indivíduos e não para outros.

3. “O valor de troca aparece, antes de mais, como a relação quantitativa, a proporção na qual os valores de uso de uma espécie se trocam por valores de uso de outra espécie, uma relação que muda constantemente com o tempo e o lugar.” (Edições Avante 1990, pag. 46)

Esta caracterização do valor de troca situa-se claramente num contexto social em que a generalidade dos trabalhadores produz bens “trocáveis” (mesmo que por intermédio da moeda) e precisa de saber que quantidade deve entregar para obter um outro bem pretendido. Na nossa época a generalidade dos trabalhadores, participantes de processos de produção complexos em que impera a manipulação da informação em fases sucessivas, teriam muita dificuldade em identificar os resultados “trocáveis” do “seu trabalho”.

4. “Um valor de uso ou bem, portanto, apenas tem um valor (de troca) porque nele está objectivado ou materializado trabalho humano em abstracto...A quantidade de trabalho mede-se ela própria pela sua duração no tempo, e o tempo de trabalho, por seu turno, possui como padrão de medida determinadas partes de tempo, como hora, dia, etc.” (Edições Avante 1990, pag. 49)

Ao relacionar o valor de troca com o tempo de trabalho “materializado” nas mercadorias Marx situa-se claramente no contexto social indicado em 3.

Faz todo o sentido comparar o tempo que alguém demorou a produzir um bem com o tempo que lhe “custaria” produzir um outro bem que pode ser obtido por troca com o primeiro.

5. “Tempo de trabalho socialmente necessário é tempo de trabalho requerido para produzir qualquer valor de uso nas condições de produção dadas, socialmente normais, e com grau social médio de habilidade e intensidade do trabalho.” (Edições Avante 1990, pag. 50)

...“Portanto, é apenas o quantum de trabalho socialmente necessário para a produção de um valor de uso que determina a magnitude do seu valor (de troca)“ (Edições Avante 1990, pag. 50)


Estas definições têm por objectivo evitar que as diferenças entre os tempos individuais de produção levassem a que a uma mercadoria produzida por um trabalhador mais lento correspondesse um valor de troca superior já que o seu tempo de produção teria sido maior.

Tem implícito o convencimento de que os potenciais “trocadores” conhecem o tempo de produção em condições “socialmente normais” mesmo que não conheçam o tempo gasto num bem específico, por um produtor específico, quando pretendem adquiri-lo.

6. “Originariamente, a mercadoria surgiu-nos como algo biface: valor de uso e valor de troca. Verificou-se mais tarde que também o trabalho, na medida em que está expresso no valor, já não possuía as mesmas características que lhe cabiam como gerador de valores de uso. Esta natureza biface do trabalho contido na mercadoria foi em primeiro lugar apontada criticamente por mim. Como este ponto é o fulcro em volta do qual gira a compreensão da economia política, temos agora de o esclarecer mais de perto.” (Edições Avante 1990, pag. 52)

...“Para se tornar mercadoria o produto tem de ser transferido por meio de troca para o outro a quem serve como valor de uso. Finalmente nenhuma coisa pode ser valor sem ser objecto de uso. Se for inútil, então também o trabalho nela contido é inútil, não conta como trabalho e não forma, por isso, qualquer valor” (Edições Avante 1990, pag.52)

O valor de uso e o valor de troca são as duas faces da mercadoria mas não têm uma convivência pacífica; enquanto o valor de uso repousa na faceta qualitativa do trabalho o valor de troca baseia-se apenas no aspecto quantitativo do trabalho. Como se pode ver Marx considerava esta questão fulcral.

7. "Um casaco não se troca por um casaco, um valor de uso não se troca por esse mesmo valor de uso” (Edições Avante 1990, pag. 53)

Esta afirmação é coerente com a citada em 2. e constitui uma boa ilustração do que se referiu quanto à ausência do grau de utilidade, ou mesmo de um universo de utilidade, para os bens. Pela afirmação citada acima parece querer defender-se que um casaco é tão útil como outro casaco qualquer, seja para quem for.

Luís disse...

1.Marx pretende alcançar uma objectivação dos processos de troca na sociedade como um todo; por isso saber se para mim ou para ti determinada mercadoria tem menos ou mais utilidade é de somenos importância; isso é o que os marginalistas vão fazer, numa deriva metodológica que se arrasta até hoje, e onde o valor é reduzido à sua mais pura dimensão subjectiva: inversão completa das bases em que Marx operava, com muito prejuízo para uma ciência quer se diz social.

2. Marx apoia o seu livro numa, por si desenvolvida, teoria do valor-trabalho; que não sustento que não tenha falhas, mas onde não deixa de considerar características que hoje reportamos às supostas economias do conhecimento:

"Le travail simple moyen change, il est vrai, de caractère dans différents pays et suivant les époques; mais il est toujours déterminé dans une societé donnée. Le travail complexe (skilled labour, travail qualifié) nést qu'une puissance du travail simple, ou plutôt n´est que le travail simple multiplié, de sorte qu´une quantité donnée de travail complexe correspond à une quantité plus grande de travail simple" (Le Capital, éditions sociales, pag.59).

3. A dialéctica valor de uso-valor de troca esta efectivamente no cerne da teoria de Marx, e eu não tenho sustentado outra coisa. Não podemos reduzir a questão à medição individual das diferentes qualidades de mercadorias para diferentes indivíduos determinados. Há uma razão sistemática, que sob a lógica das relações capitalistas de produção e distribuição, não deixa de vir ao de cima: a contradição gritante entre a satisfação de necessidades humanas (valor de uso) e os imperativos de valorização do capital (valores de troca), as implicações distributivas que tal origina e as crises económico-financeiras que se arrastam durante o processo..

4. Quanto ao "tempo de trabalho socialmente necessário"; essa história fica para depois.

F. Penim Redondo disse...

Caro João Marco

Históricamente os homens relacionaram-se com a mercadoria de formas diferentes a saber:

Antes do advento da comunicação de massas – as decisões de aquisição eram, na maior parte dos casos, tomadas com base na informação projectada pela própria mercadoria e o acto de trocar/comprar era efectuado na presença da mercadoria.

Após o advento da comunicação de massas – a decisão é geralmente tomada com base numa “imagem” publicitária da mercadoria (meta-informação) mas a compra ocorre na presença da mercadoria.

Na era digital – a decisão tem cada vez mais como base “representações” digitais da mercadoria (por exemplo na Internet) e a compra efectua-se, cada vez mais, sem a presença da mercadoria.

A fantástica capacidade digital para multiplicar réplicas de representação da mercadoria levou ao extremo o processo de separação da decisão e do acto da compra relativamente à mercadoria. A mercadoria pode até nem existir senão a partir do momento em que decidimos adquiri-la já que pode, ela própria, ser objecto de replicação quase instantânea com recurso a quantidades quase nulas de trabalho vivo. A distinção entre produção e circulação esbate-se ou extingue-se.

Pode dizer-se que em muitos casos a maior parte do trabalho, e do custo, ocorrem na produção das representações da mercadoria e não da própria mercadoria. Em qualquer caso quando hoje falamos de mercadoria é preciso considerar o conjunto constituído pela mercadoria e pelas suas representações no mercado.

Se no passado as mercadorias já comportavam muito trabalho que não era directamente produtivo (concepção, engenharia, design, estudos de mercado) hoje esse trabalho, independente das quantidades produzidas, contribui em muito maior escala para o valor das mercadorias já que ocorre também ao nível das suas representações. Torna-se portanto quase impossível ter o tempo de trabalho como critério de valor das mercadorias.

Os consumidores não só tomam as suas decisões sobre mercadorias ausentes como estão cada vez mais perante processos de escolha entre mercadorias “equivalentes”, que presumivelmente terão tempos socialmente necessários de produção equivalentes. Por exemplo a selecção de um detergente, entre vários, não pode ser feita com base no tempo socialmente necessário para os produzir.

Marx dizia que a troca de mercadorias com diferentes valores de uso que ocorre entre os homens significa que algo as torna “equivalentes” e que essa equivalência advém da quantidade de trabalho humano incorporado; nós dizemos que a escolha de um entre vários produtos com “tempos socialmente necessários” de produção similares significa que existe algo, para além do tempo, que motiva essa escolha.

Se o tempo deixa de ser um critério de escolha (de valor) para os consumidores e se apesar de tudo eles têm que escolher, e escolhem, umas mercadorias e não outras então é necessário encontrar a fundamentação dessas decisões. Parece legítimo concluir que decidem no convencimento de que umas mercadorias satisfazem melhor as suas necessidades do que outras, ou seja, que têm valores de uso diferentes, ou maiores. As próprias necessidades dos consumidores são, como todos sabemos, “construídas” pelas mais variados mecanismos de comunicação.

Aquando da satisfação das necessidades básicas os homens socorrem-se de mecanismos mentais complexos e socialmente determinados (para responder à necessidade de alimentação come-se isto e não aquilo, cozinha-se de uma forma e não de outra, por exemplo).

As decisões de compra e as escolhas subjacentes são “actos de conhecimento” no sentido em que resultam do tratamento da informação contida nas representações das mercadorias. Essa informação não é mais do que o resultado dos “actos de conhecimento” executados pelos trabalhadores que conceberam e executaram as referidas representações.

Este tipo de trabalho, não repetitivo e de resultados imprevisíveis, coaduna-se mal com as relações, hoje correntes, de trabalho remunerado por salário correspondente a uma dada unidade de tempo.

É hoje claro que a utilidade das mercadorias pode existir ou não, e em graus diferentes, para diferentes seres humanos (há quem se recuse a comprar televisão ou automóvel, por exemplo) e pode ser diferente para mercadorias que vulgarmente são consideradas equivalentes (com os casacos mencionados por Marx).

Só neste sentido pensamos ser válida a tese de que estamos em transição para uma sociedade do conhecimento o que impõe a revisão do esquema de valor de Marx por forma a compreender, e intervir com eficácia, neste novo modo de produção.

Há que olhar para o valor de troca não como resultante do tempo de trabalho mas como uma consequência da qualidade do trabalho que gerou os valores de uso; como grandeza dependente dos “actos de conhecimento” dos trabalhadores e do seu reflexo nos “actos de conhecimento” dos consumidores.

Só assim poderemos forjar relações de produção mais justas e muito mais produtivas que era precisamente o que Marx pretendia.

Luís disse...

Quanto ao que me cabe ainda dizer:

1. Considero que a mercadoria é, e foi sempre, ela própria, uma representação exterior de uma necessidade interior, aliás a própria disciplina do marketing o reconhece quando se diz que "O Marketing não cria necessidades", pois quanto muito poderá fazer accioná-las; ninguém aceitaria de bom grado ser torturado, por mais publicidade que lhe fizessem. A forma como uma mercadoria é comunicada não muda necessariamente a sua natureza.

2. Quanto à "fenomenologia da escolha do consumidor" acho que é justamente uma área que o Marketing deve explorar; mas isso já terá eventualmente pouco a ver com a teoria de Marx.

3. Quanto à teoria do valor-trabalho, justamente porque parte de uma hipótese substancialista (Philip Mirowski), acabará por se desenhar como um esquema rude de determinação do valor dos bens e serviços; no entanto, reconheço-lhe mais potencialidade do que uma putativa teoria neoclássica do valor justamente, também, pela sua dimensão antropossociológica.

4. A, assim designada, economia do conhecimento, não significa automaticamente uma era de abundância ilimitada, guiada pela reprodução s/ limtes, e s/ custos, de "informação" ou de "actos do conhecimento"; o trabalho é tão necessário hoje como era há dois séculos atrás, o resta são aparências. E numa altura em que ainda grande parte da humanidade não consegue ver satisfeitas as suas necessidades básicas, e as desigualdades intra e inter-países se agravam, o salto forçado (.. e quântico) pra o novo paradigma que fala poderá no limite originar, como tem originado nos últimos meses, novas calamidades.

Anónimo disse...

Mais uma opinião que corrobora o que aqui tem sido dito:

"According to recent CFTC data, the investors classified as “commercial” have taken out long positions on 827mn barrels of oil on Nymex. In the early part of this decade, such investors held between 300mn and 400mn barrels. Yet world consumption has clearly not grown by +100% in this period? This rise is all the more surprising when one knows that oil-industry participants only hedge part of their production—and that big oil never hedges production at all. So then where are all these new 400mn barrels of “commercial”
activity coming from? Well, when an option trader at an investment bank takes an order from a hedge fund client, such as: “buy me 40mn barrels Dec-09 OTM calls, will pay no more than 5%”; the banker structures a product to meet this need. In the process, he technically takes up the other side of the trade. Thus the trader has to delta-hedge his position — and as a “hedger” his trade is classified as “commercial”."