segunda-feira, 23 de junho de 2008

Austeridade assimétrica permanente

A inserção externa dependente da economia portuguesa continua a gerar fortes desequilíbrios nas nossas relações económicas. Como seria de esperar, esta inserção foi aprofundada pelo ciclo de liberalização dos últimos vinte anos e pela aptidão dos grupos económicos rentistas, reconstruídos por irresponsáveis privatizações, pelos sectores de bens não transaccionáveis, como o imobiliário ou as auto-estradas. A falta de competitividade da economia portuguesa levou Olivier Blanchard, um famoso economista francês com credenciais impecavelmente ortodoxas, a prescrever, em 2006, uma receita clara para «resolver» este problema económico português: reduzir os salários nominais em 20%. Os salários como única variável de ajustamento revelam o esforço insensato de muitos economistas para reduzir o trabalho humano ao estatuto de uma mercadoria como outra qualquer e a sua insensibilidade ao contexto onde intervêm: num país onde o salário mínimo pouco ultrapassa os 400 euros e o salário mediano os 700 euros, tal prescrição traduzir-se-ia numa imensa catástrofe social. O resto pode ser lido no esquerda.

3 comentários:

Fábio disse...

As parcerias público-privadas devem vir a permitir grandes investimentos, como um novo aeroporto ou a linha do tgv. Estes investimentos irã trazer prosperidade e a aproximação do rendimento per capita português ao da zona euro. Embaretecer os nossos produtos para sermos mais competitivos é desnecessário. O endividamento dos grandes projectos traz a prosperidade e permite saldar sem problemas os compromissos assumidos. As desvalorizações competitivas (enfim as quebras de salários) são coisa do passado. O Estado é forte, as parcerias substituem a inovação e o esforço. Parcerias para os tribunais também deveriam ser proveitosas, criadores de efectivas melhorias de eficiência.

Anónimo disse...

"As parcerias público-privadas devem vir a permitir grandes investimentos, como um novo aeroporto ou a linha do tgv. Estes investimentos irã trazer prosperidade e a aproximação do rendimento per capita português ao da zona euro."

Fábio, se as coisas fossem assim tão directas e simples já viveríamos num paraíso.

Do meu ponto de vista, e estando o país numa crise socio-económica, não faz sentido gastar (não, não é investir) tanto recurso financeiro sem ter um retorno, pelo menos, a nível conjuntural. O grande problema é que este tipo de "investimentos" - TGV e aeroporto - só fazem sentido de um ponto de vista estrutural.

Uma coisa concordo, com o TGV e o aeroporto, vamos ficar mais próximos da zona euro. Tão próximos que vai ser ainda mais fácil sair deste país para uma vida melhor em qualquer outro país Europa. Se não, veja-se o que aconteceu quando se fizeram as autoestradas para o interior ... pois, veio tudo para o litoral.

Anónimo disse...

Joao, eu bem sei que isto tem contornos de injustica, mas acho que a histooria ee bem mais interessante...

Toda esta repeticao na prescricao tem por base dois ou tres dogmas teooricos que ainda dominam a mainstream: (i) assuncao de que o mercado de trabalho funciona como o mercado das laranjas (ou seja, a taxa de salaario tem um soo fim, o de equilibrar procura e oferta num setting de informacao perfeita); (ii) de que existe uma determinada taxa de substituicao teecnica entre capital e trabalho (i.e. uma funcao de producao agregada) que proporciona um ajustamento indolor; e (iii) nao existe macroeconomia (ou seja, pode-se falar da economia como se falasse dum household, e por isso, questoes de effective demand nunca aparecem)...

Por isso, acho que ee tempo de dares um passo adiante e comecares a explicar os problemas teooricos daquilo a que as pessoas chamam: conventional wisdom...

Abracos
Joao Farinha