sábado, 1 de março de 2008

Democracia no local do trabalho: um valor de todas as esquerdas

Vivemos em sociedades que gostam de se ver a si próprias como livres e democráticas. E no entanto, para a maioria das pessoas a democracia e a liberdade começam quando acaba o dia de trabalho. Para a maioria das pessoas, o número de horas trabalhadas, a sua distribuição, a marcação das férias, a organização das actividades, as regras de promoção, a gestão dos recursos humanos em geral e as estratégias da organização para qual se trabalha são ditadas pelas chefias, sem consulta ou negociação.

O trabalho é muito mais do que um meio para adquirir poder de compra; é um dos principais espaços de socialização, de realização pessoal, de criação, de formação da ideia que temos de nós próprios. É, pois, um paradoxo que a democracia e a liberdade - valores supostamente distintivos das sociedades em que vivemos - possam ser excluídas de um dos domínios em que ocupamos mais tempo e mais energias.

Para um dos pais do liberalismo clássico, John Stuart Mill, não havia lugar a dúvidas: nunca existirá liberdade, democracia ou cidadania activa enquanto se assumir que no trabalho as pessoas devem estar em silêncio (ou que a verbalização das críticas tenha repercussões em termos de perspectivas de carreira e de segurança do emprego). Se não se instituir a democracia nesta pequena escala, ela nunca será viável à escala da sociedade.

A organização britânica Compass (um grupo de pressão progressista ligado ao Partido Trabalhista) demonstrou uma vez mais o seu empenho no combate das ideias, através da publicação de um documento sobre a democratização dos locais de trabalho: «Empowering workers with the freedom to shape the conditions of their labour is not only of potential benefit to employers but it is also the right thing to do. Right in terms of equality, right for individual liberty and right for the development of participatory civic culture». Uma leitura indispensável para toda a esquerda democrática e socialista.

2 comentários:

Pedro Viana disse...

Concordo totalmente. A participação democrática na tomada de decisões a todos os níveis é, para mim, a pedra basilar de todo o edifício ideológico da Esquerda. Infelizmente, mesmo os partidos que se dizem de Esquerda o esquecem (e não estou apenas a pensar no PS...). Não há nada mais horripilante para a Direita do que a inversão da hierarquia do Poder. É por aqui, acima de tudo, que passa o desmantelamento das estruturas de poder neo-liberais. Notem bem como eles saltam nos seus blogues sempre que houvem falar em Democracia...

Anónimo disse...

Vou ler o pdf com calma. Gosto muito do tema, pricipalmente depois de conhecer a historia da Semco e da empresa americana Gore. Inclisive nos EUA há um prémio para premiar as empresas mais democráticas.