O que faz um cidadão perante a tragédia no ascensor da Glória, em Lisboa? Procura informar-se, ouvindo quem sabe, ou seja, Carlos Cipriano, numa primeira conversa, necessariamente cautelosa, com Rúben Martins.
Apurem-se responsabilidades sempre políticas, tanto mais que estamos a falar de uma infraestrutura pública, de um serviço público.
Os sindicatos servem para defender os interesses dos trabalhadores e a primeira vítima a ser conhecida é um trabalhador da Carris: André Marques, guarda-freio do ascensor. Mas os sindicatos servem para muito mais, já que são expressão do conhecimento que só os trabalhadores detêm.
E a empresa pública é um repositório de conhecimento que pode ir sendo perdido, pela destruição de serviços e das respetivas competências técnicas. Como sublinhou Carlos Cipriano, “antigamente, com a manutenção a ser assegurada dentro das empresas, o conhecimento técnico, o saber fazer, era transmitido, ao longo do tempo, entre gerações de engenheiros e de operários, no quadro de carreiras estáveis”. Está a falar das Carris, mas também de outras empresas, como o Metro de Lisboa ou a IP.
Sabemos já que houve alertas sindicais recorrentes acerca da externalização da manutenção do equipamento social, uma empresa privada, o chamado “mercado”: podem até cortar nos custos pecuniários no curto prazo, pela exploração intensificada da força de trabalho mais precária e pela degradação da qualidade do serviço prestado, mas aumentam os custos sociais em todos os prazos.
Um dos mecanismos foi sintetizado por Rúben Martins, em resultado da conversa: “na prática, a cada concurso público, a equipa que vem tratar da manutenção dos equipamentos pode ser completamente nova, sem haver passagem de conhecimento, como era habitual quando a manutenção era internalizada”.
Realmente, podem ser muitos os mecanismos liberais que matam.
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