A prevalência de um enorme número de propriedades de dimensão muito reduzida é, em si mesma, uma fonte de baixa rentabilidade da floresta. Boa parte das actividades associadas à produção florestal — construção de acessos, preparação do terreno, plantação, manutenção, gestão técnica e mobilização de maquinaria — envolvem custos fixos elevados. Isso significa que os custos médios por hectare são mais reduzidos em propriedades de maiores dimensões, aumentando a rentabilidade. Pelo contrário, prédios florestais exíguos têm retornos proporcionalmente baixos. A pequena dimensão da propriedade também penaliza a rentabilidade da floresta por outra via: reduz o poder negocial dos fornecedores de madeira e derivados face aos grandes compradores (que, em Portugal, nos sectores da pasta de papel e da cortiça, são particularmente concentrados e poderosos).
O ciclo natural da floresta é um desafio adicional. Até ser rentável, pode demorar 8 a 10 anos (no caso do eucalipto), 15 a 30 anos (no caso do pinheiro) ou 40 a 50 anos (para o montado de cortiça). Acresce que grande parte das florestas se encontra em terrenos de baixo potencial produtivo, devido ao tipo de solo, disponibilidade de água, exposição solar, relevo ou clima.
Nestas condições, a mera clarificação dos direitos e deveres dos proprietários não vai resolver o problema. Mesmo que se consigam identificar todos os donos dos terrenos, não será fácil garantir a fiscalização de milhões de propriedades. Também será difícil encontrar investidores disponíveis para convencer uma miríade de pequenos proprietários locais a concordar, em simultâneo, com a venda de terrenos contíguos. Em muitos casos, a rentabilidade expectável será simplesmente insuficiente para mobilizar investidores. O risco de destruição por incêndios torna o negócio ainda menos atractivo.
Os poderes públicos têm de estar disponíveis para fazer muitos mais do que garantir as condições para o funcionamento do mercado de compra e venda de terrenos florestais. É preciso apoiar, ao nível financeiro e técnico, as associações de pequenos produtores, incentivando a partilha de recursos, a acumulação de competências e a profissionalização da gestão. É preciso aumentar a propriedade pública da floresta (que representa em Portugal uns meros 3%, contrastando com cerca de metade na Alemanha e na Holanda, ou ¼ em Espanha e em França), aceitando que o retorno desse investimento não se mede apenas em lucros. Acima de tudo, acabar com a tragédia dos incêndios em Portugal exigirá determinação, perseverança e responsabilidade de sucessivos governos ao longo de décadas.
O resto do meu texto pode ser lido no Público de hoje.
3 comentários:
Falta a economia do audiovisual: a animação do verão também ajuda a captar audiências e a vender anúncios.
os solos nas cumeadas e vertentes inclinadas são geralmente litossolos solos incipientes a que só o Pinus sylvestris é capaz de se adaptar, para se estabelecerem carvalhos que demoram pelo menos 50 anos a ficar adultos é necessário ter apoios estatais, apoios também ao emparcelamento são necessários afim de aumentar a área das parcelas florestais e tornar a sua manutenção mais fácil
Sou um dos pequeníssimos proprietários florestais cujas propriedades arderam, algumas 2 vezes, nos últimos 5 anos, a ultima das quais no ano passado 2024. Sempre vivi como trabalhador por conta de outrem e, numa altura tardia da vida, fui, repentinamente, investido do estatuto de proprietário. Fiquei assim a braços com a decisão de saber o que fazer com terrenos que me caíram no colo. Vender não me garante que a exploração florestal seja feita com respeito pelos meio ambiente evitando a proliferação de fogos e a insegurança das aldeias e seus habitantes . Com a experiencia de viver um fogo o ano passado e porque não preciso dos rendimento dos terrenos para viver, optei por alterar a produção, iniciando um processo de regeneração das culturas tradicionais que após os incêndios começaram a surgir por entre os eucaliptos . Conversando com outros proprietários comecei a perceber que, depois dos incêndios por que passaram nos últimos anos, a maioria dos quais não conseguiu sequer vender a madeira queimada, porque as empresas diziam não ter capacidade para a receber, percebi que muitos estavam a ponderar alterar as culturas optando por outras mais resistentes. Significa isto que talvez seja a altura oportuna para implementar politicas que os cativem para escolhas que sejam compatíveis com um desenvolvimento sustentável, dando-lhes a perspectiva de um retorno, ainda que a longo prazo, e ainda que esse retorno não ocorra durante a sua vida. Existem assim alternativas à constituição de grandes empresas florestais, designadamente através da criação de cooperativas de exploração florestal em que as pessoas manterão as sua propriedades e simultaneamente participam nas decisões de organização das florestas e ambiente onde vivem.
Enviar um comentário