No meio do nevoeiro da “guerra tarifária” lançada por Trump começam a surgir alguns sinais clarificadores, agora que as “tarifas recíprocas” foram suspensas por noventa dias para todos os países que “não retaliaram”, mantendo-se a tarifa de base de 10%, mesmo assim uma mudança de monta.
A ameaça de tarifas recíprocas parece assim ser um instrumento para obter concessões comerciais dos países considerados aliados, ao mesmo tempo que se procura isolar a China, há muito o inimigo principal para o imperialismo, seja de recorte liberal, seja de recorte neofascista.
De influência mais ou menos marxista, as teorias da hegemonia na economia política internacional sublinham que a perda do lugar cimeiro em termos industriais é um indicador avançado de perda da posição hegemónica, o início de uma fase turbulenta de transição de poder. Sim, a economia é poder e por isso é política. É preciso muita ideologia para ignorar padrões históricos básicos.
Bom, os EUA querem reverter o declínio e querem ser vistos como estando dispostos a fazer de tudo, numa escalada à qual a China tem de responder ou não fosse a principal expressão histórica do “grande levantamento anticolonial” (Domenico Losurdo) que está dando origem a um mundo multipolar.
A vassalagem da UE realmente existente está, entretanto, garantida, aposto. Ao mesmo tempo, Trump tem um programa de classe interno e que consiste em desmantelar o que resta do Estado regulatório do New Deal, o programa de sempre do neoliberalismo por ali, como sabemos da melhor história. E, na UE, as elites do poder não pensam de forma diferente, variando apenas o ponto de partida institucional em termos de neoliberalização. Haverá mais compras de armas e de gás aos EUA e mais porcaria alimentar e outra a entrar por aí, se depender dos europeístas.
É cada vez mais importante um discurso soberanista, que recuse vassalagens ao imperialismo, incluindo a perigosa corrida armamentista em curso na UE, novo pretexto para escavacar os Estados sociais, afirmando a ideia da multipolaridade e tirando as conclusões que se impõem do ponto de vista da diversificação de relações num idealmente menos globalizado.
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