segunda-feira, 14 de abril de 2025

Lembrar o evitável desperdício da troika

Fez por estes dias de abril catorze anos da chegada da Troika, composta pelo Banco Central Europeu, pela Comissão Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional, e da sua tão evitável quanto destrutiva política de austeridade, de privatizações ruinosas e de redução dos direitos de quem trabalha, correlativa do aumento dos direitos patronais. 

Consolidou-se um modelo medíocre, demasiado dependente do turismo, em modo Flórida da Europa (a expressão é de Olivier Blanchard, ao tempo economista-chefe do FMI e um dos economistas que reconhecidamente mais se equivocou, fingindo que é de equívocos que estamos a falar).

Todo um país sacrificado por iniciativas liberais até dizer chega. Repito o que escrevi no ano passado, dado que o combate pela memória tem declinações económicas: factos primeiro no blogue.

  

Mentira e da mais descarada, propagada pelo PSD e pela TVI. Factos em último aí, mas em primeiro aqui. Sempre houve dinheiro para salários e pensões, como mostrou Emanuel Santos, Secretário Adjunto e do Orçamento, entre 2005 e 2011: só as receitas IRS e IRC davam, no primeiro semestre de 2011, para pagar todos os salários dos trabalhadores do Estado; e as contribuições chegavam e sobravam para as pensões.
 
A política de inação do BCE não permitia continuar a fazer face ao serviço da dívida. Havia a alternativa da reestruturação por iniciativa do devedor, mas não se foi por aí. As elites do poder optaram por aceitar uma reestruturação liderada pelo credor, com austeridade destrutiva associada. Mais factos em primeiro neste blogue, com gráfico e tudo.
 
 
Em plena crise das dívidas soberanas, na véspera da intervenção da Troika, uma crise, relembre-se, que não foi de dívida soberana, porque o Estado português não controlava a moeda em que a dívida estava denominada, a taxa de juro das obrigações do tesouro nacional a dez anos chegou a 16%, com a dívida pública a ultrapassar os 120% do PIB.

Quase dez anos depois, a dívida ultrapassa de novo os 120% mas a taxa de juro das obrigações do tesouro nacional a dez anos ficou-se por uns residuais 0,25% e assim permaneceu enquanto o BCE quis. É tão simples que a mente até pode bloquear: o banco central controla, se assim o desejar, as taxas de juro da dívida denominada na sua moeda e em todas as maturidades.

Retrospectivamente, toda a austeridade imposta a partir de 2010, com centenas de milhares de postos de trabalho destruídos (a taxa de desemprego atingiu os 17%) e com centenas de milhares de portugueses compelidos a emigrar, foi um evitável desperdício, feito em nome da consolidação de um modelo neoliberal. Tal facto deverá permanecer na memória colectiva como um momento revelador do preço que o país pagou naquele momento por ter abdicado da sua soberania monetária no final do milénio.
 

Sem comentários: