Faleceu ontem um dos meus romancistas de eleição - de Conversa na Catedral a Tempos Duros, passando pelo épico A Guerra do Fim do Mundo. Registe-se a discrepância avassaladora entre o brilho radical dos seus romances e a palidez reacionária do seu ensaísmo e intervenção política neoliberal.
Neste último campo, o sociólogo argentino Atilio Boron escreveu um excelente anti-Vargas Llosa, respondendo a um dos últimos ensaios de apologia de uma convenientemente higienizada tradição neoliberal inventada, O apelo da tribo. Alinhou-a com o apoio de Vargas Llosa à política da extrema-direita latino-americana, argumentando que este deslizamento faz parte do liberalismo realmente existente.
Enfim, os romances pertencem aos leitores e os ensaios também. Apesar da política, obrigado, Vargas Llosa.
3 comentários:
Quando o Fujimori foi eleito pela primeira vez, foi contra as propostas neoliberais de Vargas Llosa.
Bem, como sabemos, o Fujimorismo seria um neoliberalismo radical, e ainda por cima com um autoritarismo musculado.
Sim, um grandíssimo escritor, com uma também enorme sensibilidade ao sofrimento e aos desvalidos, nos seus livros. Talvez não tenha aguentando tanta sensibilidade e descaiu, fora dos livros, para a insensibilidade. Mistérios.
Morreu um grande escritor
Soubemos ontem que Varga Llosa já não fazia parte dos vivos. Soube da notícia com pesar e compreensão, afinal ninguém é eterno!
Não recordo como me cruzei com o escritor, talvez lendo “O Sonho do Celta”. Sei que depois o li em catadupa. Só uma obra me entediou, “A casa Verde”, leitura que pus de parte. Sacrilégio! Dirão alguns.
Não sou um bibliófilo, aviso já que não conheço a obra completa do escritor. Porém nada me impede de dizer que reconheço em Vargas Llosa o dom da genialidade. Recordo ter comprado numa grande superfície comercial um dos seus livros para oferecer à minha filha. Enquanto aguardava uma caixa disponível, fui lendo a obra e fiquei de tal maneira prezo ao enredo que percebi que não poderia deixar de ler aquele livro. Não recordo o título, isso que importa! Sei que não faz parte do rol das grandes obras de Llosa, sei apenas que a sua leitura me deliciou e isso me basta.
No geral, gosto dos escritores sul americanos. Escrevem ao correr da pena, sem pretensões novelísticas. Estão conectados à vida. É isso que sinto em Llosa, tal como em Garcia Marques ou Isabel Allende. Para mal dos meus pecados, dos escritores brasileiros, além de Jorge Amado, conheço pouco e, pela idade que tenho, já não vou ter oportunidade de lhes fazer jus. Aliás o mesmo poderei dizer dos norte-americanos ou dos russos.
Devo confessar que me repugnam comparações. Saramago é melhor escritor que Lobo Antunes ou Camilo que Eça! Deixo isso para a tertúlia dos entendidos, a mim basta dizer se gosto ou não da obra e se a leitura me compraz ou não, o resto são” Peanuts”.
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