quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Verdades e consequências


Esta crise pôs em evidência as fraturas profundas da nossa sociedade e o preço que pagamos pela excessiva desregulação de tudo aquilo a que nos habituamos a chamar de mercado de trabalho.


O António Costa que fez há umas semanas atrás esta declaração é o mesmo Primeiro-Ministro que aceitou a herança da troika em matéria de relações laborais, com o seu acervo de direitos patronais e de obrigações laborais, recusando em modo bloco central todas as propostas das esquerdas para reequilibrar a estrutura de direitos e de obrigações nesta área crucial. E quem usa habitualmente a expressão mercado de trabalho, já se esqueceu há muito do princípio da insuspeita OIT no pós-guerra: o trabalho não é uma mercadoria.

Na realidade, se atentarmos na visão estratégica que António Costa encomendou a António Costa Silva, até a moderada ideia de diálogo social tripartido oriunda da OIT é na prática esquecida, já que o centro da proposta é um pacto entre o Estado e as empresas. Se é verdade que se fala de precariedade e de desigualdades, também é verdade que os sindicatos primam pela ausência e que não há qualquer proposta concreta e progressista nesta área. Imaginem o que diria Bruxelas se houvesse.

19 comentários:

Anónimo disse...

Bill Mitchell no artigo de ontem:
O progressista moderno (a esquerda educada) não aceitaria que alguém lhe invadisse a casa e fosse ao frigorífico à procura de comida. Nenhum aceitaria que alguém lhes levasse a valiosa bicicleta de corrida, estacionada à porta do café, enquanto eles bebericam uma meia de leite.
E, no entanto, parece que eles se sentem confortáveis com a contradição, quando se manifestam contra os capitalistas, que distorcem o sistema redistributivo e desviam a distribuição do rendimento para quem não contribui para a produção de riqueza. Não admira que a classe trabalhadora tradicional classifique de repugnante o "manifesto da esquerda" e vote em concordância.

O original
"None of these people would approve of a person walking into their homes and raiding their fridge for food. None would aprove of some person taking their expensive racing bike parked outside some cafe while they were inside sipping latte! And yet, they do seem to seem to appreciate the contradiction, when they also rail against capitalists who access the distribution system without contributing to the generation of output. It is no wonder that the traditional working class find the modern ‘Left manifesto’ repugnant and vote accordingly."

Jose disse...

O estranho nos adoradores do Estado - sempre disponíveis para o chamar a em tudo intervir e em particular a tudo abranger nas áreas assistenciais - é o facto de o quererem o mais distanciado possível do problema central do trabalho, a falta dele.
E a falta de trabalho não só se verifica quando um posto de trabalho está total ou parcialmente inactivo como quando é ocupado por quem não cumpre cabalmente a função a nele ser desempenhada. Mas estes problemas são vistos como essencialmente pertencendo à área cármica do patrão, que para tudo mais é suposto ser vilão.
A frase «o trabalho não é uma mercadoria» é falsa e seguramente haverá uma figura literária para lhe dar caracterização mais erudita; o trabalho é uma mercadoria, o trabalhador não o é.

Geringonço disse...

António Costa está disposto a sacrificar gerações pelo unicórnio europeísta (os Estados Unidos da Europa), alguém com este comportamento não pode de maneira nenhuma ser considerado de progressista, o P.M. Poucochinho é regressivo!

Mas pelos vistos, para alguns, a austeridade do Costa passa melhor na garganta que a austeridade do Passos Coelho, a austeridade do europeísta Costa deve estar melhor lubrificada...

Anónimo disse...

Não é o trabalho mas é a força de trabalho.

Anónimo disse...

Bill mitchell está certo

Quem não está é quem se aproveita dele para tentar marcar lugar

Infelizmente são os métodos dos trafulhas. Holandeses ou para holandeses.

Anónimo disse...

Adoradores do estado?

O josé rezava para o estado novo em que posição?

Anónimo disse...

A austeridade de Passos não estava lubrificada, Era mais genuína, mais calvinista, mais holandesa,à moda do Rentes de Carvalho.e do amigo . Mais próxima das bestas negras

Anónimo disse...

Não é o trabalho mas é a força de trabalho?
E?
Não é a Holanda, são os Países Baixos.

Anónimo disse...

O JE agora também é anónimo?
Saudações holandesas!

Geringonço disse...

De facto, é hilariante como o neoliberal Pimentel tenta usar Bill Mitchell!

Logo Bill Mitchell, um dos mais produtivos anti-neoliberalismo da actualidade, com uma carreira de décadas a malhar nos neoliberais.
Precisamos de mais economistas verdadeiramente progressistas, que verdadeiramente lutam pelo progresso humano como Bill Mitchell!

Bill Mitchell, um australiano que sabe mais que qualquer europeísta sobre a União Europeia e Euro... não deixa de ser trágico para nós que estamos a sofrer com o fanatismo europeísta!

Anónimo disse...

A esquerda nominal está perdida no labirinto de espelhos distorcidos e sonha com os amanhãs que não cantam

Óscar Pereira disse...

A propósito de Bill Mitchell, na página 8 do seu livro "Reclaiming the State", lê-se que:

«even the loss of national sovereignty – which has been invoked in the past, and continues to be invoked today, to justify neoliberal policies – is largely the result of a willing and conscious limitation of state sovereign rights by national elites. The reason why governments chose willingly to ‘tie their hands’ is all too clear: as the European case epitomises, the creation of self-imposed ‘external constraints’ allowed national politicians to reduce the politics costs of the neoliberal transition – which clearly involved unpopular policies – by ‘scapegoating’ institutionalised rules and ‘independent’ or international institutions, which in turn were presented as an inevitable outcome of the new, harsh realities of globalisation.»

Algo a ter em conta, da próxima vez que aparecerem comentários a dizer que temos que arcar com a austeridade e o "mercado livre" porque c'est la vie...

JE disse...

A esquerda está perdida, dizia um tipo de nickname "Pedro" antes de ter sido apanhado com a mão na massa.

Esse tipo foi desclassificado depois de se ter assumido como um racista vulgar. Daqueles que usam espelhos retorcidos e amanhãs que cantam os hinos em holandês

Certo?

Voltemos agora a outras verdades e a outras consequências

JE disse...

Ultrapassemos quem está perdido nos labirintos de Mitchell, usurpa o seu legado e o papagueia de forma idiota. Pela calada, para ver se passa

Porque é tempo de dar uma boa gargalhada. Parece que o adorador do estado fascista agora se virou para o outro lado. Eis a manifestar entre-dentes aquele seu profundo rancor pelas funções do Estado

Por exemplo, é verdade que quem defende "menos estado" nas escolas, na segurança social, na saúde, na inspecção do trabalho, na segurança pública, defende "mais estado" no apoio aos banqueiros corruptos, nas forças repressivas, no aparelho burocrático e clientelar.

E chegamos assim a um personagem adorado pelos adoradores de determinado tipo de Estados:

No seu primeiro discurso no Parlamento Italiano, em Junho de 1921, tal personagem afirmou:

“O Estado tem de ter uma política policial, judiciária, militar e estrangeira. Todas as restantes políticas, e não excluo sequer o ensino secundário, devem voltar para a actividade privada dos indivíduos. Se queremos salvar o Estado, temos de abolir o Estado colectivista.”

Mussolini, “Il Primo Discorso alla Camera”, 21 June 1921. Mussolini (1934a, p. 187)

JE disse...

A propósito da força de trabalho como mercadoria, a transição para o capitalismo foi impulsionada por um processo endógeno, que desagregou os modos de vida tradicionais ao mesmo tempo que integrava a força de trabalho, a terra e os meios de produção em relações mercantis

O que houve de novo na Europa moderna, e que está na génese do mundo atual, foi a inclusão, no circuito do dinheiro, de três elementos que sempre haviam ficado fora dele: a força de trabalho humana, a terra e os meios de produção. Transformar coisas em mercadorias é banal, mas não é banal transformar em mercadorias os atributos fundamentais das pessoas e da natureza. Num livro notável, Karl Polanyi chamou essa passagem de "a grande transformação" e mostrou a violência que ela implica.

Outro Karl para assombrar alguns

Anónimo disse...

Malhar? Carreira de décadas?
Isto faz lembrar quem?

JE disse...

Sejamos claros:

Quem está perdido nos labirintos de Mitchell, usurpa o seu legado e o papagueia de forma idiota é o "comentador"de 5 de Agosto de 2020 às 11:23.

O comentário de Óscar Pereira é precioso. E profundamente esclarecedor

Anónimo disse...

Tem piada, os liberais continuam a clamar pelo estado quando a coisa aperta. Ou seja só mm qd lhes dá jeito. A falta de trabalho espero q o estado a colmate contando mais impostos a empresas que mais receitas têm quase sem necessitarem de trabalhadores. Há q compensar.

Anónimo disse...


A questão não está no "há que compensar"

A questão vai bastante mais longe. Passa primeiramente por outro tipo de relações laborais. E passa por um mundo mais justo, em que não haja nenhum homem que seja o lobo do outro Homem

Até aquele personagem de que agora não me lembro o nome é obrigado a reconhecer que foram longe demais, mesmo que seja só para inglês ver.