segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Mas não serão verdes


O Público de Domingo até parecia o jornal Acção Socialista, dado o entusiasmo com os anúncios de umas intenções mais ou menos desgarradas do novo governo minoritário do PS. Nestes tempos de diluição ideológica aparente, estas intenções até passam por socialistas. A manchete permite aferir a sua plausibilidade: “pacto para Europa verde será prioridade da presidência portuguesa”.

No interior do jornal nada se dizia sobre o assunto. Percebe-se bem porquê do ponto de vista político. Na realidade, um slogan deve chegar para entreter os europeístas de quase todos os partidos e para fazer esquecer as realidades nada verdes e nada rosas da integração europeia realmente existente: da promoção da fraude especulativa do mercado europeu de emissões até aos constrangimentos austeritários ao investimento público, sem o qual não há economia ecológica que possa emergir, passando pelos tratados tóxicos ditos de comércio livre, como é o caso do projecto de tratado com o Mercosul de Bolsonaro e quejandos.

Já agora, o necessário programa nacional de descarbonização parece incluir pelo menos um truque: descarbonizar pelo lado da quebra de certas produções nacionais, transferindo as emissões para o lado mais invisível e distante do consumo de bens importados. Por exemplo, na área do agora muito badalado consumo de carne de vaca vai ser pelo menos em parte assim. Como disse o Ministro do Ambiente no ano passado: “Tudo isto [incluindo a quebra de 25% a 50% da produção pecuária nacional] vem também no quadro de uma maior liberalização do comércio no mundo, onde a carne de vaca vai chegar a Portugal a preços mais competitivos em muitos casos em relação aquela que conseguimos produzir.”

O estimulo à desflorestação no Brasil do agronegócio será dado por este lado do Atlântico se esta persistente loucura neoliberal não for travado por um sensato proteccionismo, também fundado em razões ambientais. Os países europeus passam por mais verdes do que são, graças à transferência para outros espaços das produções mais poluentes, estendendo as cadeias de valor, o que gera ainda mais poluição por via do transporte. Como a insuspeita The Economist assinalou recentemente, se medirmos as emissões pelo lado da produção, as coisas parecem melhor em 20% do que nos dizem as medições pelo lado do consumo na UE. A propaganda europeísta sobre economia verde pode assim avançar com mais facilidade. E a lógica da globalização neoliberal, indissociável da UE, também.

10 comentários:

Jose disse...

Apareça a Lista das Proibições, por uma economia verde.

Para a Posteridade e mais Além disse...

uma economia verde com os actuais consumos é uma utopia

Lowlander disse...

Sao jardineiros...

Jaime Santos disse...

Só é pena que em termos de modelo de sustentabilidade ambiental, a UE leve a palma mil vezes ao socialismo real, João Rodrigues...

O que diz soa pois a hipocrisia e a azedume...

A sua recente conversão à ecologia não convence olhando para o programa do PCP, que, que eu saiba, pretende reerguer a grande indústria nacional.

Aliás, como alguém diz acima, com os níveis de consumo actual, a economia verde é uma boa treta.

O que nós precisamos mesmo é de um modelo de crescimento zero... Mas isso, ninguém é capaz de propor, da Esquerda à Direita...

É pena que a Esquerda se tenha deixado, desde a revolução de 1917, seduzir pelo crescimento acelerado que leva ao consumismo e que atinge, com porno-riquismo, como você gosta de lhe chamar, o paroxismo... Marx era bastante mais céptico relativamente àquilo que um sistema produtivo como o capitalismo podia fazer a um ser humano individual...

JE disse...

Um excelente post,como é hábito a chamar o nome aos boys, perdão aos bois

Que desperta logo os reflexos pavlovianos de jose e de um nick idiota a fazer jus a quem pertence, um tal de joão pimentel ferreira, europeísta convicto, neoliberal até à medula e desonesto até ao último pedaço de gordura que o atapeta

O primeiro quer um index, assim do género dos que andou por aí a defender, no tempo da outra senhora

O segundo quer ir mais para além, mas só lhe saem estes requebros a atirar para o ar, justificando por completo as denúncias de João Rodrigues destas fraudes da propaganda europeísta sobre a economia verde

O Eleitorado Morre Mas Não Se Rende disse...

com o Pan a ganhar terreno, é óbvio que apelar a uma europa verde traz votos, mesmo que nada se faça nesse sentido nos próximos anos que este governo perdurar

Anónimo disse...

Já percebemos

Multinick pimentel quer uma Europa assim do género negra, como as dos camisas negras do outro

Para isso ele faz tudo para que o amigo Passos Coelho volte. E diga que o Tesla tem mais pinta, que o verde de Passos é mais verde pelo facto de ter expulsado centenas de milhares de portugueses para o estrangeiro e faça beicinho pelo facto das sondagens nas vésperas das eleições de Outubro não confirmarem o seu contentamento néscio na véspera

Quem disse que este tipo era um aldrabão acertou. Mas faltam mais algumas coisas ...

Anónimo disse...

É de desonesto treteiro, com roupas de neoliberal esforçado , tentar identificar o autor do post com as posições do PC

Que tenha um mínimo de coragem e que não seja poltrão. Se Jaime Santos não gosta do que está escrito no post, que o afirme sem recorrer a chavões boçais de anti comunista a babar, tentando identificações espúrias e desonestas

Joäo Rodrigues tem o direito a ter a sua opinião e a expressá-la de forma livre,, independentemente de quem tenha ou não a mesma opinião, seja esta identificação verdade ou uma rematada aldrabice

Que alguém aja deste jeito pidesco vem confirmar duas coisas.

A mediocridade duma pseudo-elite, amarrada a este tipo de comportamentos de comentador arruaceiro.

O dever cívico de um afastamento higiénico da ideologia defendida por tal coisa

Anónimo disse...

Quem publica o comentário criticando asperamente JS é o mesmo que vai assinar este

Que chama a atenção agora para este carinhoso dar de mãos, entre um europeista convicto, estilo terceira via neoliberal, com um europeista também convicto, federalista assumido, boy de Mises e fundamentalista neoliberal. Daqueles que apoia Pinochet e a obra social de Hitler

(Quanto ao termo “boy” ele é utilizado para classificar o modo de acção deste sujeito multinick. Só assim se percebe este seu modo de actuar que se pode classificar como de...)

A assinatura destes dois comentários é minha

JE

Anónimo disse...

Porque será o dar-se tanta atenção a este Rei que afinal está completamente nú?.
Por sátira ?. Pelo menos faría sentido.