domingo, 5 de março de 2017

Explosões muitas vezes necessárias


Os populistas de esquerda defendem o povo contra uma elite ou o establishment, o poder instituído. A sua política é vertical, dos estratos inferiores e médios contra o topo. Os populistas de direita defendem o povo contra uma elite que acusam de favorecer um terceiro grupo, que pode ser constituído, por exemplo, por imigrantes, islamitas ou militantes afro‐americanos. O populismo de esquerda é diádico. O populismo de direita é triádico. Olha para cima, mas também para baixo, para um grupo marginal.

Excerto de A Explosão do Populismo, de John Judis, acabado de sair em edição portuguesa na Presença. Um livro que pode ajudar a enquadrar melhor muitos debates, evitando as amálgamas convencionais. É que populistas houve e há mesmo muitos. A análise é historicamente informada, especialmente do lado norte-americano, e não esquece as determinações materiais dos fenómenos políticos, em contraste com análises tão curtas quanto puramente culturalistas. Subjacente à análise de Judis, está a ideia de que certas manifestações populistas dão voz e programa a preocupações e anseios mais do que legítimos da gente comum em momentos de crise económica intensa.

Entretanto, já não há paciência para quem fala de populismo ou, já agora, de nacionalismo no singular, mesmo quando usa o plural para efeitos meramente retóricos. Nas secções de opinião dos jornais ainda há muito disto. Sinal de ignorância intelectual ou de má-fé política. Nacionalismos há ainda mais, como temos aqui assinalado e os melhores são os que se articulam com o internacionalismo sempre necessário e que não se confunde neste continente com a União Europeia realmente existente.

Creio aliás que não houve uma vitória relevante das esquerdas, uma daquelas que mudaram realmente as coisas, que não tenha passado pela mobilização variada daquilo que Gramsci apodou de vontade colectiva nacional-popular. Questão de hegemonia.

11 comentários:

Anónimo disse...

Até que a voz doa:

"Entretanto, já não há paciência para quem fala de populismo ou, já agora, de nacionalismo no singular, mesmo quando usa o plural para efeitos meramente retóricos. Nas secções de opinião dos jornais ainda há muito disto. Sinal de ignorância intelectual ou de má-fé política. Nacionalismos há ainda mais, como temos aqui assinalado e os melhores são os que se articulam com o internacionalismo sempre necessário e que não se confunde neste continente com a União Europeia realmente existente"

Jose disse...

Desde que se 'articule' quase não são detectáveis os erros de análise!
Populismo é sempre e tão só enunciar projectos que apelam a percepções que excluem uma análise das consequências.

Anónimo disse...


Ate´ parece novidade esta do arcaico populismo… Em tempos idos
Alguém entre os da Inteligêntzia introduziu-o pela negativa, no já de si confuso léxico político, e os políticos, ditos não populistas, logo aproveitaram como se de um anátema perigoso se tratasse.
Inventam com cada coisa!
Quem tem medo dos levantamentos populares, das emanações e pulsões dos povos atira pra confusão essa do populismo, e´ a verdade.
Acordai, saiam da letargia em que estão envolvidos ou que os envolveram porque isto não e´ viver em democracia libertadora.
Não deixeis que o demagogo sacanei a seu belo prazer.
Levantaivos o´ gentes…que o melhor esta´ a chegar. de Adelino Silva

Aleixo disse...

Na Esquerda,

a incoerência da "coisa",
releva-se na persistência do sofisma da "vanguarda esclarecida"...

desconsiderando o Soberano.

Anónimo disse...

Agora é chique falar de populismo, mas quando o ex-governo de traição-nacional de coelho /Portas , tutelado pelo pior presidente de todos os tempos, ninguém falava de populismo... Há qualquer coisa que me esta a escapar!!!
E não digo mais nada porque posso ser multado ou preso, como foi o caso da investigadora bolsista Maria de Lurdes Rodrigues

Anónimo disse...

Quando se ouve um socialzinho-democratazinho preocupado com os 'populismos' à esquerda sabemos logo do que se trata: questão de hegemonia. Nem mais.

Anónimo disse...

Sempre e tão só?

Que linguagem paupérrima, absolutista como os fanados nobres de outras épocas, tornados impotentes pelo andar da carruagem

Sempre e tão só! E pospega-se uma "definição" parida sabe-se lá onde, esquecendo que este mesmo termo é "um dos mais controversos da literatura política, possuindo várias conotações".

Anónimo disse...

"Sempre e tão só".

Esta afirmação gratuita teve em conta a "análise das consequências" da sua proclamação como evidência absoluta?

A vacuidade da "definição" definitiva do termo "populismo" confirma-se pela variação daquela na razão directa dos interesses postos em causa.

O "populismo"na sua definição redutora é um processo usado pelos do regime, para pôr em causa tudo o que lhes possa sair das garras. Não é por nada que, de "cátedra", um fulano tente delimitar o seu significado. A defesa do status quo assim o abriga.

A pergunta perene surge espontânea.
Qual a medida e o peso para aferir se houve ou não "uma análise das consequências"? E donde e até onde se considera "satisfatória" tal análise?

Será necessário um conselho de peritos para aquilatar de tais limites? E colocar por lá coisas como Teodora Cardoso, Núncio, Passo Coelho, Carlos Costa e Jose (Goems Ferreira).





Anónimo disse...

Por exemplo numa determinada fase e para a teoria marxista, "Populismo" correspondia a uma tendência intelectual muito específica, a qual encara o povo, especialmente o campesinato, como um grupo mais ou menos homogéneo ainda não dividido em classes e não experimentando qualquer processo de diferenciação forte. Os Narodniks russos eram "populistas" neste sentido. Eles acreditavam que poderia ser feito uma transição directa da comuna aldeã russa, o mir , para o socialismo sem passar por uma fase de desenvolvimento capitalista. Vera Zasulich , uma Narodnik importante, escreveu a Karl Marx a pedir sua opinião sobre tal possibilidade.

Mas isso são outros contos.

"sempre e tão só!" Marchar!" marchar!



Jaime Santos disse...

O destino do 'socialismo num só País' não foi brilhante em lado nenhum, mas isso o João Rodrigues prefere esquecer. E mesmo a 'social-democracia escandinava' que recentemente se lembrou de admirar (presumo que para encontrar uma boa razão para defender o socialismo real, porque realmente não deve haver mais nenhuma) mais não é que uma boa memória, dado que mesmo esse modelo se tornou obsoleto com o fim dos anos de alto crescimento económico, causado pela crise do petróleo. Curiosamente, o líder dos Verdes Holandeses, Jesse Klaver, lembrava precisamente hoje ao Guardian que o principal problema de Jeremy Corbyn é que o seu programa económico fazia sentido nos anos 70. Certa Esquerda parece esquecer-se que existe uma coisa hoje que então quase não existia, chamada consciência ambiental, também derivada de uma crise ambiental sem precedentes. E se isto é pensamento elitista, pois paciência...

Anónimo disse...

Boa Jaime Santos boa.

Continue assim nessa deriva. Não só de pensamento elitista mas também de verdadeiro pregador da submissão aos ditames dos mercados, logo desta UE pós -democrática.
Com verdeiras preocupações ecológicas, diga-se. Geralmente vão depositar o seu lixo nuclear no quintal do vizinho e poluir o ambiente longe dos seus palácios ou enviar bombas de urânio empobrecido nos países que nao respeitem a Ordem estabelecida.

Como se chama aquele " socialista" holandês que curiosamente também se assume como um soba ideológico do neo- liberalismo e que dia sim dia nao nos ameaça, expelindo o seu ódio de classe?