quarta-feira, 1 de março de 2017

As apostas de Trump


O poderoso discurso de ontem confirmou realmente que Donald Trump é um inimigo que não deve ser subestimado nas suas apostas. Isto não é uma palhaçada. Mobilizar todo o poder do Estado ao serviço do estímulo aos já consolidados complexos militar-industrial e penal-securitário, parte da economia política dos EUA. Todo o poder ao serviço da promoção do capitalismo educativo e da sobrevivência do capitalismo fóssil. Todo o poder ao serviço de parcerias público-privadas na área das infraestruturas, o keynesianismo que os grupos dominantes, em vias de serem beneficiados fiscalmente, autorizam. Wall Street nunca perde.

Todo o poder ao serviço de um capitalismo que na realidade nunca prescindiu do Estado-Nação e da sua instrumental protecção como a evocação de Lincoln, o presidente republicano abolicionista e protecionista, atesta. Sim, o protecionismo é uma tradição original norte-americana, quer seja o dos mais fortes, também chamado comércio livre, quer seja o dos sectores ainda na infância ou enfraquecidos pela concorrência internacional acrescida, o das barreiras alfandegárias e não-alfandegárias, o das cláusulas “comprem americano”, o que apoda de comércio justo.

Num contexto de capitalismo cada vez mais oligárquico e desigual, com problemas potenciais de legitimação, Trump aposta na mobilização dos instrumentos de política económica para gerar pleno emprego, sem que isso ameace quem manda, usando a desregulação para fragmentar e o perverso populismo triádico, o termo é de John Judis, também para manter segmentos das classes subalternas num bloco social reconfigurado.

Uma tradição política que tem horror à falta de medo aposta no terrorista islâmico e no imigrante clandestino, na confusão deliberada entre os dois. Seja como for, quem hegemoniza as ideias de segurança e de fronteira, os variados e inevitáveis critérios, com traduções bem reais, de inclusão na, e de exclusão da, comunidade política, pode ganhar. Esta também é a aposta de Trump.

10 comentários:

Geringonço disse...

Ao pensar que Bernie Sanders (um social democrata) podia ter obliterado este oligarca e demagogo lembro-me como a facção neoliberal e claramente dominante do partido democrata (os milionários Clinton, Obama, etc) conspirou contra ele.

Obama, Clinton, os media que defendem acerrimamente o “establishment” preferem Trump na presidência, pois é assim que a religião “excepcionalismo americano” pode continuar e eles a ganhar milhões!

Os EUA estão clara decadência social e económica, o recurso ao militarismo quando já são inequivocamente a potência militar número 1 (é necessário juntar as 7 seguintes nações para um poderio militar equiparável) e ao recurso a um capitalismo ainda mais agressivo e desregulado são os sintomas dessa decadência e do desespero das “elites”.

O povo americano não vai ver a sua situação melhorar (e muito precisava, partes dos EUA estão deprimidas, tal como Detroit e outros lugares em vias de desindustrialização).

Muitos daqueles que votaram em Trump nunca acreditaram em Trump, o que eles querem é deitar abaixo o sistema dominado pelo partido da guerra e WallStreet, o partido Democrata-Republicano.

Há, apesar do cenário desolador, motivos para optimismo, as pessoas (o Povo) parece mais desperto, mais interessado sobre o que está acontecer social e economicamente.
Por muito que a propaganda (incluindo os jornais como o Publico, etc) tentem passar a ideia que tudo estava muito bem e que Trump veio estragar tudo, as pessoas sabem que não estava tudo bem.

Trump, no meio de todos os defeitos que tem, tem uma virtude (mesmo que não intencional), ele mostra aos americanos e ao mundo o que realmente é o “excepcionalismo americano”, isto nunca aconteceria com o fingido Obama.

Anónimo disse...


“Donald Trump é um inimigo que não deve ser subestimado nas suas apostas”.
Assim sendo, como se deve considerar os milhões de norte-americanos que o elegeram? Será que vai ser pior que Obama, o presidente que mais guerras implementou, ou pior que H. Clinton que se ufanou com a matança (que ainda perdura) em “Primaveras Árabes”? Duvido.
Ele, simplesmente, vai ser o que o “Complexo Industrial Militar” (Falcoes) quiser, como sempre tem acontecido. Não vai ser nem mais nem menos inimigo que os que o antecederam. de Adelino Silva

Jose disse...

Poderá dizer-se que Trump preza a plena soberania da sua nação?!

Anónimo disse...

"O poderoso discurso de ontem confirmou realmente que Donald Trump é um inimigo que não deve ser subestimado nas suas apostas. Isto não é uma palhaçada"

Completamente de acordo. O discurso de denúncia do que é Trump não pode todavia ocultar o que foi Obama, os Clinton ou os Bush que arrostaram o mundo para este caos e para estas guerras de pilhagem e de saque

Mas temos que olhar com muita atenção para o que nos reserva este patife do Trump. Isto não é mesmo uma palhaçada

Anónimo disse...

Preza a plena soberania da naçao?

Só a dele. Mas isso já o marxismo ensinou ao falar do imperialismo.

Tal como alguns prezam os offshores em nome da sua soberania de ladroes

Jaime Santos disse...

Trump pretende levar o capitalismo para a sua última fase, liquidando o pouco que resta do New Deal (tirando o keynesianismo militar que bem referiu), transformando os EUA num cleptocracia plena. O mesmo que aconteceu em Angola ou na Rússia, algo que o João Rodrigues gosta de omitir. Se quer realmente falar em nacionalismo progressista, deve completar o seu raciocínio e nomear um caso que seja, um só, que não se tenha convertido ou em ditadura terceiro-mundista (Cuba, Coreia do Norte) ou em Estado Cleptocrático (Rússia ou Angola), ou em Capitalismo do Mais Selvagem (Índia ou China). Não vale a pena rasgar a camisa com moralismos se o sistema que defende faliu e redundou nisto. O que não funciona não é moral. O idealismo europeísta algo ingénuo do Rui Tavares ganha às suas alternativas aí por uns dez a zero...

Paulo disse...

Vou repetir o meu mantra: a eleição de Trump é uma benção. A direita casqueira vai poder exibir as suas salvíficas propostas. Com a Hillaryzinha eram mais 4 anos de nem carne nem peixe. Assim fica já resolvido. Se é para ir tudo pró calandró que seja de uma vez, lume brando, uma no cravo e outra na ferradura é que não.

Anónimo disse...

Jaime Santos.

Que pobreza argumentativa. Ao nível dos 10 a zero citados

Não vale a pena rasgar a camisa com moralismos se o sistema que defende faliu e redundou nisto. Já nem se tenta defender uma ideia. Tenta-se apenas apresentar o menos mau?

Jaime Santos mas era mesmo o que faltava. O esclavagismo demorou séculos a ser derrubado e fez correr muito sangue mas foi vencido. Tal como provavelmente irá suceder a este modelo de sociedade "menos mau" ...só para alguns. Se lutarmos por tal

Ainda não percebeu pois não Jaime Santos?

Entretanto aí o seu ódio contra Cuba permanece. Parece que Cuba tem mais dignidade que os países com que sonha. Quer ler de novo o que mulheres de partidos socialistas/ sociais democratas disseram de Cuba? Claro que não eram nem o Blair, nem o Hollande , nem o Gonzalez nem o Schroder. Não assumiram a traição dos seus.

Jose disse...

Olha o marxismo que ensinou acerca do imperialismo!!!
Fantástico, excepcional originalidade se considerar-mos que há imperialismo há largos milhares de anos e que quem mais fez para destruir os mais modernos imperialismos foram os EUA, a começar no britânico e a acabar no russo-soviético, que volta a querer levantar cabeça na versão russa original!

Anónimo disse...

Inquieto jose fala do Marxismo. Não terá gostado que a sua apatetada afirmação sobre a soberania da nação tivesse levado ao chamar o nome aos bois.

Paciência. Não podemos estar para aturar essa personalidade inquieta que se faz ainda mais inquieta quando se lhe depara do que não gosta.