domingo, 11 de maio de 2014

Relembrar as verdadeiras origens da crise


É absolutamente imperdível a entrevista no Público de hoje, a ler na íntegra, a Philippe Legrain, um insuspeito ex-conselheiro económico de Durão Barroso, a propósito do seu recente livro «European Spring: Why our economies and politics are in a mess – and how to put them right». Na entrevista a Isabel Arriaga e Cunha, Legrain assinala que uma grande parte da explicação para a crise «é que o sector bancário dominou os governos de todos os países e as instituições da zona euro», pelo «que, quando a crise financeira rebentou, foram todos a correr salvar os bancos, com consequências muito severas para as finanças públicas e sem resolver os problemas do sector bancário». Isto é, «o que começou por ser uma crise bancária (...) acabou por se transformar numa crise da dívida (...) em que as instituições europeias funcionaram como instrumentos para os credores imporem a sua vontade aos devedores». Por isso, «em vez de enfrentar os problemas do sector bancário, a Europa entrou numa corrida à austeridade colectiva que provocou recessões desnecessariamente longas e tão severas que agravaram a situação das finanças públicas». Segundo Legrain, é a prioridade concedida pelos governos à defesa dos interesses da banca, em detrimento dos interesses dos cidadãos, que leva a que os programas de ajustamento aplicados a Portugal e à Grécia constituam, na verdade, resgates aos bancos europeus.

O livro e a entrevista de Philippe Legrain são particularmente importantes e oportunos no presente contexto de campanha para as eleições do Parlamento Europeu, em que a falsa narrativa dominante sobre as origens da crise continua a impor-se, apesar de toda a sua fragilidade factual e de toda a evidência do fracasso da austeridade, a opção política e económica que essa narrativa fez emergir e que se pretende agora tornar perpétua. Na linha, aliás, de dois livros, entre outros: o também recente «Jogos de Poder», de Paulo Pena, e o «Manifesto dos Economistas Aterrados», de Philippe Askenazy, André Orléan, Thomas Coutrot e Henri Sterdyniak, publicado em 2010 e editado entre nós em 2011 pela Actual Editora. Leituras pertinentes neste mês de Maio, por relembrarem a verdadeira genealogia da crise e contribuírem para denunciar e derrotar eleitoralmente o hábil passe de mágica, que transmutou eficazmente uma crise do sistema financeiro numa crise dos Estados, das políticas públicas e das dívidas soberanas.

9 comentários:

Jose disse...

«o sector bancário dominou os governos»
Mobilizou mercenários?
Fê-los ingerir alucinogéneos?
Corrompeu?
NÃO!
Limitou-se a fazer o que lhe pediram: financiar toda a demagogia, inflar estatísticas, anunciar a chegada do paraíso.
E pelo caminho os seus gestores foram comendo obscenas prebendas estribados em contratos à prova de crise!

Anónimo disse...

Um representane do sector banqueiro a tentar atirar poeira para os olhos?
Nem o grito do não em tom um pouco histriónico, permite engolir a estória da pobre e inocente banca.
Afinal ela terá "cumprido apenas ordens"

"É o capitaismo estúpido".E esta sua defesa por parte do jose foi das, com o devido respeito, mais patéticas que li nos últimos tempos

A subordinação dos governos ao poder económico é de tal forma gritante e os exemplos são de tal forma abundantes que nem interessa aqui pespegar os nomes de.
As prebenda dos gestores...com toda a certeza.Mas os lucros bilionários dos banqueiros e o acumular da riqueza em cada vez menor número de mãos.

De

Jose disse...

A estupidez deveria ter limites, como limites têm as palavras.
Banqueiros são os milhares de desgraçados accionistas do BCP.
Bancários são os seus gestores, seja ele Jardim ou Vara.

Anónimo disse...

Hum...
Um banqueiro : Um tipo que detem um banco.
Um jardim gonçalves por exemplo.
Ou um Oliveira e costa.

A lamúria sobre os "accionistas" do BPN incluirá o sr presiente da república?Ou este foi apenas "accionista" da SLN?

As "pequenas diferenças"
O problema nem sequer é a estupidez afirmada por.É a defesa duma sociedade tão podre como este capitalismo criminoso e abjecto.
Isso sim.deveria fazer corar de vergonha qualquer ser com um mínimo de.!

Agora por favor uma oração em nome do sector bancário.Ele apenas cumpriu ordens.Sabe-se lá de quem.Dos seus gestores, dos seus accionistas, dos seus donos de facto...
...uns coitados injustiçados

De

José M. Sousa disse...

O José parece desconhecer o conflito de interesses frequente entre administradores e accionistas maioritários dos bancos (Banqueiros)e os pequenos accionistas

R.B. NorTør disse...

O troll aqui dos ladrões parece desconhecer que houve, no caso dos submarinos, condenados na Alemanha por corromperem (e bem) governantes portugueses e gregos. Se calhar o ser troll dá memória curta...

Dias disse...

É importante ler a entrevista de alguém de fora daqui, que conhece bem a génese da crise e a forma como vê a actuação da troika.

A entrevista de Philippe Legrain vem confirmar que o afã do governo português em querer “ir além da troika” está carregado de ideologia, não foi somente a saloiice do “bom aluno”.

e-ko disse...

ah, "le temps des cerises" está próximo... também li o artigo e já li os jogos de poder, em 7 horas sem parar e encontrei isto: medida permitiria à Europa resolver muitos dos seus problemas sem recorrer à austeridade.este também andou a ler das Kapital de Piketti...Isto está a ficar engraçado!...


Jaime Santos disse...

Ninguém nega que os políticos têm responsabilidades no desencadeamento desta crise. Desde logo, o Euro é um projeto político que não levou em conta que a Europa não é uma zona monetária ótima, que não pode existir uma moeda única sem que exista um orçamento federal corretor de assimetrias e por aí a fora. E claro, depois há os aspetos que são de bradar aos céus, como Bruxelas ter estimulado a compra de obrigações dos periféricos no Mercado Repo, através de uma diretiva que estabelecia a igualdade das obrigações de todos os soberanos nesse mercado. Só que as responsabilidades pelo mau negócio deveriam ter sido compartilhadas pelos diferentes intervenientes, e não só pela parte fraca. Se alguém concede um empréstimo de alto risco e a coisa corre mal, deve pagar o pato, de outro modo não estamos a falar de um investimento de alto risco/alto retorno e sim de uma renda. Ou se curava o mal logo no princípio comprando as obrigações gregas no mercado secundário (o Blyth fala de um custo de 50 mil milhões de euros, muito menos do que tudo isto nos custou entretanto) e violando os tratados, ou se deixava a Grécia entrar em default e era preciso recapitalizar os bancos (e claro, os acionistas eram os primeiros a pagar o pato, porque é perante eles que os funcionários a quem chamamos banqueiros respondem, já que, como acima, quem não quer manter os seus investimentos sob vigilância e correr riscos, não investe, isto é um aspeto fundamental do capitalismo não-rentista, mas é muito mais fácil usar de má-fé e ser-se hipócrita, pois claro, o Mercado é bom para vocês mas não para mim). Só que, sabendo-se a confusão que reina nos bancos regionais alemães (porventura os mais problemáticos da UE), duvido que esta hipótese alguma vez tenha estado em cima da mesa, e nisso discordo de Legrain... Merkel pode ter hesitado, mas duvido que tenham sido os Franceses a convencê-la...