quinta-feira, 15 de maio de 2014

Primavera Europeia


Philippe Lagrain, ex-conselheiro económico do Presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, entre 2011 e 2014, deu uma entrevista imperdível, ao jornal "Público", no passado dia 11, a propósito do seu mais recente livro "European Spring: Why our Economies and Politics are in a mess". A entrevista tem uma relevância acrescida por ser dada por alguém de dentro da Comissão Europeia, ex-conselheiro do presidente Barroso, e por ser tão clara, honesta e fundamentada. Nela, Philippe Lagrain, expõe a tese do seu livro e explica a crise das dívidas soberanas, as razões para que se tenha optado pelos resgates aos Estados em vez de outras soluções, a quem interessaram e porque é que falharam.

Ele acusa os governos e as instituições europeias de terem posto os interesses dos bancos à frente dos cidadãos. Afirma e explica que os resgates aos Estados foram resultado do lobby dos bancos alemães e franceses que estavam demasiado expostos à dívida pública daqueles países e queriam evitar qualquer tipo de reestruturação que lhes imputasse perdas. Na realidade, os resgates aos países periféricos não tendo servido para os salvar - todos estão pior que na véspera dos pedidos de resgate respectivos - serviram para limpar a dívida pública, desses países, dos balanços dos bancos alemães e franceses. Os resgates garantiram a essas instituições financeiras - que tinham ganho muito com os empréstimos ao Sul da Europa - uma saída limpa e rápida, transferindo o problema para os contribuintes alemães e franceses. Se os cidadãos portugueses, irlandeses, gregos e espanhóis foram maltratados, os cidadãos alemães e franceses foram enganados pelos seus governantes e pelos bancos dos seus países. Em 2011, a reestruturação da nossa dívida pública e privada teria sido feita sobre dívida detida pela banca alemã e francesa, hoje terá de ser feita sobre dívida detida pelas instituições oficiais. O sistema financeiro tem hoje um poder sobre as democracias que tem de ser urgentemente resgatado pelos cidadãos, com prejuízo de perderem definitivamente o controlo sobre as suas próprias vidas.

(Cronica publicada às quartas no jornal i)

5 comentários:

João disse...

Li com atenção e fica-me uma dúvida nuclear: nesse resgatar da poder politico por parte da democracia e não dos conglomerados económicos transnacionais- primado com que concordo em absoluto - como e que encara o tema de Portugal na zona Euro? e o tema do Tratado Orçamental?

Jaime Santos disse...

Lamento contradizê-lo, mas acho que quer os cidadãos alemães quer os franceses não querem de todo saber quais os reais problemas que afligem os seus bancos. Não conheço a situação dos bancos franceses, mas a má gestão dos bancos regionais alemães não é de hoje. O Landesbank de Berlim passou por sérias dificuldades no início da década passada (o que levou à queda do Governo local CDU/SPD) por causa de maus investimentos no imobiliário em Berlim. E convém lembrar que a nacionalização em 2009 do Hypo Real Estate requereu uma injeção de capital de 7,7 milhares de milhões de Euros e mais de 123 mil milhões de Euros de garantias estatais (!). A saúde da Economia Alemã (que nos querem vender como exemplo do que de bom se faz na Europa) está provavelmente assente sobre pés de barro... E é igualmente verdade que por essa Europa fora, as instituições financeiras estavam até à crise alavancadas em ratios perfeitamente surrealistas...

Jose disse...

Se bem entendo, todo o lamento é relacionado com o facto de não se ter ferrado o calote aos bancos franceses e alemães.
Seria porventura essa a política recomendável para exprimir a solidariedade europeia e a coerência do euro!

Anónimo disse...

O José ainda não emigrou.?
É uma pena.

Anónimo disse...

Alguém é capaz de explica ao "jose" que este seu lamento perpétuo em torno dos bancos franceses e alemães se torna enjoativo e doentio?

Nem coerente nem solidário.Apenas uma pequena mancha cansativa de alguém que se suspeita ter outras "coerências" e outras "solidariedades".Com a banca e os grandes interesses económicos decerto.Mas não só.Definitivamente não só

De