quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Virtuoso ou Vicioso?


“É evidente que o regime de pensões só pode funcionar quando a economia cresce e quando cria muito emprego. O nosso problema neste momento nas questões sociais tem a ver fundamentalmente com o aumento do desemprego, porque é mais dinheiro que sai para os subsídios de desemprego e é menos dinheiro que entra, pois quando as pessoas estão empregadas descontam para a Segurança Social”


"Não é possível suportar um regime de pensões da forma como criámos e, simultaneamente, o emprego, o rendimento e a produtividade em queda"


Duas formas diferentes de dizer a mesma verdade. Provavelmente, com intenções também diferentes. É verdade que a sustentabilidade do sistema de Segurança Social está associada ao crescimento e emprego ou falta deles. Se o país continuar no caminho do aumento do desemprego e da precariedade (que é emprego sem descontos ou descontos baixíssimos), em breve, o sistema de segurança social público que temos (tínhamos) será inviável. Inversamente, como uma economia em crescimento e próxima do pleno emprego, o sistema que temos seria (e era, há bem pouco tempo) perfeitamente viável e até excedentário.

O debate sobre a nossa pirâmide etária e a sustentabilidade de longo prazo do sistema é um debate apaixonante, mas não tem nada a ver com o que se está a passar agora. Do que se trata actualmente é da pura e simples expropriação de pensões para fazer face às consequências da austeridade. Essa expropriação apenas serve para deprimir ainda mais a procura interna e agravar a espiral recessiva, levando a mais cortes. Onde acaba este processo? Não acaba. Se a lógica da austeridade for seguida até às últimas consequências, o fim deste processo é o fim da segurança social pública, ponto.

Quem pensa que não faz mal cortar nas pensões, desde que sejam só as mais altas, não está a ver nada do filme. Depois dos remediados, vêm os pobres. Depois dos pobres, vêm os miseráveis. A opção não é, portanto, de grau. É de fundo. Uma política de ciclo virtuoso, centrada no emprego, que garanta os níveis de receita fiscal e contributiva que sustente o Estado Social que conhecemos ou o ciclo vicioso da recessão, como instrumento de engenharia social, para a desforra com que a Direita sempre sonhou.

Dirão os apologistas desta alegre caminhada que não é possível cumprir os nossos compromissos com os credores e implementar uma política de crescimento que proteja o sistema de segurança social. Também aí têm razão. Só se esquecem de um pequeno detalhe: mesmo depois de destruirmos o sistema de segurança social, a nossa dívida continuará a ser impagável, pelo que a escolha apresentada é ilusória. Mas essa formulação tem a vantagem de clarificar a opção de fundo: ou a dívida ou o sistema de segurança social (e outras coisas, diga-se de passagem).

Quando os cortes chegam às pensões que asseguram o rendimento e a qualidade de vida de viúvos e órfãos, fica mais claro (para quem ainda tivesse ilusões) que escolha fez o Governo.

10 comentários:

Anónimo disse...

Vivemos numa fase de Realimentação Positiva,ou seja,a pobreza vai dar A mais pobres e miseráveis....resta saber,quando isto vai arrebentar.
A 3 de setembro estivemos à beira duma guerra regional que c probabilidade iria dar ao começo/fim da III guerra mundial.Estas elites ocidentais(bilderbergers,trilaterais,iluminatis e outras coisas mais)q se alimentam da ruína da sociedade estão de cabeça perdida...
Outra Sociedade é precisa e,por isso,possível.

Anónimo disse...

Virtuoso ou vicioso ? A expressão resume bem a questão, na verdade as várias questões.

A primeira: o financiamento da Segurança a Proteção Social assenta, ainda e quase exclusivamente, na tributação do trabalho (humano) enquanto a "produtividade", "competetividade" etc, transfere cada vez mais trabalho para a tecnologia /automações/informática/robótica,etc trabalho esse que simplesmente não conta para o financiamento dos sistemas de proteção e segurança social.

Acontece que (juntamente com a dispersão/novas formas de organização das empresas e outros factores resumidos na expressão "globalização") reside aui uma das principais razões e causas de desemprego.

Desemprego que tenderá a alastrar e agravar-se seguindo-se o clássico "ajustamento" ou seja mais desemprego, mais "racionaslização" mais "optimizações", mais novas tecnologias e óbviamente um demprego sempre crescente.

No limite teremos sociedades ultra-competitivas c/ produção a custo zero e desemprego a 100%.

Resta uma pequena e nunca respondida questão: Quem comprará o quê a quem ?

Ou perguntando de outra forma, não será altura de ter juízo ?

Anónimo disse...

"mesmo depois de destruirmos o sistema de segurança social, a nossa dívida continuará a ser impagável"

Que a nossa dívida é impagável já toda a gente sabe. O objectivo já não é, por isso, pagar a dívida mas tentar atingir um défice primário (isto é, sem juros da dívida) nulo ou excedentário. Isto é, sendo a dívida actual impagável, não continuar a contrair dívida quando deixar de se apagar a actual.
Parece simples não é? No entanto nem isso conseguimos.

Anónimo disse...

O governo Passos/ Portas/ Cavaco/ troika, mais não faz do que levar á prática o que a Direita há muito pretendia.
A Direita não esquece e não perdoa, nunca.! O que não conseguir hoje, fica na gaveta aguardar melhores tempos e na altura própria (qual Coelho saindo da cartola)saí cá para fora.
Portugal está hoje a pagar os desvarios de ter feito o 25/4 e de ter dado (durante algum tempo, não muito) mais migalhas do que aquelas que as pessoas merecem.
Esta é a visão da Direita ( que é defendida pelos editoriais e comentadores de serviço e pelos políticos sem escrúpulos e mentirosos (Coelho, Portas, Cavaco).

Daniel Ferreira disse...

"o fim deste processo é o fim da segurança social pública, ponto" - porque não um modelo de segurança social diferente, em sistema de depósito (estilo bancário)? cada qual sabe exactamente o que é seu e quanto deu, podendo ser gerido por privado ou por entidade pública, e passando pela livre escolha do gestor pelos depositantes. Não será melhor que o actual sistema de saco de dinheiro de todos, em que o estado gere a distribuição com as consequências que se conhece? O dinheiro sai mais rápido para pensões, reformas, subsidios, etc, do que entra por via das contribuições, independentemente dos numero de emprego. Tem que se levar em conta que muito dos jovens emigram, não apenas por falta de emprego cá, mas por e simplesmente porque querem. Seriam estes os futuros contribuintes da Segurança Social como a conhecemos

"sustente o Estado Social que conhecemos" - o Estado Social que conhecemos tem que mudar: as pessoas continuam a pensar que o dinheiro que contribuiram é deles, mas não é! Vai para um saco de dinheiro de todos, em que o estado decide a politica social de redistribuição

Albino M. disse...

Na mouche, parabéns... Três vezes...

menvp disse...

-» Conversa à CGTP… ou seja: conversa de quem vier a seguir que feche a porta!
{obs: lobbys patronais e lobbys sindicais unidos… de facto, ambos, nas suas negociações com os governos, QUEREM MANTER O CONTRIBUINTE DE FORA… isto é, querem que quem paga (vulgo contribuinte) não possua o Direito de Vetar negociatas…}
-» Conversa de «quem vier a seguir que feche a porta»... não obrigado!... Leia-se: em vez de propostas de aumentos... propostas de orçamentos!...
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A mama dos ravioli-mafiosi tem de acabar!!!
-> De facto, os políticos são eleitos é para gerir o bem público!...
-> Toda a gente pôde ver: políticos incompetentes (fazendo jeitinhos a certos lobbys) ao contraírem dívida... conduziram o país rumo a uma espiral recessiva e rumo à falência!
-> Quando um qualquer ravioli-mafiosi começa a falar em deficit e dívida pública... a resposta do contribuinte deverá ser: «o quê!? o quê!? o quê!?... os políticos foram eleitos TÃO E SOMENTE para gerir o bem público!...»
Explicando melhor, quando um político quer contrair dívida... tal terá de passar por um outro 'crivo'!... Leia-se: o contribuinte terá de reconhecer que o político em causa possui competência para tal!!!
Ora, de facto, quando uma entidade qualquer contraí dívida das duas uma:
- ou vai recuperar o investimento... ou... vai afundar-se ainda mais!...
Resumindo: políticos 'armados' em investidores deixaram-nos à beira da bancarrota… o contribuinte tem de abrir a pestana… leia-se: o Estado só deverá poder contrair dívida... mediante uma autorização expressa do contribuinte - obtida através da realização de um REFERENDO.
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P.S.
-> O contribuinte não pode andar constantemente a correr atrás do prejuízo: BPN, PPP's, etc, etc, etc.
!!!...DEMOCRACIA SEMI-DIRECTA...!!!
-> Há que apoiar os 'Políticos Disponíveis para serem Fiscalizados' (pelo contribuinte): "O Direito ao Veto de quem paga".
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---> É uma 'regra' da democracia:
- Um ministro das finanças que dê abébias a certos lobbys tem a vida facilitada... pelo contrário, um ministro das finanças que queira ser rigoroso, tem de enfrentar uma (constante) tempestade política.
[uma nota: apesar do legado que deixou… Rui Rio, durante os anos do seus mandatos, foi o autarca mais criticado pelos media… pois é, não fez jeitinhos a certos lobbys…]
---> Mesmo depois de já terem sido estoirados mais de 200 mil milhões em endividamento... os 'Políticos Carta Branca' querem estoirar mais: eles continuam a falar em mais e mais despesa... “não enquadrada” na riqueza produzida!?!?!
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---> Por um sistema menos permeável a lobbys, os 'Políticos Disponíveis para serem Fiscalizados' (pelo contribuinte) deverão fazer uma gestão transparente para/perante cidadãos atentos... leia-se, são necessários melhores mecanismos de controlo... um exemplo: "O Direito ao Veto de quem paga" (vulgo contribuinte): ver blog 'fim-da-cidadania-infantil'.

Lowlander disse...

Anonimo 09:25

O processo que descreve e feitio e nao defeito do sistema capitalista. Porque a unica forma do capital obter "mais-valia" e extraindo sobre-trabalho de quem trabalha. O desemprego serve ao mesmo tempo como ameaca que permite extrair cada vez mais sobre-trabalho e fornece o exercito de trabalhadores de reserva caso alguem tenha a veleidade de contestar.
E e, em resumo, a razao porque o sistema capitalista contem em si proprio contradicoes insanaveis que o empurram sempre em direccao a crises e revolucoes.
O capital e um livro fundamental para a compreensao daquilo que se esta a passar.

Lowlander disse...

Anonimo 09:45

Isso e pura e simples treta. Como e que e suposto atingir "deficit primario nulo ou excedentario" quando se destroi a capacidade produtiva de um pais da forma como andam por este Sul da Europa? Treta!

O objectivo e, e sempre foi desde o inicio, usar a divida como alavanca para aumentar rendas ficas de capital para o grande capital, em particular, o capital localizado no coracao do sistema: Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos

Lowlander disse...

Danizinho,

"porque não um modelo de segurança social diferente, em sistema de depósito (estilo bancário)?"

Porque nao o salve-se quem puder?
A sua teoria supimpa e portanto que todos nos, colectivamente deixemos de comer pao hoje para poder comer esse pao amanha.

"o actual sistema de saco de dinheiro de todos, em que o estado gere a distribuição com as consequências que se conhece?"

Ao contrario dos sistemas de capitalizacao que sao um saco de dinheiro de todos, em que PRIVADOS gerem a distribuicao com as consequencias que se conhece.

"O dinheiro sai mais rápido para pensões, reformas, subsidios, etc, do que entra por via das contribuições, independentemente dos numero de emprego."

BULLSHIT. Informe-se convenientemente.

O sistema de pensoes, veja la, e tao deficitario que os estarolas deste governo alias , de varios nos ultimos 30 ANOS estao constantemente a ir ao fundo de pensoes buscar dinheiro para tapar o Orcamento de Estado...

Em resumo, o seu comentario e um monumento a desinformacao e ma-fe/ignorancia dantesca.
Diz la Danizinho, em que secretaria de Estado trabalhas?