Afinal o novo ministro da Economia, Pires de Lima, ao contrário do que tinha afirmado na entrevista que deu a semana passada à revista “Visão”, acredita em milagres. Para o novo ministro vivemos um milagre económico e, para o comprovar, apresentou alguns indicadores, entre os quais destacou os números das exportações. Pires de Lima, que sobre ele próprio diz que se “criaram expectativas manifestamente elevadas”, quer tanto provar que afinal não foram assim tão elevadas que acaba como muitos outros a ser manifestamente exagerado na análise dos pobres sinais de “recuperação económica”. Fosse mais atento, ou mais sério, teria dito, como os dados do INE nos mostram, que 70% do crescimento das exportações é explicado somente pelo aumento da capacidade de produção da refinaria de Sines. A este propósito, seria também importante referir que as exportações de combustíveis integram uma elevada componente de importações, e portanto representam um reduzido valor acrescentado.
Já agora, e ainda sobre este assunto, é também prudente não esquecermos que a nova refinaria de Sines está perto de atingir a sua capacidade máxima de produção, o que devia ser um alerta para um ministro que decidiu apoiar-se nos números das exportações. Mas Pires de Lima também se esqueceu de dizer que o investimento tem sido revisto em baixa desde que foi apresentado o OE para 2013. Se quando este foi apresentado a queda prevista para 2013 era de 4,2%, no primeiro orçamento rectificativo a redução do investimento foi revista em baixa para menos 7,6% e agora no segundo rectificativo novamente revista em baixa para menos 8,5%. É que o mesmo ministro que agora destaca os números das exportações afirmou em Março deste ano que “os políticos que não se convençam que as exportações vão salvar as empresas. É tempo de as pessoas que estão a construir este processo de ajustamento terem um discurso e uma prática mais próxima da economia real” e que ao “Expresso” deste fim-de-semana disse que “sem procura interna é um bocado complexo esperar que as empresas que operam em Portugal invistam”. Pires de Lima, que é ministro de um governo que vai retirar mais 4 mil milhões à economia em 2014, revela-se mais um como muitos outros: diz uma coisa na oposição mas está disponível para fazer outra diferente quando no poder.
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