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● A austeridade expansionista, uma patranha pseudo-académica miseravelmente denunciada pela realidade; ● O incumprimento de metas de défices orçamentais absurdas em 3 anos, sucessivamente "revistas"; ● A surpresa cínica com o disparo do desemprego e da emigração desesperada; ● A destruição do tecido económico para além de um shumpeterianismo de algibeira de "destruição criativa"; ● Uma pseudo-reforma dos Estados "despesistas", "reforma" que vive do confisco dos seus funcionários, dos reformados e dos contribuintes; ● Uma concentração financeira e da oligarquia empresarial ainda maior do que no início da crise, e contra o propalado discurso inicial contra os pecados da finança (na altura, "americana") que levaram ao colapso de 2008; ● O ludibriar dos companheiros de estrada que acreditavam na promoção do "empreendedorismo" e da meritrocracia, do mundo florescente das PME "globais" e da limpeza das anti-competitividades; salvo alguns que vivem no ecossistema, a maioria está hoje arrasada. (...) Dar guia de marcha a esta Comissão no próximo ano é um acto de higiene europeia.»
Jorge Nascimento Rodrigues (via facebook)
1. Quem acompanhe os artigos e comentários de Jorge Nascimento Rodrigues, no Expresso e no facebook, sabe bem que os chumbos (e riscos de chumbo) do Tribunal Constitucional (TC) não contam para a história dos factores que determinam as oscilações dominantes das taxas de juro da dívida soberana. A inversão da tendência de descida, em Maio, deveu-se fundamentalmente ao anúncio de que a Reserva Federal Americana iria alterar a sua política de estímulos monetários à economia. Em Julho, é sobretudo à crise política provocada por Gaspar e Portas que deve assacar-se um novo agravamento, não se regressando contudo, desde então, a níveis idênticos aos registados antes de Maio. Mais recentemente, o anúncio de Draghi quanto a uma nova operação de liquidez de longo prazo (LTRO) e a acalmia temporária do risco de bancarrota nos EUA parecem explicar as tendências de descida.
2. É por isso no domínio do mais alarve despudor - e gravidade institucional - que se devem enquadrar as pressões da Troika, do FMI, do Eurogrupo e da Comissão Europeia sobre o Tribunal Constitucional. Na Declaração saída da Oitava e Nona avaliação do Memorando, a Troika ensaia uma primeira acusação ao TC, responsabilizando-o por «reverter» os resultados obtidos, em termos de «confiança dos mercados», e escusa-se a proceder a qualquer espécie de auto-avaliação e mea culpa quanto ao fracasso da austeridade. Aliás, toma implicitamente os falaciosos «sinais» de recuperação como resultando das políticas impostas, quando justamente os chumbos do TC continuam a ser a explicação mais plausível para o surgimento desses putativos sinais de abrandamento da recessão.
3. E quando a preparação do Orçamento de Estado de 2014 estava já na forja, sucedem-se a esta ofensiva inicial as declarações de Christine Lagarde (FMI), que se refere à «dificuldade particular» de se saber «o que é ou não constitucional», e a primeira alusão ao «activismo político» daquele órgão de soberania, por parte de um «alto representante» do Eurogrupo, que considerou o TC como o tribunal mais interventivo no contexto europeu (revelando assim, como está bem de ver, absoluto desconhecimento sobre os níveis de activismo político do Tribunal Constitucional alemão). Mas a cereja em cima do bolo surgiria com a formalização das críticas da Comissão Europeia, num documento datado de 15 de Outubro que se associa a duas iminências pardas (Katalin Gonczy e Luiz Pessoa) da delegação da CE em Lisboa. Nas primeiras linhas desse texto pode ler-se que «qualquer ativismo político» por parte do Tribunal Constitucional terá «consequências muito pesadas para o país», aludindo-se aos riscos na «implementação do Memorando de Entendimento» (vide, vem aí o segundo resgate).
4. Face a esta intolerável chuva de ataques, pressões e ameaças ao TC, que ultrapassam qualquer linha vermelha que se pudesse imaginar, Cavaco Silva permaneceu (e permanece) mudo e quedo, obrigando Jorge Sampaio - o último Presidente da República que o país teve - a vir a terreiro defender a instituição. O significado global desta ofensiva é fácil de perceber: o Tribunal Constitucional é não só o único bode expiatório à mão de semear para tentar encobrir as responsabilidades do governo e da Troika pelo fracasso da austeridade e do «ajustamento português», como constitui, ao mesmo tempo, o último alvo a abater, para que se possa prosseguir a estratégia de empobrecimento e desmantelamento dos serviços públicos e dos sistemas de direitos e de protecção social. Ainda que não da forma que supõe, Durão Barroso, o invertebrado presidente da Comissão Europeia, tem toda a razão: é mesmo preciso «entornar o caldo» perante tanta desfaçatez, subserviência e mediocridade.
4 comentários:
-» Anda por aí muito pessoal a dizer: «Nós defendemos uma política baseada no aumento da procura, essencial para fazer crescer a oferta»… é o pessoal ‘Anti-Austeridade’.
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-» O pessoal ‘Anti-Austeridade’ possui um 'grande mestre': o Eng. José Sócrates!
-» O 'grande mestre' anti-austeridade (vulgo: «política baseada no aumento da procura… essencial para fazer crescer a oferta…) em seis anos fez a dívida subir de 61,7% do PIB (final de 2005) para 108,1% do PIB : o 'grande mestre' quase duplicou a dívida pública em seis anos!
-» Mais, como seria de esperar, o 'grande mestre' possui um 'fraquinho' por desbaratar heranças…
Este tipo de comentários já nem merece resposta num blogue tão digno como este. Enfim...
Ó menvp, você não merece resposta como diz e bem o anónimo das 21.42.
De qualquer modo convém que se documente e esclareça melhor sobre o crescimento da divida, inclusive sobre o papel central do ex -MRPP, e ex-1º ministro (o fugitivo) e x-presidente do PSD (pois claro de quem havia de ser) e brevemente ex-comissário europeu( o de triste memória).
Recuperando um pouco o nível desta caixa de comentários, depois da invasão bárbara logo na primeira investida, cumpre-me chamar a atenção para o facto - indesmentível - de ter sido José Sócrates o primeiro, em DÉCADAS, que conseguiu realmente colocar o défice externo de Portugal ABAIXO DOS 3% (com a notável prestação de Teixeira dos Santos, convém nunca esquecer) - algo que nem a M. F.ª Leite lograra, apesar de se ter "torcido" toda durante dois longos e penosos anos...
Mas isto foi só de 2005 até 2008, claro. Depois aconteceu... lembram-se?
Infelizmente, há muito por aí quem já se tenha esquecido do facto histórico mais relevante da DÉCADA PASSADA, pelo menos para o Mundo ocidental, mas esse problema, muito comum a partir de certa idade, é sempre passível de tratamento médico, pelo menos para retardar a sua progressão...
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