domingo, 27 de outubro de 2013

Economia humana

Há uma questão central que é a renegociação da dívida, em prazos e avanço de juros, porque está a ser paga com juros absolutamente acima do razoável. Esta é condição sine qua non para dispormos de meios que nos permitam valorizar os nossos recursos naturais e humanos e criar uma dinâmica de desenvolvimento que permita um aparelho de Estado capaz de responder por direitos fundamentais como a universalidade da educação, uma saúde de qualidade, a segurança. (...) Defendo uma redução drástica de horários de trabalho, para acomodar a situação dos jovens desempregados. Evidentemente isto supõe que se aceite na empresa uma repartição mais equitativa dos salários e que o total das remunerações seja atribuído aos trabalhadores numa proporção que relacione o salário mínimo com o salário do topo. Hoje temos remunerações de quadros superiores que são manifestamente desproporcionadas. Sem alterar os custos de pessoal da empresa seria possível, e a meu ver desejável, não só por ser mais equitativo, mas por ser um elemento dinamizador da própria economia, que se introduzissem regras de proporcionalidade nos salários. Depois haveria todo um conjunto de medidas que se podem tomar, como o trabalho a meio tempo, a dois terços do tempo... Acho fundamental dar lugar aos mais novos. 

Excertos da entrevista da economista Manuela Silva ao Público de hoje. Manuela Silva é coordenadora do Grupo Economia e Sociedade (GES) da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) da Igreja Católica. Uma voz inconformada. Vale a pena ler a sua avaliação da proposta de Orçamento de Estado para 2014: de facto, “empobrece o presente” e “hipoteca o futuro”.

Adenda. Informaram-me que apesar de ter nascido no âmbito da CNJP, o GES é um grupo autónomo desde há dois anos e por isso as suas posições só comprometem os membros do Grupo. Fica feita a correcção.

4 comentários:

Luís Lavoura disse...

remunerações de quadros superiores que são manifestamente desproporcionadas

É uma consequência da lei da oferta e da procura num mundo recentemente globalizado.

No mundo global em que hoje vivemos, trabalhadores braçais sem qualificações são coisa que há em grande quantidade (na China, no Vietname, no Bangladeche). Pelo contrário, quadros superiores qualificados estão em escassez a nível global. É portanto normal que a globalização conduza ao decréscimo relativo dos salários dos trabalhadores desqualificados.

Anónimo disse...

Dar lugar aos mais novos.... Certamente. Enquanto houver mais novos... Alias, uma das contradições absolutas deste governo é afirmar que quer ser mais competitivo e industrializar o pais e depois manda os mais novos emigrar. Ninguém ( no governo) pensa que não se pode ser mais competitivo com velhos e/ou menos qualificados e que a industrialização do pais já não será numa base de mão de obra intensiva, sem qualificação e "on job training".... E o problema demográfico não é fácil e rápido de resolver mesmo com recurso à imigração...

Anónimo disse...

Seria bom que Manuela Silva como coordenadora do Grupo Economia e Sociedade (GES) da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) da Igreja Católica, disse-se ao Sr. Policarpo que se cale.
Já toda a gente sabe que esse sr é um dos tais que acha que o povo português viveu acima das suas possibilidades e que agora deve pagar com a sua vida por tal afronta. Afinal de contas, onde é que está a diferença ( que devia haver e ser substancial) entre sr e os miseráveis banqueiros tipo "ai aguenta, aguenta".?
Cale-se Sr Policarpo e siga antes as pisadas do Papa Francisco.

AAlves disse...

Nem a globalização, nem a lei da oferta e da procura são determinações divinas nem acontecem no vazio. São fruto de escolhas políticas conscientes nesse sentido. Com a absoluta livre circulação de capitais e o fim das barreiras comerciais a produtores que exploram mão de obra semi escrava só podia acontecer o fim da civilização humanista ocidental.