domingo, 11 de dezembro de 2011

Lições da Grande Depressão

A The Economist desta semana, com o pragmatismo liberal já aqui referido pelo João Rodrigues, tem uma longa peça sobre as lições dos tenebrosos anos trinta que vale a pena ser lida. É consensual que os Estados, quer pela política monetária quer pela política orçamental, conseguiram prevenir uma crise da dimensão comparável à Grande Depressão. Contudo, as opiniões sobre a importância de cada uma das faces das políticas públicas de intervenção são bastante divergentes (a minha apreciação está aqui).

A opinião da superior eficácia da política monetária expansionista face à política orçamental parece ser hoje a opinião dominante entre os economistas. Infelizmente, não surpreende, mas ajuda a explicar as actuais escolhas políticas feitas um pouco por todo o mundo neste momento. Face à suposta ineficácia de políticas orçamentais expansionistas, os governos têm enveredado pela austeridade orçamental, acompanhada pela concessão de crédito por parte dos bancos centrais à banca por forma forma a conseguir “olear” o esperado crescimento da economia. A passada semana foi muito clara neste aspecto. Ao mesmo tempo que os diferentes Estados europeus se comprometiam com suicidárias regras orçamentais, que, pura e simplesmente, nunca poderão ser cumpridas, o Banco Central Europeu diminuía a sua taxa de juro e anunciava novas linhas de crédito à banca europeia.

O problema, para além de tais escolhas serem a receita certa para a recessão, no facto de este programa ser contraditório nos seus próprios termos. É certo que os países do centro europeu irão beneficiar da acrescida liquidez fornecida pelo BCE. Todavia, devido à total liberdade de movimentos de capitais no espaço europeu e à fragilidade financeira dos países periféricos, a fuga de capitais da periferia para o centro é hoje uma realidade quase inevitável que se traduz em contracção monetária (ver o gráfico abaixo). Uma dinâmica só agravada pelas recentes indecisões. Acrescentem-se as doses cavalares de austeridade e, conclusão, o que se passa na periferia europeia ultrapassa qualquer lógica económica. Vamos mesmo rumo à depressão.

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