sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

As sete vidas do argumentário neoliberal




Do meu artigo no Le Monde Diplomatique de Dezembro (nas bancas):


(...) O sucesso do neoliberalismo, particularmente no contexto de sociedades dotadas de mecanismos democráticos formais, tem assentado em grande medida na capacidade dos seus agentes ideológicos produzirem e disseminarem uma visão do mundo que, sendo conforme aos interesses dos grupos dominantes, consegue permear o senso comum da generalidade dos cidadãos. Pouco importa que a correspondência entre estes argumentos e a realidade seja escassa ou inexistente, pois assumem o estatuto de supostas evidências por via quer da repetição quer da legitimação através da aura de autoridade daqueles que os proferem. Pouco importa também a existência de tensões - e reais contradições - entre o discurso neoliberal, que se reclama herdeiro da tradição liberal de autores como John Locke e Adam Smith, e a realidade das políticas neoliberais, cuja implementação predatória não dispensa o papel central do Estado como instrumento ao serviço da subjugação das classes populares e da apropriação de recursos comuns. O poder performativo do discurso neoliberal não advém da sua superioridade em termos de validade interna ou de adequação à realidade, mas da sua capacidade de moldar a visão do mundo dos grupos dominados de modo a que estes encarem como inevitáveis – ou até desejáveis – as transformações sociais e políticas que reforçam as relações de desigualdade e dominação a que estão sujeitos (...)

3 comentários:

Dalaiama disse...

Muito bom o artigo Alexandre, ainda ontem estive a lê-lo, brilha logo ao abrirmos o jornal! Força!

Tripalio disse...

Brilhante post!
Tocou no cerne da questão!

Ana Paula Fitas disse...

Caro Alexandre,
Fiz link... com votos de Boas Festas.
Um abraço.