quinta-feira, 11 de agosto de 2011
US?
Por que é que quando as famigeradas agências de notação baixam o rating de países como Portugal e a Grécia, as taxas de juro da dívida pública sobem nos mercados e quando baixam o dos EUA as taxas de juro baixam, como está a acontecer esta semana, revelando que os títulos do tesouro norte-americano continuam a ser um refúgio no meio da turbulência, a espinha dorsal dos mercados financeiros internacionais? Não será tanto porque a decisão da S&P se baseou num erro aritmético crasso, que obrigou a mudar a justificação dada, já que isto está em linha com as sórdidas práticas de agências por “desmantelar”. Na realidade, os especuladores sabem, e sabem que todos sabem e que todos sabem que eles sabem e assim sucessivamente, que os EUA se financiam numa moeda que controlam e que o serviço da dívida, dadas as garantidas baixas taxas de juro, representa 1,4% do PIB anualmente, enquanto para Portugal ou para a Grécia, duas regiões que se financiam numa moeda que não controlam, Estados sem soberania, é mais do triplo, sendo que a dívida dos EUA, em percentagem do PIB, está próxima da portuguesa, também graças à crise e ao Estado fiscal de classe.
Seja como for, dado o poder dos EUA na economia política internacional e as garantias da Reserva Federal, os seus activos continuarão a ser usados para a poupança privada que anda por aí à procura de veículos mais ou menos seguros que a transportem para um futuro por desbravar. Obama tem razão: os EUA não são a Grécia, nem Portugal, como também já defendi. Pena é que estejam a embarcar numa austeridade que até Nouriel Roubini, sempre lesto a recomendá-la para os periféricos de um euro disfuncional e peça central da crise, acha totalmente contraproducente. Hoje já somos de novo mais os que sabemos que a Europa e os EUA têm de rejeitar a economia de austeridade e que o problema é primeiramente político nos EUA e político-institucional na UE. De facto, o problema principal deste lado é que o euro não tem um verdadeiro banco central, que esteja autorizado a financiar directamente os Estados quando a situação dos mercados o exige e que tenha vontade de o fazer, associado, claro, a um “Tesouro” europeu que possa estimular as “regiões” que partilham a mesma moeda.
Enfim, se esta economia de austeridade não for rejeitada, o avião desacelera e cai, não havendo cintos que nos valham. Agora parece ser a vez da França. Mas a França também não é Portugal. A França financia-se numa moeda que não controla, é certo, mas se tiver grandes dificuldades passará a querer controlar essa moeda. Até porque o governo francês sabe que muitos cidadãos franceses, perante a austeridade, podem querer estar à altura das melhores tradições políticas deste país: 1789, 1848, 1871, 1936, 1968, 1995, 2005. Já só espero que ainda saibamos todos conjugar a primeira pessoa do plural, a que pode mudar a economia política na rua e para lá dela: nós.
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3 comentários:
Us ? quando o domínio político militar y económico repousa nos EUA
e os Europeus desunidos não parecem ser uma alternativa convincente
queriam o quê?
quanto a meter 1789 1848 e 1871
no mesco saco que episódios menores
isto são revoltas fiscais como as da 1ªFronda
haverá revoltas de funcionários de estado como as da 2ª fronda
aristocratas e estudantes
é mais um Maio de 68
logo confundir episódios
e faltou a de 1830
e outras menores 2005 revolta?
mesmo o maio de 68 só é uma revolta importante pele proximidade e pela ideologia
houve greves gerais mais mortíferas e paralisantes
«que os EUA se financiam numa moeda que controlam e que o serviço da dívida, dadas as garantidas baixas taxas de juro, representa 1,4% do PIB anualmente»
Porque é que os EUA hão-de pagar um juro pela emissão da sua própria moeda? Há alguma luminária neste blogue que o saiba explicar?
Thomas Edison: "É absurdo afirmar que o nosso país pode emitir 30 milhões em obrigações e não pode emitir 30 milhões em moeda. Ambas são promessas de pagamento; mas uma promete engordar o usurário e a outra ajuda o povo. Se a moeda emitida pelo Governo não fosse boa, então as obrigações emitidas também não prestariam. É uma situação terrível quando o Governo para aumentar a riqueza nacional tem de se endividar e submeter-se à cobrança de juros ruinosos às mãos de homens que controlam os valores fictícios do ouro."
Regular readers of comments will notice a continual stream of criticism from MMT (modern monetary theory) types, who insist that deficits are never a problem as long as you have your own currency ...
http://krugman.blogs.nytimes.com/2011/08/11/franc-thoughts-on-long-run-fi
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