A lata não tem fim: Angela Merkel disse que “os políticos não podem seguir os mercados”. Desde há mais de um ano que os políticos conservadores-liberais não têm feito outra coisa que não seja andar atrás dos mercados, seguindo e aprofundando as suas tendências auto-destrutivas, desenhando políticas de austeridade pensadas para satisfazer os seus interesses mais predadores nas periferias, concebendo dispositivos, como o fundo de estabilização, que são autênticas bombas relógio prontas a destruir o euro, sem se avançar com instrumentos de política capazes de enquadrar, disciplinar e estabilizar os mercados. A recusa obstinada em admitir a necessidade de euro-obrigações é um exemplo deste último ponto, que também custará muito caro à Alemanha, ameaçada pela recessão e pela continuada fragilidade financeira dos seus bancos.
As euro-obrigações, como aqui temos defendido, são uma condição necessária, mas não suficiente, para salvar o euro. Permitiriam resolver parte do problema do financiamento dos Estados, mas não substituem a necessidade de reestruturar uma parte da dívida, de adoptar uma política de estímulo económico com escala europeia, de mudar as regras que enquadram a acção e as prioridades do BCE ou de trabalhar no sentido da harmonização fiscal e da criação de taxas com escala europeia para financiar um orçamento europeu reforçado.
A emissão de euro-obrigações é uma proposta antiga, tributária de um diagnóstico amadurecido sobre as falhas institucionais europeias. É defendida há cerca de duas décadas pelo economista keynesiano Stuart Holland, antigo conselheiro de Delors, que integra hoje a Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e que é co-autor de uma proposta recente para começar a salvar um euro construído com base nas teorias neoliberais mais retintas.
Nesta linha, vale a pena ler o artigo que o economista Pedro Leão do ISEG, co-autor de uma útil análise sobre os desatinos da economia portuguesa no euro, escreveu no Le Monde diplomatique – edição portuguesa deste mês – “Euro-obrigações: ganhos para Portugal…e para a Alemanha”. A emissão de euro-obrigações, até 60% do PIB de cada um dos Estados, permitiria baixar o custo de financiamento, alinhando-o pelos padrões que vigoram nos EUA ou no Japão. Estaríamos perante títulos com o mais reduzido risco, transaccionados num mercado de grandes dimensões, menos propenso a lógicas especulativas desestabilizadoras, veículo seguro para as poupanças que circulam por aí, garantidos por um bloco próspero, o que geraria padrões semelhantes aos EUA de hoje: quando as coisas apertam é para estes títulos da dívida pública que os especuladores, receosos face a um futuro incerto, se voltam, fazendo descer os juros, sem que a opinião de uma agência de notação tenha aí grande peso. Acima dos 60% do PIB, cada um dos Estados europeus estaria por sua conta na emissão de dívida e seria sobre esta parte que recairiam as reestruturações necessárias nas periferias. Para quem gosta de “incentivos” disciplinadores, não me parece que se possa inventar muito melhor do que esta segmentação...
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2 comentários:
Imagino que o plafond dos 60% nas euro-obrigações seria uma forma da Alemanha se defender do contágio da especulação. O problema é que Portugal tem uma dívida pública bastante superior (da ordem do seu PIB), entrou numa trajectória de incumprimento, os mercados interiorizaram isso e fariam rebentar os juros implícitos (as yields) dos títulos do tesouro necessários para cobrir o considerável remanescente da dívida. Rapidamente se constataria que o problema continuava, porventura agravado pelo sucessivo descrédito das tentativas de conter o endividamento sem uma grande carecada.
Baixaria o custo para os devedores semi-insolventes
mas a taxa de juro não seria igual à da Alemanha seria uns pontinhos decimais (podia-se falar emm pontos base mas ninguém sabe quanto seria a diferença ...mas que existiria existiria
e é apenas uma solução temporária
tendo em conta as perdas alemãs
talvez resulte...ou talvez não
mas com gente de fé
não convém fazer tonsuras
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