Evo Morales foi reeleito presidente da Bolívia com mais de 60% dos votos, numas eleições consideradas limpas e transparentes e com uma taxa de abstenção residual. O seu Movimento ao Socialismo conquistou a maioria absoluta na duas câmaras (mais de dois terços dos representantes no senado). A melhor direita intransigente tem dificuldade em aceitar estes factos. Preferem golpes de Estado à maneira das Honduras? Continuemos. A mobilização popular em torno da aprovação de uma nova constituição democrática, que reconhece novos direitos à maioria indígena, a reforma agrária e direitos sociais, foi uma peça-chave do sucesso político de um dos elementos do eixo da esperança latino-americano. Isto para não falar do crucial controlo dos recursos naturais do país, que incluiu as indispensáveis nacionalizações.
O peso das receitas públicas cresceu o equivalente a 20% do PIB e a Bolívia tem hoje uma autonomia em matéria orçamental e cambial invejável. Nos países em vias de desenvolvimento, só assim se pode ser rebelde. O aumento do investimento público em infra-estruturas e das despesas sociais em educação e saúde, ou seja, o investimento na criação das condições para o chamado florescimento das capacidades humanas, pode desenvolver-se num momento bem oportuno. A economia boliviana registou, em média nestes quatro anos, o maior crescimento dos últimos trinta. Razão tem o economista norte-americano Mike Weisbrot para dizer que a ruptura com o chamado “Consenso de Washington” é parte indispensável do variado menu do desenvolvimento endógeno e inclusivo.
Talvez seja altura dos media passarem a olhar para Morales, e para a bem urdida aliança indígena-operária-camponesa-intelectual que alcandorou este índio e ex-sindicalista à presidência, sem as lentes de Washington e dos vários preconceitos que os media às vezes parecem partilhar com a oligarquia que o tentou derrubar pela força (da classe à etnia, há muitos racismos por onde escolher…).
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1 comentário:
Talvez seja melhor que os meios de difusão não olhem mesmo. Para não despertar os demónios anti-socialistas sempre prontos a puxar da contra-informação para combater as experiências de sucesso não engajadas à ordem dominante.
Se calhar os excessos verbais frequentes na esquerda não são o seu método mais eficaz. Nem os excessos de poder dos dirigentes que, no caso em apreço, são fortemente controlados pela população.
Verdade e humildade, isso sim, parecem ser boa receita na política como na vida.
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