terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Os economistas contra a democracia


Assistimos ontem, no Prós e Contras da RTP, a mais uma investida dos economistas do costume contra a democracia e as “dificuldades” que esta parece colocar à resolução dos problemas do país. A linguagem é evidentemente outra – fala-se, como vai sendo habitual, dos interesses das “corporações” profissionais e outros, em geral contrários a um pretenso interesse “geral” do país. Mas o que, mais ou menos sub-repticiamente, se vai percebendo no discurso é a dificuldade em lidar com os diversos movimentos sociais, com o confronto democrático de interesses contraditórios e com a actual configuração política parlamentar. Para alguns, a solução a este nível estaria num almejado bloco central, o qual, infelizmente para eles, parece não passar de uma miragem.

Um dos piores exemplos chegou-nos por uma voz do meio académico. Ouvimos que os economistas já há dez ou quinze anos (pelo menos) conhecem a raiz dos problemas e sabem como os resolver – o problema insolúvel parece estar nos tais constrangimentos do funcionamento democrático. A culpa é do “país”. Tanta sapiência e tantas certezas que estes economistas têm após os acontecimentos! Mais, será que estes senhores nunca leram Lionel Robbins, o qual, embora ao longo de uma vida se tenha esforçado para estabelecer as bases de uma economia científica, reconhecia contudo que quaisquer recomendações de política estão inevitavelmente impregnadas de valores? Não saberão que pelo menos no âmbito da economia aplicada (Robbins chamava-lhe Economia Política) os economistas não podem deixar de falar também como cidadãos (informados, é certo, mas incapazes de excluir a influência da sua própria visão do mundo, os seus valores e interesses)? Teríamos bem mais a ganhar se este exercício de honestidade intelectual fosse declarado em vez de tentarem impingir a ideia de que se trata de “verdades científicas”.

Não consegui passar do intervalo. Não há paciência para continuar a ouvir sempre os mesmos, sempre esta “elite” do país que nos deprime. E só me vem à ideia esse excelente livro de Jacques Sapir, “Os economistas contra a democracia”, uma leitura a meu ver imprescindível, de que já aqui se falou.

3 comentários:

antónio m p disse...

Eles nem estavam muito nessa mas a pressão, a insistência da Fátima Campos Ferreira era tão obsessiva que eles se sentiram obrigados. Se esperavam que ela se calasse com aquilo como se quisesse suspender a Democracia... para resolver os problemas da Democracia!... não tiveram sorte. E nós ainda menos.

Luis M. Jorge disse...

O que este post afirma não é verdadeiro. A única pessoa que se manifestou preocupada com as dificuldades da democracia foi a Fátima Campos Ferreira. Os economistas, pelo contrário, manifestaram a sua inteira confiança no regime democrático.

João Valente Aguiar disse...

Agradece-se a divulgação da seguinte iniciativa.

Cumprimentos

O Instituto de Sociologia da Faculdade de Letras da Fundação Universidade do Porto promove o Encontro “Os Horizontes do Humano”. O evento decorrerá no dia 03 de Dezembro, no Anfiteatro Nobre da Faculdade de Letras da Fundação Universidade do Porto, pelas 18h00. Neste espaço procurar-se-á discutir e debater interdisciplinarmente os contornos, os limites, as possibilidades de acção dos agentes sociais em diversas instâncias da vida humana. Assim, especialistas de diferentes áreas disciplinares, tanto das Ciências Sociais como das Ciências Naturais, serão chamados a dar contribuições para uma compreensão mais profícua das esferas múltiplas de acção social do humano.

Oradores:
Catarina Casanova (ISCSP) – primatologia
João Arriscado Nunes (CES) – nanotecnologias
André Levy (ISPA) – evolucionismo e darwinismo
Giovanni Alves (Universidade Estadual Paulista – Unesp) – trabalho e capitalismo
Carlos Vidal (FBAUL) – arte contemporânea

Comentador:
João Teixeira Lopes (DS/FLUP; ISFLUP)

Organização: João Valente Aguiar (ISFLUP)