Acho que devemos agir como se a opinião fosse a única coisa que contasse em política. Até porque os interesses dependem sempre de um quadro de ideias que os antecede. Perante a actual crise nacional e internacional, acho que devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que a opinião seja cada vez mais socialista e para que possa transformar-se numa força material pela sua inscrição em política públicas realistas, ou seja, em políticas compatíveis com o melhor conhecimento disponível.
Neste contexto, Manuel Alegre e a corrente de opinião socialista estão de parabéns. Através da sua revista (www.opiniaosocialista.org) e do livro agora lançado ("Ideias para Grandes Decisões", ed. Campo da Comunicação), que compila alguns dos artigos que aí foram publicados sobre trabalho e seus direitos, escola pública, crise e política económica alternativa e corrupção e urbanismo, contribuíram para consolidar ideias válidas: da apropriação pública das mais--valias urbanísticas à defesa e à valorização dos serviços públicos, passando pela denúncia fundamentada de um Código de Trabalho que aumenta a discricionariedade empresarial e reduz os salários ou pela defesa de um Estado-estratego dotado de instrumentos para promover o sector dos bens transaccionáveis.
Manuel Alegre defendeu recentemente que está na altura de "repor o primado da política e da solidariedade sobre os egoísmos e os grandes interesses". O combate por um socialismo que só pode ser democrático e a defesa de um patriotismo progressista e cosmopolita, ancorado numa ideia de comunidade política inclusiva, revelam uma aguda percepção de que só as ideias podem superar interesses mal orientados.
Não alardeio distanciamentos de cronista que olha para a realidade com fingida neutralidade. Participei nos vários encontros das esquerdas, de que Manuel Alegre foi um dos protagonistas. Convirjo com a ideia de que as esquerdas devem ter sempre a coragem de fazer rupturas com um passado de incomunicabilidade e de que este processo de convergência só pode ser feito na base de políticas substantivas, capazes de romper com o que o politólogo André Freire designou por "enviesamento de direita do sistema político português".
E é precisamente por isso que me atrevo a usar esta crónica para fazer um apelo a Alegre: candidate-se à Presidência da República com esta plataforma. Este cargo tem de ser ocupado por alguém com memória antifascista, experiência política e convicções firmes. Por alguém capaz de inspirar pela palavra e pela proposta: justiça poética. E isto é tudo o que falta ao actual e derrotável inquilino do Palácio de Belém...
Crónica i
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2 comentários:
A pátria chama por nós!
Palavras recentes de M. Alegre.
Isto, nem parece de um poeta, antes de um cromo!
E o BE apoia o Alegre? O Prodi cá do burgo… presidente de todos os portugueses!
E o Carvalho da Silva? Anda tudo a dormir? Se o BE e o PC não o apoiam, algo vai mal. Se duvidam da capacidade de Carvalho da Silva ir à segunda volta contra Cavaco ou Alegre e ganhar, simplesmente negam a luta política (e a hipótese de abrir um terceiro campo – os dos trabalhadores) e no fundo estão é interessados em que isto continue tudo na mesma. Ou então embarcam naquela cantiga do fantasma da direita e de quão má ela é ou pode ser… como se o PS fosse muito bom! Portanto eu acho muito bem que mais uma vez se preocupem com o “nicho eleitoral”, que apoiem o candidato do PS, ou que se suicidem politicamente. Felicidades!
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