Errado! Não está em causa a legitimidade política do Governo. O que está em causa, isso sim, é o seu paradigma das políticas públicas. Uma vez mais, recorro a Michel Crozier (p. 19):
"O que significa estratégia? ... Na sua visão organizadora do mundo, o planificador não tem inimigos, sente-se capaz de organizar tudo racionalmente e alcançar plenamente os seus objectivos escolhendo os meios adequados, para não dizer os melhores. Mas os meios, sobretudo quando são humanos, não se adaptam tão facilmente aos objectivos e acabam por bloquear - e ainda bem - a maravilhosa ordem racional. Pelo contrário, o estratega sabe, tem consciência, de que o inimigo pode reagir às suas acções. Por isso, escolhe os seus objectivos em função dos meios, quer dizer, dos recursos de que dispõe e das condicionantes da sua intervenção. Depois, com pragmatismo, procura enfraquecer as condicionantes cooperando da melhor forma com os seus recursos. Dito de outro modo, enquanto o comandante apenas vê o seu plano, o estratega apoia-se na realidade do terreno."
Pois é, no seu "ímpeto reformista", ignorando que os tempos são outros, o Governo comportou-se como um planificador central.
O mais interessante disto tudo é que, paradoxalmente, os críticos deste paradigma de políticas públicas correm o risco de serem catalogados de pró-soviéticos e anti-europeístas.
3 comentários:
Aquele hábito da retórica oficial de fazer equivaler um mandato executivo a uma carta branca governativa...
É de espantar as dificuldades de diálogo quando a cultura de poder é uma de «quero, posso e mando» por mandato popular?
Há um ditado popular que diz "Quem sabe, sabe e quem não sabe é chefe", o qual mostra bem a forma como o poder é visto em Portugal.
É, como um planificador central incompetente. Ver:
Falemos de avaliação, falemos de educação.
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