domingo, 9 de novembro de 2008

As forças da mudança

«Nunca como agora, a União está a revelar os limites da sua própria construção desde que se decidiu pelo grande alargamento. Todos os instrumentos de que dispõe rebentam pelas costuras face à dimensão mundial da crise. Um por um». Vale mesmo a pena ler esta posta de Miguel Portas no seu blogue Sem Muros. Europeísmo crítico. Uma parte da social-democracia europeia parece estar a acordar lentamente, muito lentamente, da sua longa hibernação neoliberal. Digo isto por causa desta notícia: «Os partidos socialistas europeus vão hoje apelar à cimeira de chefes de Estado ou de Governo da UE uma acção musculada contra a recessão económica através da coordenação dos investimentos públicos de maneira a maximizar os seus efeitos no interior do mercado único» (Público, 7/10/08). No entanto, basta ler o resto da notícia para se perceber que o PEC, apesar do seu descrédito generalizado, ainda parece ser sagrado por aquelas bandas. Lá se vai a acção musculada. Afinal de contas, o Comissário Europeu encarregue de o fazer cumprir é Joaquim Almunia, ex-dirigente máximo de um PSOE mais à esquerda, agora transformado no fundamentalista de serviço. O lugar define o pensamento.

No Público de ontem percebemos a tragédia de um PS em aliança com o «novo trabalhismo» britânico: «Países como o Reino Unido, República Checa ou Portugal (representado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, em substituição do primeiro-ministro) contestaram o teor da proposta de mandato para Washington [cimeira] avançada pela presidência francesa da UE, considerando-a ‘excessivamente limitadora e condicionadora do mercado’». Gordon Brown esteve muito bem na operação de salvamento dos bancos, mas multiplicam-se os sinais de que a City londrina continua a condicionar totalmente a sua actuação em matérias mais estruturais. Foram dez anos nisto. Amado é apenas um socrático de gema, ou seja, um neoliberal suave. É desta liderança «socialista» (as aspas são mesmo necessárias), posicionada à direita de Sarkozy num assunto tão importante, que devemos esperar reformas de fundo?

Definitivamente, as mudanças terão de ser «impostas» a partir de fora dos partidos socialistas europeus. Alteração da correlação de forças à esquerda. Oskar Lafontaine, ex-ministro das finanças alemão e actual presidente do Die Linke, percebeu isso muito bem quando rompeu com um SPD totalmente descaracterizado. O Financial Times, que cobre com inusitada atenção e preocupação o que ali se passa, defende, há já algum tempo, que o clima intelectual e político está a mudar na mais importante economia europeia. O partido da Esquerda não cessa de crescer. Quem ler esta entrevista a Lafontaine percebe algumas das causas das preocupações dos neoliberais inteligentes que só querem socializar a perdas do sistema financeiro e afinar a sua regulação ligeira. Lafontaine mostra como a esquerda socialista é hoje portadora de um programa para combater a crise e para realizar as reformas igualitárias com impactos sistémicos que podem inverter a desgraçada trajectória europeia. Um gráfico ajuda a visualizar a dimensão da tarefa.

15 comentários:

Filipe Melo Sousa disse...

Falta no gráfico:
- subsídios de desemprego (ou incentivos à ociosidade)
- carga fiscal (motivo pelo qual no fim, o rendimento líquido é completamente delapidado)

L. Rodrigues disse...

Se se colocasse para o mesmo periodo a variação do subsidio de desemprego, que ao contrário do que diz o comentador anterior, constitui antes um preventivo da pauperização, aposto que não interferia em nada com o que o gráfico mostra.

De igual modo, no periodo apontado a carga fiscal não deverá ter variado muito, tendo nos ultimos 20 anos sofrido uma pressão para baixo, e para esquemas menos progressivos.

Ou seja, os dados sugeridos pelo referido comentador ou são irrelevantes ou suportam o afirmado. De onde se conclui que mais valia poupar dos dedos.

Anónimo disse...

Boa tarde João,

queria pedir-lhe o favor(embora n tenha nada a ver com o post)de me indicar quando é que a teoria institucionalista apareceu e se o objectivo desta era criticar o neoliberalismo apresentando como reposta uma alternativa?

Miguel José

Filipe Melo Sousa disse...

"a variação do subsidio de desemprego, [...] não interferia em nada com o que o gráfico mostra."

Não devemos andar no mesmo mundo. É veres a quantidade de pessoas que encontram emprego justamente na altura em que acabam as prestações do subsídio de desemprego...

"a carga fiscal não deverá ter variado muito, tendo nos ultimos 20 anos"

OK ok.. vives mesmo em Marte.

L. Rodrigues disse...

Quem é que é o marciano aqui?
Os numeros são relativos à zona euro, e a um periodo de 45 anos.Dizer que quando acaba o subsidio há x que arranjam emprego, interfere exactamente népia com aquela curva, já que esse comportamento a verificar-se, foi constante.

Quanto Variação da carga fiscal, não tenho números, mas se estamos a falar da europa (EURO) com paises em que há uma assinalável variação da carga tributária, poderá mesmo afirmar que a variação da sua média influenciou de alguma forma AQUELA CURVA, e não uma cena qualquer que vc tem na cabeça?

Filipe Melo Sousa disse...

Como LR como ficamos afinal? O subsídio não interfere, ou afinal já alega que apenas não interfere porque supostamente (lol) tem sido constante nos últimos 40 anos?

É que se não lhe desfaço esta trapalhada mental, nem vale a pena entrar na discussão em como a carga fiscal (que obviamente não tem sido constante) destrói o consumo, a economia e o emprego.

L. Rodrigues disse...

Das duas uma, ou é estúpido ou mal intencionado. Inclino-me para a segunda.

Eu falei do subsidio de desemprego, primeiro enquanto facto irrelevante para estes numeros já que não terá variado muito a sua aplicação,
O filipe respondeu alegando um comportamente resultante do fim do mesmo.
Nos quarenta anos, que eu saiba, corrija-me se estou enganado, não houve paises que mantivessem subsidio de desemprego indefinido. Logo houve sempre pessoas que deixaram de receber. Uma constante.

Se isto lhe dá nós no cérebro, não me espanta, já que mostra consistentemente uma paupérrima capacidade de compreensão.

Eu faria um desenho, ou qualquer coisa com plasticina para o ajudar, mas não posso.

Filipe Melo Sousa disse...

De facto com plasticina não pode, devido ao facto de ser algo material. O papel aceita qualquer disparate. Mas terá sempre decepções a materializar o inconcebível.

Deixo-lhe um desenho:
http://workforall.net/Anglais/correlation.gif

L. Rodrigues disse...

http://economistsview.typepad.com/economistsview/2005/09/the_size_of_gov.html

"According to these data (1960-2000) the size of government as measured as a percentage of GDP has remained relatively stable over time rather than falling."

Para efeitos práticos, mais uma constante, que não ajuda a explicar as curvas.

Filipe Melo Sousa disse...

Que paraíso fiscal é este? As ilhas Caimão?

L. Rodrigues disse...

Tem a certeza de que não vive debaixo de uma ponte?

João Rodrigues disse...

Só para sublinhar os pontos de L. Rodrigues com alguns estudos que podem ser interessantes e a que já aqui fizemos referência:

Não parece haver relação entre os subsídios de desemprego e os níveis de desemprego. Ver aqui:
http://www.bepress.com/cgi/viewcontent.cgi?article=1022&context=cas

A carga fiscal sobre o capital e sobre os rendimentos mais elevados tem vindo a diminuir na UE. Ver aqui: http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2008/03/actual-unio-europeia-e-criao-de-trmitas.html

Caro Miguel José,
O chamado institucionalismo original, associado aos nomes de Commons e Veblen, desenvolveu-se nos EUA nas primeiras décadas do século XX. Antes do neoliberalismo (que podemos localizar simbolicamente na fundação da Mont Pelerin Society em 1947). Mas há vários institucionalismos hoje. Alguns com ligação à movida neoliberal. Sobre o institucionalismo em geral ver, por exemplo, o livro de introdução de G. Hogdson (Economia e Instituições, editado pela Celta), os Ensaios de Economia Impura de José Reis ou Escolhas e Instituições de José Castro Caldas. Para uma abordagem institucionalista crítica do neoliberalismo, ver este artigo de Chang: http://www.unrisd.org/80256B3C005BCCF9/(httpAuxPages)/44552A491D461D0180256B5E003CAFCC/$file/chang.pdf

Filipe Melo Sousa disse...

Bem me pareceu que iam fugir com o rabo a seringa. Apresentam tendencias a 50 anos ou a 10 anos?

Note-se que o desemprego desceu nos últimos 10.. o que reforça o meu argumento. Muito obrigado.

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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