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Lordon é assumidamente estruturalista. A cupidez não é tanto um problema individual, mas sim um problema da estrutura de incentivos que gera determinados padrões de comportamento. O autor escalpeliza a linguagem e a ideologia da finança de mercado que escondem mais do que revelam. Por exemplo, Lordon argumenta que a chamada «inovação financeira» não passa de «proliferação financeira» que só serve para gerar comissões astronómicas para os operadores e uma muito maior opacidade. Já Martin Wolf, editor do FT, havia reconhecido que «a concorrência não funciona bem na finança. Os ‘produtos’ da indústria financeira são promessas para um futuro incerto, vendidas como sonhos que se podem transformar em pesadelos».
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Temos então de regressar ao futuro: um sistema financeiro administrado com controlo público (incentivos, taxas, propriedade…) que assegure, com tranquilidade, muita tranquilidade, aquilo que os bancos devem prioritariamente assegurar: o financiamento do investimento. Sem miopias ou aventuras. Isto funcionou razoavelmente durante algumas décadas. O ponto estruturalista de Lordon sai reforçado: as crises não são defeito, são feitio de uma configuração historicamente determinada do sistema financeiro. Um dos capítulos aprofunda as pistas de reforma, de restauração, que Lordon já tinha apresentado aqui.
No entanto, Lordon não se limita à esfera financeira. Argumenta, à boa maneira da escola da regulação de Aglietta , Boyer e Chesnais, que estamos perante um novo regime de acumulação, uma totalidade sistémica, que exerce uma pressão contínua para a baixa dos salários, para o aumento da polarização social e para o sobrendividamento. Lordon descreve as relações umbilicais entre estes três elementos.
Será um bom exercício comparar o contributo de Frédéric Lordon com o de Paul Krugman. Está para sair uma reedição, com novos capítulos, do livro que Krugman publicou depois da crise asiática. A avaliar por este artigo, acho que a tropa liberal não vai gostar nada das conclusões do Prémio Nobel: «A seguir à crise asiática dos anos noventa houve alguns apelos para a imposição de restrições de longo prazo nos fluxos internacionais de capitais e não apenas restrições temporárias em tempos de crise. Na sua maioria, estes apelos foram rejeitados a favor da acumulação de reservas cambiais que deveriam evitar futuras crises. Agora parece que esta estratégia não resultou». Enfim, a história repete-se. E, no entanto, também há diferenças. «Esta é uma crise especifica e genérica», diz-nos Lordon. Quem quiser um «resumo» desta posição pode ver esta conferência. Economia para os cidadãos.
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1 comentário:
Se a história se repetisse
nas mesmas circunstancias
o BPM não teria este tratamento
em defesa do bom nome
das nacionalizações
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