Diziam que as crises eram processos de «destruição criativa», que aceleravam a selecção darwiniana dos mais aptos. Descobrimos agora que há companhias que, como o próprio Estado, são «demasiado grandes para poderem falir».
É verdade: a falência de um gigante, como a AIG ou a GM, poderia ter de facto consequências intoleráveis para todos. Mas é uma verdade que nos faz descobrir que há alguma coisa de fundamentalmente errado na forma como está organizada esta economia.
A responsabilidade limitada das companhias foi inventada e é justificada com o argumento de que para encorajar o investimento é preciso limitar o risco empresarial ao montante aplicado em acções. Com a responsabilidade limitada, a companhia – pessoa fictícia – pode perder ou ganhar no jogo de sorte e azar dos mercados, mas os ganhos ficam para os accionistas, e as perdas também, mas só até ao valor do capital que os accionistas aplicaram em acções. O resto das responsabilidades? Azar dos credores (muitas vezes os trabalhadores), sorte dos accionistas.
Agora se a companhia não puder falir a coisa muda de figura: os ganhos ficam para os accionistas e as perdas, se as companhias forem amparadas pelo Estado, podem ficar para todos nós.
Não estou com isto a sugerir que o Estado deve sempre deixar as empresas ir à falência deixando a selecção darwinista extinguir a espécie (embora em alguns casos como o do banco-privado-que-para-não-haver-dúvidas-se-chama-privado não entenda bem porque não haveria de deixar isso acontecer). O meu ponto é outro. Se há empresas privadas demasiado grandes para irem à falência, como os próprios estados, das duas uma: o problema está ou em serem demasiado grandes ou em serem privadas.
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4 comentários:
Partilho da mesma opinião. O último parágrafo conclui muito bem.
Causa-me alguma confusão que em tempo de vacas gordas, o Estado seja visto como inimigo... Mas em tempo de vacas magras, como o salvador.
Que se decidam... O Estado não pode ser bombeiro ou uma rede de segurança num economia que se diz capitalista e de mercado.
Eu cá por mim vou fundar um banco e abotoar-me com o dinheiro dos depositantes.
Depois, que venho o Estado e resolva, socializando as perdas, porque é para isso que ele existe, não é sr Pinto de Sousa de cognome "O Mentiroso".?.
Nem mais. A última frase diz tudo!Se são demasiado gdes para falir são demasiado gdes ponto. Existe tb o problema de se não podem falir a razão para serem detidos por privados sofre um grande revés!
"Que se decidam... O Estado não pode ser bombeiro ou uma rede de segurança num economia que se diz capitalista e de mercado."
A solução é simples. Deixar de ter uma economia capitalista e de mercado. Não ? Talvez porque não querem, mas não porque não se possa ...
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