Vital Moreira (VM) decidiu irritar-se e acusar-me, entre outras coisas, de falta de seriedade intelectual. Leiam o meu comentário singelo à posta de VM. E lembrem-se que VM pouco mais tem feito do que defender a extensão das reformas socioeconómicas iniciadas por Cavaco. Isto pressupõe a aceitação do essencial da sua herança.
De facto, Cavaco abriu um caminho que, infelizmente, outros se limitaram a trilhar com afinações políticas e intelectuais pontuais. Do plano inclinado das privatizações sem fim até à adesão acrítica a todas as opções da integração europeia e à sua neoliberal estrutura de constrangimentos, passando pela introdução e aumento das propinas no ensino superior, pela defesa de uma crescente separação entre financiamento e provisão na área dos serviços públicos, pelo esvaziamento do poder político democrático com a criação de mecanismos de governação ditos independentes. Juntem a isto a obsessão com o equilíbrio orçamental como fim último da política económica que só muito lentamente, demasiado lentamente, vai sendo posta em causa (Cavaco, pelo menos, era mais pragmático…). Posso continuar com os exemplos – das universidades transformadas em fundações e cada vez dependentes do «mercado» às parcerias público-privadas. Mudanças na continuidade.
Enfim, os ordoliberais designariam tudo isto por «intervenções conformes com o mercado», ou seja, com a expansão dos interesses capitalistas, cada vez mais predadores, a nova esferas da vida social. Eu chamo a isto engenharia de mercados. Está é a lógica da maioria das reformas em curso há muito tempo. Nas questões decisivas da economia política e da política económica, que determinam a distribuição de poder e de recursos, existe então um desgraçado e amplo consenso que vai da direita à ala social-liberal que domina totalmente a direcção política do PS.
Aliás, no plano partidário, as dificuldades do PSD devem-se essencialmente à apropriação activa de muita da sua agenda pela direcção do PS e pelos seus intelectuais orgânicos (este termo não é depreciativo, pelo contrário…). Quando o líder da CIP diz que o PS «faz melhor do que a direita» na área laboral, temos uma medida das dificuldades dos herdeiros partidários de Cavaco. Infelizmente, a disputa essencial tem consistido em saber quem é o melhor executante do consenso. Daí que no bloco central todos falem de «reformas». Sem mais.
Num contexto de crise e de falência absoluta destas opções políticas estruturais, será que esta convergência de fundo se traduzirá num bloco central assumido em 2009? Depende. Muito depende da arte e do engenho da esquerda socialista e da força do movimento social. A sua capacidade para mudar decisivamente a correlação das forças politicas à esquerda exige hoje clarificações políticas vitais face aos que não só desistiram totalmente das reformas socialistas como não cessam de as caricaturar. Só esta mudança pode superar o que André Freire designou, noutro contexto, por «enviesamento de direita do sistema político português».
Nota. Parabéns ao Causa Nossa pelos cinco anos.
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11 comentários:
Vital Moreira não se deve reconhecer ao espelho. Os seus textos de opinião no Público são, habitualmente, monumentos à desonestidade intelectual. A qual resulta de sua subserviência acrítica a Sócrates. Ver alguém claramente inteligente a dar piruetas para trás para agradar ao seu mestre é triste...
Para demonstrar o que afirmo basta pegar no seu último texto no Público, publicado na passada terça-feira, sobre o actual conflito na Educação.
A desonestidade intelectual começa logo no excerto de texto que se segue ao título: "Não existe razão, salvo uma ilegítima prerrogativa "histórica", para que os professores não sejam avaliados". Com isto quer evidentemente, e sabendo que tal é falso, "dar a entender" aos seus leitores que todo o conflito resulta da oposição dos professores a serem avaliados, qualquer que fosse o tipo de avaliação.
E continua... Por exemplo, a dada altura diz: "Pode a rejeição da avaliação apresentar-se sob a capa de "modelos alternativos", até aqui nunca desvendados." Querendo dar a entender que há apenas um tipo possível de avaliação, o proposto pelo governo. Quando bem sabe, ou devia saber, que pela Europa fora são utilizados muitos modelos diferentes para a avaliação dos professores. Desonestidade intelectual no seu estado mais puro: a mentira disfarçada.
Mais à fente - "Pelo contrário, o único direito que está em causa é o direito dos professores que querem ser avaliados, e que não podem ser impedidos por quem não deseja sê-lo." - aparece com a ideia peregrina, para tentar desviar a atenção do problema central, de que há por aí imensos professores que até concordam com o governo, e querem ser avaliados utilizando o modelo proposto pelo ME, mas coitados não o conseguem ser porque outros professores os impedem!... Aqui, à desonestidade intelectual junta-se algum delírio...
Todo o texto é pura propaganda ao governo, sem qualquer brio intelectual. Temo que tiques pavlovianos aprendidos na cataquese do PCP, como a lealdade ao Partido e ao Chefe acima de tudo, não tenham desaparecido de todo.
A Esquerda Socialista agradece se o PS tentar manter o confronto com os professores tal como VM defende. E será fantástico se depois em 2009, quando à sua Esquerda se concentrarem talvez perto de 30% dos votos, se coligar com o PSD. Seria simplesmente o toque de finados do PS como partido de governo. Nas eleições seguintes teria menos de 30% e nunca mais passaria daí. Pois dificilmente recuperaria os eleitores perdidos para a Esquerda.
Caro Pedro Viana,
Na minha opinião V. é que entrou em delírio completo no último parágrafo do seu post.
É meramente uma "loucura", não é ?
30% ? Em que "mundo" vive V.?
Cumprimentos.
Caro anónimo,
Não tem estado atento às sondagens à opinião pública pois não? Desde há meses que elas mostram o conjunto PCP+BE com uma intenção de voto conjunta entre 20 a 24 por cento. Não custa a crer que com o agudizar da crise económica e dos conflitos sociais, nomeadamente com os professores, mais 5% dos eleitores votem num desses partidos. Teríamos então uma votação entre 25 e 29 por cento. Perto dos 30% como mencionei. Lembro-lhe que nas eleições intercalares para a CM de Lisboa a Esquerda alternativa ao PS conseguiu chegar muito perto dos 30%.
Parece-me que não sou eu que anda iludido e noutro mundo. Mais, se Manuel Alegre der o seu apoio a qualquer outro partido de Esquerda, novo ou antigo, digo-lhe com toda a certeza que os Partidos à Esquerda do PS atingem os 30% de votos.
Caro Pedro Viana,
Ao contrário do que sugere (para diminuir o valor dos argumentos contrários aos seus?)... tenho estado atento às sondagens, a todas as sondagens (NB e não só aquelas que nos dão mais jeito), e nomeadamente às do ínicio deste mês de Novembro...
De qualquer modo...resta aguardar mais uns dias pelas do próximo mês...
Resta descodificar-lhe o "conteúdo" do meu post que V. não percebeu ou não quer perceber:
V. confunde o seu desejo (wishfull thinking) com análise política.
Cumprimentos.
Estou perfeitamente de acordo com o pedro viana.
A análise que faz da postura e posições de VM é mais do que correcta, é correctissima. Até um cego vê isso, só o anónimo de 23/11 não quer ver. Se calhar este anónimo é o próprio VM ou então alguém do P.S(D) a defender o fulano que os defende a qualquer preço( se calhar em paga de algum favorzito.!?).Confesse lá ó VM.!
Anónimo, não vejo qual é o problema. É claro que o último parágrafo se refere a uma previsão. E segundo ainda sei, as previsões - embora possam estar erradas - fazem parte de qualquer análise política.
Acusar o pedro viana de wishfull thinking sería o mesmo que acusar quem faz as sondagens do mesmo, o que não faz sentido. Se reparar na linguagem utilizada pelo pedro no último parágrafo, a palavra "talvez" refere a subjectividade da análise que lhe é relacionada.
A verdade é que é o anónimo que questiona a seriedade intelectual do pedro sem qualquer outra justificação. Porquê ? Só porque é ? A isso chama-se atitude contrária.
Para a próxima, tente - pelo menos - contestar os argumentos sobre as sondagem em vez de só apontar o dedo ...
Anónimo de ontem às 13:13,
V. é um CANALHA ao fazer a insinuação que faz.
(Podia também fazer a canalhice de insinuar que V. é o Pedro Viana, mas isso tornava-me igual a si...também UM CANALHA).
Os administradores sabem qual o meu IP...para todos os efeitos.
croky,
1. Os "professores" Karamba e Bambo também fazem previsões - baseados em métodos não ciêntificos - mas previsões e não lhes faltam clientes...
2. Se V. soubesse o significado/aplicação do conceito "wishfull thinking" certamente não escreveria o que escreveu...
3. Não questiono nem questionei a seriedade intelectual do Pedro Viana, pois limitei-me a discordar da opinião dele expressa no último parágrafo do seu post/comentário.
4. "argumentos sobre sondagens" ?!
"contestar argumentos sobre sondagens" ?!
Queria dizer, certamente, interpretar sondagens, não ?
Ou quer que eu conteste as "fichas técnicas" ?
Que tal começar por ler o blog Margens de Erro se quizer aprender algo sobre sondagens e onde se fala também boa literatura sobre o tema...
"2. Se V. soubesse o significado/aplicação do conceito "wishfull thinking" certamente não escreveria o que escreveu...
3. Não questiono nem questionei a seriedade intelectual do Pedro Viana, pois limitei-me a discordar da opinião dele expressa no último parágrafo do seu post/comentário."
Meu caro, podemos considerar que "argumentar" com base em wishful thinking é falta de seriedade intelectual porque o discurso é inerentemente falacioso. Portanto, se você o acusa disso, também o acusa de falta de seriedade intelectual.
Isto para o seu ponto 3.
Em relação ao ponto 2. Parece que encontrou há pouco tempo a definição de vários termos interessantes. Parabéns !
Mas pense você no conceito. Se as sondagens são realmente evidência - na generalidade - do comportamento social em relação às intenções de voto, então definir a ideia do pedro como "wishfull thinking" deixa de fazer muito sentido. Por muitas voltas que dê ao argumento do pedro, ele não passa de uma análise pessoal de evidências estatísticas. Apresenta um cenário que é possível e provável. Você é que parece não querer aceitar esta ideia porque acredita que ela não é possível.
Creio que tenha uma ideia diferente então. Mas por que é que a sua análise, feita também com base em evidências estatísticas, é mais evidente que a do pedro ? Whisful thinking ? Acho que não ...
Além disso, e fazendo um aparte, esta frase:
"Em que "mundo" vive V.?"
É um ataque à pessoa. Retire daí também as sua conclusões da sua seriedade intelectual em relação ao argumento que apresenta.
"4. "argumentos sobre sondagens" ?!
"contestar argumentos sobre sondagens" ?!
Queria dizer, certamente, interpretar sondagens, não ?"
Não. Queria dizer argumentos baseados em sondagens. É claro que para isso é preciso interpreta-las primeiro.
croky,
Apreciei o seu esforço em tentar justificar o injustificável.
Mas como V. escreve..."...podemos considerar..." sempre os factos e os não factos.
Pode !
Então não pode ?
Quem o impede ?!
Mas, confesso-lhe, que para essa "música"...e esse tipo de "peditório" já dei tudo o que podia (e foi muito)...e tenho mais em que pensar e fazer.
De qualquer modo recomendo-lhe vivamente que releia o que eu e V. escrevemos nestes comentários...
Passe bem (ad hominem, lol lol).
Ah ... retórica e da mais falhada. Próprio de quem não pretende contra-argumentar.
Pense , faça !
Croky,
Como era de esperar FOI QUE NEM GINJAS...ou...CTCM (cada tiro cada melro).
" pedro viana disse...
Deixem-me sonhar com um amplo movimento de Esquerda que proponha Carvalho da Silva para primeiro-ministro, Manuel Alegre para Presidente da Républica, e tenha o apoio explícito do BE (seria pedir demais que o PCP também se juntasse?... afinal vivemos tempos extraordinários, que pedem visão de futuro). Será possível? Quão longe poderia chegar?...
27 de Novembro de 2008 18:05"
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